8 de agosto de 2014

Anotações: Psicanálise e o “Transtorno Bipolar”

As estruturas clínicas estudadas pela psicanálise e que norteiam a clínica psicanalítica diz respeito a Neurose Histérica (Os sintomas fazem a conversão no corpo), Neurose Obsessiva (Os sintomas revelam-se em um processo de repetição intrincado, que o DSM-IV irá definir como TOC), as Psicoses - Maníaco- depressiva, esquizofrenia e paranoia – (Os sintomas revelarão um afastamento da realidade, os delírios, alucinações) e Perversão (Os sintomas irão revelar um prazer sádico). A “escolha” da estrutura clínica continua como objeto de pesquisa,  embora o desenvolvimento das fases e a formação do recalque e do superego sejam potencializadores.
Essas estruturas são compreendidas como estruturas de defesa, construídas no processo de desenvolvimento do sujeito, são permeadas pelos sintomas, que são representações dos recalques - retorno do recalcado - de vivências que foram traumáticas ao longo da vida.

A compreensão de arquitetura psíquica estende-se do inconsciente, (abriga os conteúdos que não foram possíveis de resinificar, elaborar) o superego (a lei, a censura) e o consciente (aquilo do qual afirmamos como consciente).
As fases do desenvolvimento do sujeito:
Oral – o prazer pelos alimentos e tudo que a criança leva à boca, desenvolvimento da fala.
Anal – desenvolvimento do controle esfincteriano: o prazer ou desprazer em expelir partes do seu corpo.
Genital – descoberta das diferenças anatômicas entre meninos e meninas. Inicio da masturbação, descoberta do próprio corpo. 
Na triangulação do Édipo; pai, (cuidador ) mãe (cuidadora ) filho, situa-se a escolha do objeto sexual no processo de identificação.
Na descoberta do outro, enquanto separado, está situado a questão do narcisismo, que em um primeiro momento direciona toda a pulsão de amor para si mesmo e no percurso do desenvolvimento para os objetos.
Importante ressaltar que os conflitos vivenciados ao longo dessas fases e a intensidade do recalque, da castração, da lei (imersão na cultura) irão potencializar as estruturas de defesa. O tempo dessas fases, embora possa compreender períodos biológicos, lembramos, que o tempo no inconsciente não é o tempo biológico, podendo permear por toda a vida a fixação em uma fase.
A direção clínica situa-se:
Transferência – a relação com o analista.
A livre associação – associação entre os sintomas, fala e vivências primárias.
Diagnóstico Diferencial – qual ou quais estruturas em questão.
A cura pela fala – ao falar o sujeito se escuta.

Quando falamos de Bipolar estamos falando de mania e depressão. Dessa forma o Transtorno do Humor (Transtorno Bipolar I e II) podem situar-se dentro de qualquer estrutura clínica em maior ou menor intensidade. Mesmo porque de alguma forma haverá traços de mania, depressão, delírio em todas as estruturas de defesa.
Quanto à questão do diagnóstico diferencial que o DSM – IV coloca em relação à definição de Bipolar I, período distinto de humor anormal, seja com autoestima inflada ou grandiosidade, redução da necessidade de sono, pressão por falar, esquecimentos, atenção desviada, agitação psicomotora, envolvimento excessivo em atividades prazerosas com um alto potencial para consequências dolorosas. O episódio  pode ser misto (mania e depressão). A perturbação do humor é grave a ponto de causar danos a si mesmo a terceiros, ou existem características psicóticas. Essas diferenciações podem ser encontradas em todas as estruturas, podendo ser pontuais, circunstanciais.
Em relação à definição de Bipolar II, histórico de um Episódio Depressivo Maior, ou Episódio Hipomaníaco ou não ter ocorrido um Episódio Maníaco ou um Episódio Misto e não deve haver indícios de Psicoses, também podem ser encontrados nas estruturas clínicas e o que irá diferenciá-las é o maior ou menor afastamento do ego em relação à realidade.

Quando a psicanálise compreende esse outro em sofrimento psíquico, é um outro,  sujeito de sua história, com sua subjetividade, complexidade, abarcando nessa arquitetura psíquica o simbólico, imaginário o real, que confluem-se no que Lacan designa por nó borromeano, imerso na cultura da qual faz parte. Encerrá-lo em uma categoria é sentencia-lo, muitas vezes para o resto de sua vida. Quando pensamos em estruturas, pensamos de forma dialética, possíveis de serem reelaboradas e que os sintomas são possíveis de serem senão curados de todo, mas acolhidos, acalentados, atenuados, no sentido de diminuir o sofrimento psíquico, embora muitas vezes com os recursos psíquicos que o sujeito dispõe estabelecer um processo de cura. 

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