10 de abril de 2016

A “Prova ontológica” da Presença e Ausência

A ausência é um tempo de afastar-se do mundo, seja o mundo, as contingências da existência, que só faz sentido na subjetividade de um ser se representar, ou uma mudança de direção em relação a si próprio, ou seja, sua viagem interior. É o aparar arestas, rever conceitos, práticas, caminhos, olhar as mesmas paisagens com “outro olhar”, com novas cores, novos ângulos, olhar novas paisagens, ouvir novos sons, novos perfumes, sentir as lembranças, as paisagens, o som, o perfume que o vento traz.  A ausência nos estrutura para o novo, pois só aumenta aquilo que é possível diminuir, e só diminui o que é possível aumentar. São novos movimentos de aprendizados. Ausenta-se é tornar-se presença silenciosa, que se movimenta como ondas sonoras em que o som emitido de cada palavra e do silêncio possui o balanço próprio da vida, com seus diversos tons.

Assim nossa consciência da ausência é a consciência do “perder-se” “ser consciência de alguma coisa é estar diante de uma presença concreta e plena que não é consciência. Sem dúvida pode-se ter consciência de uma ausência. Mas essa ausência aparece necessariamente sobre um fundo de presença” (Sartre, 1943 p.33). Ausência e presença se implicam por suas contingências. Pois a ausência é a presença em outro tempo e lugar. Esse estado subjetivo requer um estado de modalidade e distancia semelhante às tonalidades da notação musical, em que por diferentes que sejam as escalas, os intervalos entre uma nota e outra e a forma, com a qual é interpretado o que é revelado é a subjetividade da presença e ausência. Essa “prova ontológica”, é necessária a existência do Ser. Se a ausência e a presença são suaves como o intervalo que modula as notas de uma canção, onde cada aparição remete a outra, mas cada uma já é, por si mesmo, transcendente, “não matéria impressionável subjetiva – uma plenitude de ser, e não falta – uma presença, e não ausência”. Então para existir é preciso ausentar-se, seguir a direção do vento, que é a direção do caminho, do destino. Há, então, que remeter a falta estruturante no sentido da descoberta da própria essência. A vida é uma continuidade transcendente. A ausência e a presença que manifestam o existente “não são interiores nem exteriores: equivalem entre si, remetem todas as outras aparições e nenhuma é privilegiada”. Escapar a temporalidade é tornar os tesouros ocultos do passado e o próprio passado atual, com novos significados e usufruir dos tesouros como não pertencendo a uma única dimensão de tempo. Assim podemos pensar no fenômeno, no que aparenta por sua presença-ausência e a “dualidade de potência” é o que constitui a essência a ser aprimorada. Dualidade essa que por constituir a essência compõe um movimento dialético do “ir e vir”. Essa forma circular que compõe todas as coisas, constitutiva do Ser, é uma lei do universo em seu movimento de aumento e diminuição. Ao pensar a presença e ausência como fenômeno, temos que pensar em um mundo inteligível “real” das ideias, em objetos da intuição vinculados a limitação da sensibilidade e tornar possível como resposta a interrogação de Kant sobre a possibilidade de existir a soma total de um mundo inteligível, como sendo o inconsciente. Assim nos movimentamos no inteligível, na esperança de no futuro longe, ser possível acessá-lo em sua completude, pois na presença-ausência, na lembrança-esquecimento está o movimento de autoconhecimento tão necessário ao equilíbrio das forças internas.