10 de junho de 2016

Caminhos do Inconsciente...

As palavras de Freud ecoam, principalmente quando falamos de consciente e inconsciente e a qual comando estamos mais fortemente vinculados e conscientes, dado as devidas diferenças de subjetividades e seus percursos. As modulações entre consciente e inconsciente, requerem um aprofundamento do autoconhecimento, que “não dá saltos”. É um percurso, lento e muitas vezes doloroso. Qualquer absolutismo aqui requer um reexame dos sentimentos de arrogância e ignorância sobre si mesmo.

“A psicanálise escapou a dificuldades..., negando energicamente a igualação entre o que é psíquico e o que é consciente. Não; ser consciente não pode ser a essência do que é psíquico. É apenas uma qualidade do que é psíquico, e uma qualidade inconstante — uma qualidade que está com muito mais frequência ausente do que presente. O psíquico, seja qual for sua natureza, é em si mesmo inconsciente e provavelmente semelhante em espécie a todos os outros processos naturais de que obtivemos conhecimento.”
“A psicanálise baseia essa asserção numa série de fatos, dos quais passarei agora a fornecer uma seleção.”
“Sabemos o que se quer dizer por ideias que ‘ocorrem’ a alguém — pensamentos que subitamente vêm à consciência sem que se esteja ciente dos passos que a eles levaram, embora também estes devam ter sido atos psíquicos. Pode mesmo acontecer que se chegue dessa maneira à solução de algum difícil problema intelectual, que anteriormente, durante certo tempo, frustrou nossos esforços. Todos os complicados processos de seleção, rejeição e decisão que ocuparam o intervalo foram retirados da consciência. Não estaremos apresentando nenhuma teoria nova se dissermos que eles foram inconscientes e que talvez, também, assim permaneceram.”
“Em segundo lugar, colherei um exemplo isolado para representar uma imensa classe de fenômenos. O presidente de um órgão público (a Câmara Baixa do Parlamento Austríaco) em certa ocasião abriu uma reunião com as seguintes palavras: ‘Constato que um quorum completo de membros está presente e por isso declaro encerrada a sessão. ’ Foi um lapso verbal, pois não pode haver dúvida de que aquilo que o presidente pretendia dizer era ‘aberta’. Por que então disse o contrário? Esperaremos que nos digam que foi um equívoco acidental, uma falha em levar a cabo uma intenção, tal como pode facilmente acontecer por diversas razões: não teve significado e, de qualquer modo, os contrários, de modo particular e fácil, substituem-se uns aos outros. Se, contudo, tivermos em mente a situação em que o lapso verbal ocorreu, ficaremos inclinados a preferir outra explicação. Muitas das sessões anteriores da Câmara tinham sido desagradavelmente tempestuosas e nada haviam produzido, de modo que seria muito natural que o presidente pensasse, no momento de fazer sua declaração de abertura: ‘Se a sessão que está apenas começando estivesse acabada! Preferiria muito mais encerrá-la do que abri-la!’ Quando começou a falar, provavelmente não estava cônscio desse desejo — não lhe era consciente —, mas ele achava-se certamente presente e alcançou sucesso em se fazer efetivo, contra a vontade do orador, em seu aparente equívoco. Um exemplo isolado dificilmente pode capacitar-nos a decidir entre duas explicações tão diferentes. Mas, e se todos os outros exemplos de lapsos verbais pudessem ser explicados da mesma maneira, e, semelhantemente, todos os lapsos de escrita, todos os casos de leitura ou audição equivocada, e todos os atos falhos? E se em todos esses casos (sem uma única exceção, poder-se-ia corretamente dizer) fosse possível demonstrar a presença de um ato psíquico — um pensamento, um desejo ou uma intenção — que explicasse o equívoco aparente e que fosse inconsciente no momento em que se tornou efetivo, ainda que anteriormente pudesse ter sido consciente? Se assim fosse, realmente não seria mais possível discutir o fato de que existem atos psíquicos que são inconscientes e o de que às vezes eles são mesmo ativos enquanto se acham inconscientes, e nesse caso podem inclusive, ocasionalmente, levar a melhor sobre as intenções conscientes. A pessoa envolvida num equívoco desse tipo pode reagir a ele de diversas maneiras. Pode desprezá-lo completamente ou notá-lo e ficar embaraçada e envergonhada. Via de regra, não pode encontrar a explicação dele por si própria, sem auxílio externo, e quase sempre se recusa — por certo tempo, pelo menos — a aceitar a solução quando esta lhe é apresentada.”

Se todos os lapsos verbais, de ações, representantes, de “silêncios”, puderem ser explicados via inconsciente, é possível demonstrar a presença de um ato psíquico, um pensamento, um desejo ou uma intenção via inconsciente, que apesar de desejar se fazer presente ao mesmo tempo não o deseja. Então falamos de inconsciente revelado. Tarefa árdua e difícil.

Referência
FREUD, S.. ALGUMAS LIÇÕES ELEMENTARES DE PSICANÁLISE (1940 [1938]) - Obras Completas de Psicanálise - volume XXIII. Rio de Janeiro, Imago-1996. 

Nenhum comentário: