Porque não
se “ama o próximo como a si mesmo”
Nesses
tempos de tantas guerras, principalmente a violência que envolve Gaza e Israel,
a pergunta do porque a guerra continua como um som que ecoa na história da
humanidade. Somos ainda seres primitivos, precisamos da guerra para conquistar
territórios, poder, hegemonia seja do que for. Mas a guerra possui também um
componente econômico-político: é uma indústria de venda de armamentos, de
obtenção de riqueza, de construção de nova arquitetura cultural, redefinição da
hegemonia, de distribuição da riqueza entre os mais ricos, de teste das armas
biológicas, da extinção ou hegemonia de raças, religiões, da população civil.
Quando se fala de uma religião ou de uma raça como nação, que fica para o
“resto” da humanidade? O que existe de humanidade em nós? Em 1931 Freud e
Einstein redigiram uma correspondência acerca da guerra. A guerra sempre gera reflexões
pela brutalidade, selvageria e as vida que ceifam. Enquanto o ódio for um
combustível que alimenta os instintos mais primitivos do homem, não haverá paz.
Na carta de Einstein-Freud muitas são as interrogações.
Recortes
da carta de Einstein
“Existe
alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de guerra?,,, não obstante,
apesar de todo o empenho demonstrado, todas as tentativas de solucioná-lo
terminaram em lamentável fracasso”.
“O
insucesso, malgrado sua evidente sinceridade, de todos os esforços, durante a
última década, no sentido de alcançar essa meta, não deixa lugar à dúvida de
que estão em jogo fatores psicológicos de peso que paralisam tais esforços.
Alguns desses fatores são mais fáceis de detectar. O intenso desejo de poder,
que caracteriza a classe governante em cada nação, é hostil a qualquer
limitação de sua soberania nacional. Essa fome de poder político está
acostumada a medrar nas atividades, de um outro grupo, cujas aspirações são de
caráter econômico, puramente mercenário. Refiro-me especialmente a esse grupo
reduzido, porém decidido, existente em cada nação, composto de indivíduos que,
indiferentes às condições e aos controles sociais, consideram a guerra, a
fabricação e venda de armas simplesmente como uma oportunidade de expandir seus
interesses pessoais e ampliar a sua autoridade pessoal”.
“como é
possível a essa pequena súcia dobrar a vontade da maioria, que se resigna a
perder e a sofrer com uma situação de guerra, a serviço da ambição de poucos?
(Ao falar em maioria, não excluo os soldados, de todas as graduações, que
escolheram a guerra como profissão, na crença de que estejam servindo à defesa
dos mais altos interesses de sua raça e de que o ataque seja, muitas vezes, o
melhor meio de defesa.) Parece que uma resposta óbvia a essa pergunta seria que
a minoria, a classe dominante atual, possui as escolas, a imprensa e,
geralmente, também a Igreja, sob seu poderio. Isto possibilita organizar e
dominar as emoções das massas e torná-las instrumento da mesma minoria”.
“como
esses mecanismos conseguem tão bem despertar nos homens um entusiasmo
extremado, a ponto de estes sacrificarem suas vidas? Pode haver apenas uma
resposta. É porque o homem encerra dentro de si um desejo de ódio e destruição.
Em tempos normais, essa paixão existe em estado latente, emerge apenas em
circunstâncias anormais; é, contudo, relativamente fácil despertá-la e elevá-la
à potência de psicose coletiva”.
“É
possível controlar a evolução da mente do homem, de modo a torná-lo à prova das
psicoses do ódio e da destrutividade?”
“Estou,
porém, bem consciente de que o instinto agressivo opera sob outras formas e em
outras circunstâncias. (Penso nas guerras civis, por exemplo, devidas à
intolerância religiosa, em tempos precedentes, hoje em dia, contudo, devidas a
fatores sociais; ademais, também nas perseguições a minorias raciais”.
