25 de janeiro de 2015

Anotações sobre os sonhos


“A interpretação dos sonhos de Freud, apresenta como única função do sonho a transformação em realização de desejo dos restos diurnos desagradáveis que perturbam o sono. A importância desses resíduos do dia e da vida é esclarecida com uma precisão e uma acuidade quase inigualáveis; penso, entretanto, que o retorno dos restos diurnos já representa por si mesmo uma das funções do sonho. Pois se observarmos com minuncia a relação entre a história pessoal e os conteúdos oníricos, torna-se cada vez mais evidente que aquilo a que chamamos restos diurnos (e podemos acrescentar: os restos de vida) são, de fato, sintomas de repetição na neurose traumática também tem uma função intrinsecamente útil ela vai conduzir o trauma a uma resolução, se possível definitiva; melhor do que isso não fora possível no decorrer do acontecimento originário comovente. É de supor que essa tendencia também exista mesmo onde não vinga, ou seja, onde a repetição não leva a nenhum resultado melhor do que o traumatismo originário. Assim, uma definição mais completa da função do sonho seria (em vez de “o sonho é uma realização do desejo”)”.
“Todo e qualquer sonho ainda o mais desagradável, é uma tentativa de levar acontecimentos traumáticos a uma resolução e a um domínio psíquicos melhores no sentido, poderíamos dizer, do “esprit d’escalier, o que na maioria dos sonhos, é facilitado por uma diminuição da inteligência crítica e pelo predomínio do princípio do prazer. Não desejaria portanto, que o retorno dos restos do dia e da vida no sonho fosse considerado o produto mecânico da pulsão de repetição, mas suspeito de que, lá bem atrás, temos a ação de uma tendencia, que deve ser igualmente qualificada de psicológica, para uma nova e melhor resolução, em que a realização do desejo é o meio pelo qual o sonho conseguirá chegar a ela, mais ou menos bem.” (p.128)

Em toda a história do homem no planeta o sonho sempre foi analisado pelos seus enigmas. Sendo um dos primeiros estudos de Freud, permanece até os dias atuais com grandes interrogações, pois é um estado alterado de consciência. Nessa anotação Ferenczi irá validar a tese dos restos diurnos desagradáveis, que fazem parte da vida, na possibilidade de ao repeti-los em sonhos adquirirem novos significados.

Referência

FERENCZI, Sándor – PSICANÁLISE IV (1928). Obras Completas – São Paulo, Martins Fontes, 2011 

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