A ausência
é um tempo de afastar-se do mundo, seja o mundo, as contingências da
existência, que só faz sentido na subjetividade de um ser se representar, ou
uma mudança de direção em relação a si próprio, ou seja, sua viagem interior. É
o aparar arestas, rever conceitos, práticas, caminhos, olhar as mesmas
paisagens com “outro olhar”, com novas cores, novos ângulos, olhar novas
paisagens, ouvir novos sons, novos perfumes, sentir as lembranças, as
paisagens, o som, o perfume que o vento traz. A ausência nos estrutura
para o novo, pois só aumenta aquilo que é possível diminuir, e só diminui o que
é possível aumentar. São novos movimentos de aprendizados. Ausenta-se é
tornar-se presença silenciosa, que se movimenta como ondas sonoras em que o som
emitido de cada palavra e do silêncio possui o balanço próprio da vida, com
seus diversos tons.
Assim
nossa consciência da ausência é a consciência do “perder-se” “ser
consciência de alguma coisa é estar diante de uma presença concreta e plena que
não é consciência. Sem dúvida pode-se ter consciência de uma ausência. Mas essa
ausência aparece necessariamente sobre um fundo de presença” (Sartre, 1943
p.33). Ausência e presença se implicam por suas contingências. Pois a
ausência é a presença em outro tempo e lugar. Esse estado subjetivo requer um
estado de modalidade e distancia semelhante às tonalidades da notação musical,
em que por diferentes que sejam as escalas, os intervalos entre uma nota e
outra e a forma, com a qual é interpretado o que é revelado é a subjetividade
da presença e ausência. Essa “prova ontológica”, é necessária a existência do
Ser. Se a ausência e a presença são suaves como o intervalo que modula as notas
de uma canção, onde cada aparição remete a outra, mas cada uma já é, por si
mesmo, transcendente, “não matéria impressionável subjetiva – uma
plenitude de ser, e não falta – uma presença, e não ausência”. Então
para existir é preciso ausentar-se, seguir a direção do vento, que é a direção
do caminho, do destino. Há, então, que remeter a falta estruturante no sentido
da descoberta da própria essência. A vida é uma continuidade transcendente. A
ausência e a presença que manifestam o existente “não são interiores
nem exteriores: equivalem entre si, remetem todas as outras aparições e nenhuma
é privilegiada”. Escapar a temporalidade é tornar os tesouros ocultos
do passado e o próprio passado atual, com novos significados e usufruir dos
tesouros como não pertencendo a uma única dimensão de tempo. Assim podemos
pensar no fenômeno, no que aparenta por sua presença-ausência e a “dualidade de
potência” é o que constitui a essência a ser aprimorada. Dualidade essa que por
constituir a essência compõe um movimento dialético do “ir e vir”. Essa forma
circular que compõe todas as coisas, constitutiva do Ser, é uma lei do universo
em seu movimento de aumento e diminuição. Ao pensar a presença e ausência como
fenômeno, temos que pensar em um mundo inteligível “real” das ideias, em
objetos da intuição vinculados a limitação da sensibilidade e tornar possível
como resposta a interrogação de Kant sobre a possibilidade de existir a soma
total de um mundo inteligível, como sendo o inconsciente. Assim nos movimentamos
no inteligível, na esperança de no futuro longe, ser possível acessá-lo em sua
completude, pois na presença-ausência, na lembrança-esquecimento está o
movimento de autoconhecimento tão necessário ao equilíbrio das forças internas.