Recortes
da carta de Freud
“O senhor
apanhou-me de surpresa, no entanto, ao perguntar o que pode ser feito para
proteger a humanidade da maldição da guerra”.
“O senhor
começou com a relação entre o direito e o poder. Não se pode duvidar de que
seja este o ponto de partida correto de nossa investigação. Mas, permita-me
substituir a palavra ‘poder’ pela palavra mais nua e crua violência’?
Atualmente, direito e violência se nos afiguram como antíteses. No entanto, é
fácil mostrar que uma se desenvolveu da outra”
“É, pois,
um princípio geral que os conflitos de interesses entre os homens são
resolvidos pelo uso da violência. É isto o que se passa em todo o reino animal,
do qual o homem não tem motivo por que se excluir”.
“No
início, numa pequena horda humana, era a superioridade da força muscular que
decidia quem tinha a posse das coisas ou quem fazia prevalecer sua vontade. A
força muscular logo foi suplementada e substituída pelo uso de instrumentos: o
vencedor era aquele que tinha as melhores armas ou aquele que tinha a maior
habilidade no seu manejo. A partir do momento em que as armas foram
introduzidas, a superioridade intelectual já começou a substituir a força muscular
bruta; mas o objetivo final da luta permanecia o mesmo — uma ou outra facção
tinha de ser compelida a abandonar suas pretensões ou suas objeções, por causa
do dano que lhe havia sido infligido e pelo desmantelamento de sua força.
Conseguia-se esse objetivo de modo mais completo se a violência do vencedor
eliminasse para sempre o adversário, ou seja, se o matasse”.
“À
intenção de matar opor-se-ia a reflexão de que o inimigo podia ser utilizado na
realização de serviços úteis, se fosse deixado vivo e num estado de
intimidação. Nesse caso, a violência do vencedor contentava-se com subjugar, em
vez de matar, o vencido. Foi este o início da ideia de poupar a vida de um
inimigo, mas a partir daí o vencedor teve de contar com a oculta sede de
vingança do adversário vencido e sacrificou uma parte de sua própria segurança”.
”Esta foi,
por conseguinte, a situação inicial dos fatos: a dominação por parte de
qualquer um que tivesse poder maior — a dominação pela violência bruta ou pela
violência apoiada no intelecto. Como sabemos, esse regime foi modificado no
transcurso da evolução. Havia um caminho que se estendia da violência ao
direito ou à lei. Que caminho era este? Penso ter sido apenas um: o caminho que
levava ao reconhecimento do fato de que à força superior de um único indivíduo,
podia-se contrapor a união de diversos indivíduos fracos. ‘L’union fait la
force.’”
“Vemos,
assim, que a lei é a força de uma comunidade. Ainda é violência, pronta a se
voltar contra qualquer indivíduo que se lhe oponha; funciona pelos mesmos
métodos e persegue os mesmos objetivos. A única diferença real reside no fato
de que aquilo que prevalece não é mais a violência de um indivíduo, mas a
violência da comunidade... A união da maioria devia ser estável e duradoura...
e o jogo se repetiria ad infinitum”.
“Acredito
que, com isso, já tenhamos todos os elementos essenciais: a violência
suplantada pela transferência do poder a uma unidade maior, que se mantém unida
por laços emocionais entre os seus membros”.
“Na
realidade, a situação complica-se pelo fato de que, desde os seus primórdios, a
comunidade abrange elementos de força desigual — homens e mulheres, pais e
filhos — e logo, como consequência da guerra e da conquista, também passa a
incluir vencedores e vencidos, que se transformam em senhores e escravos. A
justiça da comunidade então passa a exprimir graus desiguais de poder nela
vigentes. As leis são feitas por e para os membros governantes e deixa pouco
espaço para os direitos daqueles que se encontram em estado de sujeição”.
