As razões
que levam ao desenvolvimento dos sintomas histéricos, os traumas, aquilo que
possui o significado ou significante de ameaça a vida, ou as “moções
pulsionais”, estão no psiquismo e são repetidas no corpo como um sintoma, como
uma doença física, um delírio ou uma alucinação. Os sentimentos, desejos,
conflitos que a memória não consegue acessar, retorna, mas o complexo é relacionar
os traumas, conflitos com os sintomas específicos, pois nem sempre as
associações são suficientes para o acesso aos conteúdos. Quando não há um
trauma e o que está operando é uma série de impressões aflitivas, fobias, que
apesar de existirem circunstancias ameaçadoras, não são suficientes ou não
encontram ressonância no real, que “justifique” a complexidade dos sintomas,
temos que interrogar de onde vêm essa desagregação. Na anorexia e no vômito,
por exemplo, é possível interrogar quais relações inspira nojo e repulsa que é
transferida para a comida. Na insônia ou na dificuldade de conciliar o sono
temos que interrogar que noites foram aterrorizantes, quais situações
traumáticas ou impossibilidade de dormir, ressoa na insônia como sintoma.
Os sintomas
histéricos são a relação simbólica com as causas determinantes da histeria. As
dores, antes de serem dores do corpo, são dores da alma. Desvendar as dores da
alma é buscar a sua cura no corpo e n’alma. A palavra exerce função
preponderante, mas é no interior do psiquismo que se dará a elaboração, pois
nem sempre a lembrança da origem dos conflitos ocorrerá, principalmente se seu
afeto é extremamente forte. Isso nos remete a questão das lembranças e
esquecimento, não sofrerem desgaste ao longo da existência. Elas são
preservadas porque dizem respeito a totalidade do ego do sujeito, que não pode
ser desintegrado. Em que tempo estarão preparadas para emergir é questão de
difícil resposta.
Diante de
novas experiências, novas “impressões psíquicas”, há um somatório que se
condensa, reelaborando-se ou não, cujo objetivo é manter a saúde psíquica. Esse
acumulo reelabora-se ou torna-se mais complexo de acordo com os recursos que o
psiquismo possui para aumentar, diminuir ou sublimar seus impulsos. Não é
possível mensurar os restos mnêmicos, que daí resulta e as formas que poderá
assumir no “futuro”. Se a reação de atitude adequada, não ocorre e o que se
revela é “novos” sintomas, como choro, agressão, insulto, é da ordem dos
recursos psíquicos do sujeito. A resolução por assim dizer, está sempre no
interior do sujeito, pois a reação ou ao que Freud chama de “ab-reação”, pode levar a conflitos maiores
ainda, pois o confronto com o outro é sempre um ponto de interrogação e de
grande desgaste psíquico. Então o saber de uma “ab-reação”, não deve ser movido por impulsos,
mas fruto de alguma reflexão sobre com que se vai deparar. Os conteúdos dos
fenômenos histéricos possuem representações, cujas lembranças são bloqueadas
pelo superego, pela força impactante que pode exercer sobre o ego. Mas como a
demanda continua existir terá que escoar por outros sintomas. Quando se fala em
“ab-reação” tem-se sempre
a impressão que diante das ofensas, mágoas, ressentimentos, deve-se reagir para
não adoecer. É famosa a expressão “não levar desaforo para casa”. Mas o
“desaforo” que se leva para casa é além do que o sujeito sofreu e a reação que ele
teve. Porque aquilo que não foi “resolvido” pelo amor, só retorna pela dor.
Referências
FREUD,
S. – SOBRE O
MECANISMO PSÍQUICO DOS FENÔMENOS HISTÉRICOS: UMA CONFERÊNCIA (1893), Obras Completas de Psicanálise -
volume III. Rio de Janeiro, Imago - 1996.
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