“A
interpretação dos sonhos de Freud, apresenta como única função do sonho a
transformação em realização de desejo dos restos diurnos desagradáveis que perturbam o
sono. A importância desses resíduos do dia e da vida
é esclarecida com uma precisão e uma acuidade quase inigualáveis; penso,
entretanto, que o retorno dos restos diurnos já representa por si mesmo uma das
funções do sonho. Pois se observarmos com minuncia a relação entre a história
pessoal e os conteúdos oníricos, torna-se cada vez mais evidente que aquilo a
que chamamos restos diurnos (e podemos acrescentar: os restos de vida) são, de
fato, sintomas de repetição na neurose traumática também tem uma função
intrinsecamente útil ela vai conduzir o trauma a uma resolução, se possível
definitiva; melhor do que isso não fora possível no decorrer do acontecimento
originário comovente. É de supor que essa tendencia também exista mesmo onde
não vinga, ou seja, onde a repetição não leva a nenhum resultado melhor do que
o traumatismo originário. Assim, uma definição mais completa da
função do sonho seria (em vez de “o sonho é uma realização do desejo”)”.
“Todo e
qualquer sonho ainda o mais desagradável, é uma tentativa de levar acontecimentos
traumáticos a uma resolução e a um domínio psíquicos melhores no sentido,
poderíamos dizer, do “esprit d’escalier, o que na maioria dos sonhos, é
facilitado por uma diminuição da inteligência crítica e pelo predomínio do
princípio do prazer. Não desejaria portanto, que o retorno dos restos do dia e
da vida no sonho fosse considerado o produto mecânico da pulsão de repetição,
mas suspeito de que, lá bem atrás, temos a ação de uma tendencia, que deve ser
igualmente qualificada de psicológica, para uma nova e melhor resolução, em que
a realização do desejo é o meio pelo qual o sonho conseguirá chegar a ela, mais
ou menos bem.” (p.128)
Em toda a história do homem no planeta o sonho sempre foi analisado
pelos seus enigmas. Sendo um dos primeiros estudos de Freud, permanece até os
dias atuais com grandes interrogações, pois é um estado alterado de
consciência. Nessa anotação Ferenczi irá validar a tese dos restos diurnos
desagradáveis, que fazem parte da vida, na possibilidade de ao repeti-los em
sonhos adquirirem novos significados.
Referência
FERENCZI, Sándor – PSICANÁLISE IV (1928). Obras Completas – São Paulo,
Martins Fontes, 2011
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