“Primeiramente,
são feitas, por certos detentores do poder, tentativas, no sentido de se
colocarem acima das proibições que se aplicam a todos — isto é, procuram
escapar do domínio pela lei para o domínio pela violência. Em segundo lugar, os
membros oprimidos do grupo fazem constantes esforços para obter mais poder e
ver reconhecidas na lei algumas modificações efetuadas nesse sentido — isto é,
fazem pressão para passar da justiça desigual para a justiça igual para todos”.
“o direito
pode gradualmente adaptar-se à nova distribuição do poder; ou, como sucede com
maior frequência, a classe dominante se recusa a admitir a mudança e a rebelião
e a guerra civil se seguem, com uma suspensão temporária da lei e com novas
tentativas de solução mediante a violência, terminando pelo estabelecimento de
um novo sistema de leis. Ainda há uma terceira fonte da qual podem surgir
modificações da lei, e que invariavelmente se exprime por meios pacíficos:
consiste na transformação cultural dos membros da comunidade. Isto, porém,
propriamente faz parte de uma outra correlação e deve ser considerado
posteriormente”.
“um rápido
olhar pela história da raça humana revela uma série infindável de conflitos
entre uma comunidade e outra, ou diversas outras, entre unidades maiores e
menores — entre cidades, províncias, raças, nações, impérios —, que quase
sempre se formaram pela força das armas. Guerras dessa espécie terminam ou pelo
saque ou pelo completo aniquilamento e conquista de uma das partes”.
“um
poderoso governo central torna impossíveis outras guerras. Contudo, ela falha
quanto a esse propósito, pois os resultados da conquista são geralmente de
curta duração: as unidades recentemente criadas esfacelam-se novamente, no mais
das vezes devido a uma falta de coesão entre as partes que foram unidas pela
violência”.
“O
resultado de todos esses esforços bélicos consistiu, assim, apenas em a raça
humana haver trocado as numerosas e realmente infindáveis guerras menores por
guerras em grande escala, que são raras, contudo muito mais destrutivas”.
“A Liga
das Nações é destinada a ser uma instância dessa espécie, mas a segunda
condição não foi preenchida: a Liga das Nações não possui poder próprio, e só
pode adquiri-lo se os membros da nova união, os diferentes estados, se
dispuserem a cedê-lo”.
“Por
exemplo, a ideia do pan-helenismo, o sentido de ser superior aos bárbaros de
além-fronteiras — ideia que foi expressa com tanto vigor no conselho
anfictiônico, nos oráculos e nos jogos —, foi forte a ponto de mitigar os
costumes guerreiros entre os gregos, embora, é claro, não suficientemente forte
para evitar dissensões bélicas entre as diferentes partes da nação grega, ou
mesmo para impedir uma cidade ou confederação de cidades de se aliar com o inimigo
persa, a fim de obter vantagem contra algum rival. A identidade de sentimentos
entre os cristãos, embora fosse poderosa, não conseguiu, à época do
Renascimento, impedir os Estados Cristãos, tanto os grandes como os pequenos,
de buscar o auxílio do sultão em suas guerras de uns contra os outros”.
“Estaremos
fazendo um cálculo errado se desprezarmos o fato de que a lei, originalmente,
era força bruta e que, mesmo hoje, não pode prescindir do apoio da violência”.
“O senhor
expressa surpresa ante o fato de ser tão fácil inflamar nos homens o entusiasmo
pela guerra, e insere a suspeita, ver em[[1]], de que neles exige em atividade
alguma coisa — um instinto de ódio e de destruição — que coopera com os
esforços dos mercadores da guerra. Também nisto apenas posso exprimir meu
inteiro acordo. Acreditamos na existência de um instinto dessa natureza, e
durante os últimos anos temo-nos ocupado realmente em estudar suas
manifestações”.
