As
palavras de Freud ecoam, principalmente quando falamos de consciente e
inconsciente e a qual comando estamos mais fortemente vinculados e conscientes,
dado as devidas diferenças de subjetividades e seus percursos. As modulações
entre consciente e inconsciente, requerem um aprofundamento do
autoconhecimento, que “não dá saltos”. É um percurso, lento e muitas vezes
doloroso. Qualquer absolutismo aqui requer um reexame dos sentimentos de
arrogância e ignorância sobre si mesmo.
“A
psicanálise escapou a dificuldades..., negando energicamente a igualação entre
o que é psíquico e o que é consciente. Não; ser consciente não pode ser a
essência do que é psíquico. É apenas uma qualidade do que é psíquico, e uma
qualidade inconstante — uma qualidade que está com muito mais frequência
ausente do que presente. O psíquico, seja qual for sua natureza, é em si mesmo
inconsciente e provavelmente semelhante em espécie a todos os outros processos
naturais de que obtivemos conhecimento.”
“A
psicanálise baseia essa asserção numa série de fatos, dos quais passarei agora
a fornecer uma seleção.”
“Sabemos o
que se quer dizer por ideias que ‘ocorrem’ a alguém — pensamentos que
subitamente vêm à consciência sem que se esteja ciente dos passos que a eles
levaram, embora também estes devam ter sido atos psíquicos. Pode mesmo
acontecer que se chegue dessa maneira à solução de algum difícil problema
intelectual, que anteriormente, durante certo tempo, frustrou nossos esforços.
Todos os complicados processos de seleção, rejeição e decisão que ocuparam o
intervalo foram retirados da consciência. Não estaremos apresentando nenhuma
teoria nova se dissermos que eles foram inconscientes e que talvez, também,
assim permaneceram.”
“Em
segundo lugar, colherei um exemplo isolado para representar uma imensa classe
de fenômenos. O presidente de um órgão público (a Câmara Baixa do Parlamento
Austríaco) em certa ocasião abriu uma reunião com as seguintes palavras:
‘Constato que um quorum completo de membros está presente e por isso declaro
encerrada a sessão. ’ Foi um lapso verbal, pois não pode haver dúvida de que
aquilo que o presidente pretendia dizer era ‘aberta’. Por que então disse o
contrário? Esperaremos que nos digam que foi um equívoco acidental, uma falha
em levar a cabo uma intenção, tal como pode facilmente acontecer por diversas
razões: não teve significado e, de qualquer modo, os contrários, de modo
particular e fácil, substituem-se uns aos outros. Se, contudo, tivermos em
mente a situação em que o lapso verbal ocorreu, ficaremos inclinados a preferir
outra explicação. Muitas das sessões anteriores da Câmara tinham sido
desagradavelmente tempestuosas e nada haviam produzido, de modo que seria muito
natural que o presidente pensasse, no momento de fazer sua declaração de
abertura: ‘Se a sessão que está apenas começando estivesse acabada! Preferiria
muito mais encerrá-la do que abri-la!’ Quando começou a falar, provavelmente
não estava cônscio desse desejo — não lhe era consciente —, mas ele achava-se
certamente presente e alcançou sucesso em se fazer efetivo, contra a vontade do
orador, em seu aparente equívoco. Um exemplo isolado dificilmente pode
capacitar-nos a decidir entre duas explicações tão diferentes. Mas, e se todos os outros exemplos
de lapsos verbais pudessem ser explicados da mesma maneira, e, semelhantemente,
todos os lapsos de escrita, todos os casos de leitura ou audição equivocada, e
todos os atos falhos? E se em todos esses casos (sem uma única exceção,
poder-se-ia corretamente dizer) fosse possível demonstrar a presença de um ato
psíquico — um pensamento, um desejo ou uma intenção — que explicasse o equívoco
aparente e que fosse inconsciente no momento em que se tornou efetivo, ainda
que anteriormente pudesse ter sido consciente? Se assim fosse, realmente não
seria mais possível discutir o fato de que existem atos psíquicos que são
inconscientes e o de que às vezes eles são mesmo ativos enquanto se acham
inconscientes, e nesse caso podem inclusive, ocasionalmente, levar a melhor sobre
as intenções conscientes. A pessoa envolvida num equívoco desse tipo pode
reagir a ele de diversas maneiras. Pode desprezá-lo completamente ou notá-lo e
ficar embaraçada e envergonhada. Via de regra, não pode encontrar a explicação
dele por si própria, sem auxílio externo, e quase sempre se recusa — por certo
tempo, pelo menos — a aceitar a solução quando esta lhe é apresentada.”
Se todos
os lapsos verbais, de ações, representantes, de “silêncios”, puderem ser
explicados via inconsciente, é possível demonstrar a presença de um ato
psíquico, um pensamento, um desejo ou uma intenção via inconsciente, que apesar
de desejar se fazer presente ao mesmo tempo não o deseja. Então falamos de
inconsciente revelado. Tarefa árdua e difícil.
Referência
FREUD, S.. ALGUMAS LIÇÕES ELEMENTARES DE
PSICANÁLISE (1940 [1938]) - Obras
Completas de Psicanálise - volume XXIII. Rio de Janeiro, Imago-1996.
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