9 de março de 2015

3 – HISTERIA – “a relação “simbólica” entre a causa determinante e o sintoma histérico”

As razões que levam ao desenvolvimento dos sintomas histéricos, os traumas, aquilo que possui o significado ou significante de ameaça a vida, ou as “moções pulsionais”, estão no psiquismo e são repetidas no corpo como um sintoma, como uma doença física, um delírio ou uma alucinação. Os sentimentos, desejos, conflitos que a memória não consegue acessar, retorna, mas o complexo é relacionar os traumas, conflitos com os sintomas específicos, pois nem sempre as associações são suficientes para o acesso aos conteúdos. Quando não há um trauma e o que está operando é uma série de impressões aflitivas, fobias, que apesar de existirem circunstancias ameaçadoras, não são suficientes ou não encontram ressonância no real, que “justifique” a complexidade dos sintomas, temos que interrogar de onde vêm essa desagregação. Na anorexia e no vômito, por exemplo, é possível interrogar quais relações inspira nojo e repulsa que é transferida para a comida. Na insônia ou na dificuldade de conciliar o sono temos que interrogar que noites foram aterrorizantes, quais situações traumáticas ou impossibilidade de dormir, ressoa na insônia como sintoma.  

Os sintomas histéricos são a relação simbólica com as causas determinantes da histeria. As dores, antes de serem dores do corpo, são dores da alma. Desvendar as dores da alma é buscar a sua cura no corpo e n’alma. A palavra exerce função preponderante, mas é no interior do psiquismo que se dará a elaboração, pois nem sempre a lembrança da origem dos conflitos ocorrerá, principalmente se seu afeto é extremamente forte. Isso nos remete a questão das lembranças e esquecimento, não sofrerem desgaste ao longo da existência. Elas são preservadas porque dizem respeito a totalidade do ego do sujeito, que não pode ser desintegrado. Em que tempo estarão preparadas para emergir é questão de difícil resposta.

Diante de novas experiências, novas “impressões psíquicas”, há um somatório que se condensa, reelaborando-se ou não, cujo objetivo é manter a saúde psíquica. Esse acumulo reelabora-se ou torna-se mais complexo de acordo com os recursos que o psiquismo possui para aumentar, diminuir ou sublimar seus impulsos. Não é possível mensurar os restos mnêmicos, que daí resulta e as formas que poderá assumir no “futuro”. Se a reação de atitude adequada, não ocorre e o que se revela é “novos” sintomas, como choro, agressão, insulto, é da ordem dos recursos psíquicos do sujeito. A resolução por assim dizer, está sempre no interior do sujeito, pois a reação ou ao que Freud chama de “ab-reação”, pode levar a conflitos maiores ainda, pois o confronto com o outro é sempre um ponto de interrogação e de grande desgaste psíquico. Então o saber de uma “ab-reação”, não deve ser movido por impulsos, mas fruto de alguma reflexão sobre com que se vai deparar. Os conteúdos dos fenômenos histéricos possuem representações, cujas lembranças são bloqueadas pelo superego, pela força impactante que pode exercer sobre o ego. Mas como a demanda continua existir terá que escoar por outros sintomas. Quando se fala em “ab-reação” tem-se sempre a impressão que diante das ofensas, mágoas, ressentimentos, deve-se reagir para não adoecer. É famosa a expressão “não levar desaforo para casa”. Mas o “desaforo” que se leva para casa é além do que o sujeito sofreu e a reação que ele teve. Porque aquilo que não foi “resolvido” pelo amor, só retorna pela dor.

Referências
FREUD, S.  – SOBRE O MECANISMO PSÍQUICO DOS FENÔMENOS HISTÉRICOS: UMA CONFERÊNCIA (1893), Obras Completas de Psicanálise - volume III. Rio de Janeiro, Imago - 1996. 

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