“os
instintos humanos são de apenas dois tipos: aqueles que tendem a preservar e a
unir — que denominamos ‘eróticos’, exatamente no mesmo sentido em que Platão
usa a palavra ‘Eros’ em seu Symposium, ou ‘sexuais’, com uma deliberada
ampliação da concepção popular de ‘sexualidade’ —; e aqueles que tendem a
destruir e matar, os quais agrupamos como instinto agressivo ou destrutivo.
Como o senhor vê, isto não é senão uma formulação teórica da universalmente
conhecida oposição entre amor e ódio, que talvez possa ter alguma relação
básica com a polaridade entre atração e repulsão,”
“Entre
eles está certamente o desejo da agressão e destruição: as incontáveis
crueldades que encontramos na história e em nossa vida de todos os dias atestam
a sua existência e a sua força. A satisfação desses impulsos destrutivos
naturalmente é facilitada por sua mistura com outros motivos de natureza
erótica e idealista. Quando lemos sobre as atrocidades do passado, amiúde é
como se os motivos idealistas servissem apenas de excusa para os desejos
destrutivos; e, às vezes — por exemplo, no caso das crueldades da Inquisição —
é como se os motivos idealistas tivessem assomado a um primeiro plano na
consciência, enquanto os destrutivos lhes emprestassem um reforço inconsciente.
Ambos podem ser verdadeiros”.
“O
instinto de morte torna-se instinto destrutivo quando, com o auxílio de órgãos
especiais, é dirigido para fora, para objetos. O organismo preserva sua própria
vida, por assim dizer, destruindo uma vida alheia. Uma parte do instinto de
morte, contudo, continua atuante dentro do organismo, e temos procurado atribuir
numerosos fenômenos normais e patológicos a essa internalização do instinto de
destruição”.
“Nossa
teoria mitológica dos instintos facilita-nos encontrar a fórmula para métodos
indiretos de combater a guerra. Se o desejo de aderir à guerra é um efeito do
instinto destrutivo, a recomendação mais evidente será contrapor-lhe o seu
antagonista, Eros... Em primeiro lugar, podem ser relações semelhantes àquelas
relativas a um objeto amado,... ‘Ama a teu próximo como a ti mesmo.’ Tudo o que
leva os homens a compartilhar de interesses importantes produz essa comunhão de
sentimento, essas identificações. E a estrutura da sociedade humana se baseia
nelas, em grande escala”.
“A
situação ideal, naturalmente, seria a comunidade humana que tivesse subordinado
sua vida instintual ao domínio da razão. Nada mais poderia unir os homens de
forma tão completa e firme, ainda que entre eles não houvesse vínculos
emocionais”.
“Por que o
senhor, eu e tantas outras pessoas nos revoltamos tão violentamente contra a
guerra? Por que não a aceitamos como mais uma das muitas calamidades da vida?”
“A
resposta à minha pergunta será a de que reagimos à guerra dessa maneira, porque
toda pessoa tem o direito à sua própria vida, porque a guerra põe um término a
vidas plenas de esperanças, porque conduz os homens individualmente a situações
humilhantes, porque os compele, contra a sua vontade, a matar outros homens e
porque destrói objetos materiais preciosos, produzidos pelo trabalho da
humanidade... Tudo isso é verdadeiro, e tão incontestavelmente verdadeiro, que
não se pode senão sentir perplexidade ante o fato de a guerra ainda não ter
sido unanimemente repudiada”.
“Penso que
a principal razão por que nos rebelamos contra a guerra é que não podemos fazer
outra coisa. Somos pacifistas porque somos obrigados a sê-lo, por motivos
orgânicos, básicos... Durante períodos de tempo incalculáveis, a humanidade tem
passado por um processo de evolução
cultural. (Sei que alguns
preferem empregar o termo ‘civilização’). É a esse processo que devemos o
melhor daquilo em que nos tornamos, bem como uma boa parte daquilo de que
padecemos”.
“mas ainda
não nos familiarizamos com a ideia de que a evolução da civilização é um
processo orgânico dessa ordem. As modificações psíquicas que acompanham o
processo de civilização são notórias e inequívocas. Consistem num progressivo
deslocamento dos fins instintuais e numa limitação imposta aos impulsos
instintuais. Sensações que para os nossos ancestrais eram agradáveis,
tornaram-se indiferentes ou até mesmo intoleráveis para nós; há motivos
orgânicos para as modificações em nossos ideais éticos e estéticos. Dentre as
características psicológicas da civilização, duas aparecem como as mais
importantes: o fortalecimento do intelecto, que está começando a governar a
vida instintual, e a internalização dos impulsos agressivos com todas as suas
consequentes vantagens e perigos”.
“E quanto
tempo teremos de esperar até que o restante da humanidade também se torne
pacifista? tudo o que estimula o crescimento da civilização trabalha
simultaneamente contra a guerra”.
As
interrogações de Einstein e Freud no início do século passado por ocasião das
duas grandes guerras “existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de
guerra?”, continua instigando perguntas, hipóteses, interpretações, análises.
Sem o desejo de poder é possível que essas não existissem. A fome de poder é
capaz de criar todas as fomes no planeta, pois mobiliza para além de um mercado
de armas, um mercado diverso de controle cultural das vidas humanas. Se o
desejo de poder remete a um desejo de poder fálico porque os instintos mais
primários do homem, continuam com sua demanda brutalizada. Em uma
economia globalizada, onde se detém o controle de todas as instituições, a
guerra é um produto, que se vende a custa de vidas humanas, uma profissão que
se exerce ceifando vidas. Em um desejo brutalizado a pulsão condutora é o ódio, “fácil despertá-la e elevá-la à
potência de psicose coletiva”. Por
certo que só a evolução psíquica do homem, pode levá-lo a sublimar seus
instintos primitivos. As guerras sejam sob quais formatos forem: políticas,
econômicas, religiosas, raciais, estarão potencializadas pelo ódio, pelo
desprezo aos direitos humanos. Como a violência do vencedor, não elimina o
adversário, e vencedor e vencido não superam seus ódios ou este é a pulsão, que
os domina, haverá sempre uma continuidade de violência e ódios. Há que
refletirmos sobre o esvaziamento do ódio e a construção de laços emocionais
potencializadores de perdão e respeito. Direito e lei deve ser
subjetivado para que seja solidificado culturalmente. Muito se falou e se fala
de uma terceira guerra mundial, mas o que vemos como constituinte da sociedade
atual são infindáveis guerras localizadas, em sua maioria comandadas por grupos
rivais, sejam político-econômicos, tribais, religiosos, milícias urbanas. Se a
destrutividade é maior ou igual a uma guerra em escala mundial fica a questão.
Quando lutamos por um tempo, uma sociedade de paz, lutamos para que os
instintos de preservação, união, perdão e amor vençam os instintos agressivos e
desagregadores do ódio, lutamos para que preservemos a própria vida, sem
destruir outras vidas, sejam elas em quais formas se expressam e que a morte,
quando por certo vier, seja parte do ciclo natural de renascimento da vida.
Freud acreditava que “a
situação ideal, naturalmente, seria a comunidade humana que tivesse subordinado
sua vida instintual ao domínio da razão. Nada mais poderia unir os homens de
forma tão completa e firme, ainda que entre eles não houvesse vínculos
emocionais”. Mas não sabemos
se a razão por si é suficiente para uma sociedade de paz, pois como Kant,
sonhamos com algo mais, entre a terra e o céu estrelado. A evolução do homem e
da civilização nos atesta o desejo de sonharmos com um mundo de ideais éticos,
estéticos, um mundo onde se “ame o próximo como a si mesmo”.
Referência
FREUD,
S. – POR QUE A GUERRA? (EINSTEIN E FREUD) (1933 [1932]), Obras Completas de Psicanálise -
volume XXII. Rio de Janeiro, Imago - 1996.