3 de novembro de 2013

Tabu e a CARTA 50

…Preciso contar-lhe um sonho interessante que tive na noite após os funerais. Eu me encontrava num local público e li um aviso que havia lá:
Pede-se que você feche os olhos.
Imediatamente reconheci o local como sendo o salão de barbearia a que vou diariamente. No dia do sepultamento, tive de me demorar ali, esperando minha vez, e por isso cheguei à casa funerária um tanto atrasado. Na ocasião, meus familiares estavam aborrecidos comigo porque eu providenciara para que o funeral fosse modesto e simples, com o que depois concordaram, achando isso bastante acertado. Também interpretaram um pouco mal o meu atraso. A frase no quadro de avisos tem um duplo sentido, e em ambos os sentidos significa: “deve-se cumprir a obrigação para com os mortos”. (Uma desculpa, como se eu não a tivesse cumprido e como se minha conduta precisasse ser tolerada, e a obrigação, assumida literalmente.) Assim, o sonho é uma saída para a tendência à autocensura, que costuma estar presente entre os sobreviventes. 
S. Freud, 2 de novembro de 1896

Nesse momento de reflexão sobre totem e tabu, vemos no percurso de Freud, em seus sonhos, impulso de sua autoanálise, que o tabu sobrevive não só em nosso dia a dia, mas transpõe a vigília para o sonho. Na sequencia vamos percorrer o enigma da sobrevivência do tabu ao longo da trajetória humana, levando-nos  a supor que um traço permanece no inconsciente, como uma lembrança que será recordada e até certo ponto repetida.

Nenhum comentário: