…Preciso
contar-lhe um sonho interessante que tive na noite após os funerais. Eu me
encontrava num local público e li um aviso que havia lá:
Pede-se
que você feche os olhos.
Imediatamente
reconheci o local como sendo o salão de barbearia a que vou diariamente. No dia
do sepultamento, tive de me demorar ali, esperando minha vez, e por isso
cheguei à casa funerária um tanto atrasado. Na ocasião, meus familiares estavam
aborrecidos comigo porque eu providenciara para que o funeral fosse modesto e
simples, com o que depois concordaram, achando isso bastante acertado. Também
interpretaram um pouco mal o meu atraso. A frase no quadro de avisos tem um
duplo sentido, e em ambos os sentidos significa: “deve-se cumprir a obrigação
para com os mortos”. (Uma desculpa, como se eu não a tivesse cumprido e como se
minha conduta precisasse ser tolerada, e a obrigação, assumida literalmente.)
Assim, o sonho é uma saída para a tendência à autocensura, que costuma estar
presente entre os sobreviventes.
S. Freud,
2 de novembro de 1896
Nesse momento
de reflexão sobre totem e tabu, vemos no percurso de Freud, em seus
sonhos, impulso de sua autoanálise, que o tabu sobrevive não só em nosso
dia a dia, mas transpõe a vigília para o sonho. Na sequencia vamos percorrer o
enigma da sobrevivência do tabu ao longo da trajetória humana, levando-nos a supor que um traço permanece no
inconsciente, como uma lembrança que será recordada e até certo ponto repetida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário