Na
arquitetura das estruturas de defesa estão as imagens dos sofrimentos, nem
sempre acessíveis. Outras são acessíveis através das fantasias, que se erguem
de acordo com a ordem crescente da resistência. Se o recalque ocorreu com pouca
energia é mais fácil retornarem, mas se associarem às lembranças que possui
maior energia no recalque são difíceis de serem acessadas. O caminho percorrido
através dos sintomas segue para o aprofundamento na medida em que as
resistências vão sendo vencidas. Então, em um circuito modular os sintomas vão
se revelando, deslocando de acordo com a quantidade de energia investida no
recalque. Assim é que as fantasias assumem um papel importante, pois
originam-se de uma combinação inconsciente, seja de situações vivenciadas,
ouvidas, pensadas. A função da fantasia na infância é possibilitar a elaboração
da realidade e aqui é também tornar inacessível às lembranças, na medida em que
as lembranças se fundem no imaginário. O trabalho em análise requer
“separá-las” no sentido do sujeito encontrar seu lugar, e destino no mundo. A
fantasia acessa fragmentos recalcados da memória e os traz de volta, na busca
de um tempo que não é possível acessar no estado de consciência alerta,
tornando “impossível determinar a conexão original”. A fantasia é uma forma de
burlar a defesa, ou um véu que encobre lembranças, que não são possíveis
detectar no espaço-tempo, mas continuam se revelando através de sintomas. O
movimento entre fantasia e real é mediado pela quantidade de energia envolvida
no recalque, ou seja, quanto maior a energia investida, maior gasto de energia
e de associações terão que realizar para emergir. Na histeria o deslocamento
das lembranças se dá por associação, de forma sistematizada em harmonia, na
neurose obsessiva por uma semelhança entre as lembranças e na paranoia ocorre
um deslocamento causal, a causa é o outro e a fantasia assume a forma de um
delírio e alucinação. Embora o recalcado afete os eventos presentes, ele faz um
percurso de retorno, de acordo com o desenvolvimento, a resistência,
autoconhecimento e evolução do sujeito. O recalque no inconsciente tem muito de
obscuro, portanto percorrer o universo da fantasia e a função desta na defesa
requer pensar quais recalcados estão na fantasia e como são representados.
Referência
FREUD, S.
RASCUNHO M - (NOTAS II) – 25 de maio de 1897. Obras Completas de Psicanálise -
volume I. Rio de Janeiro, Imago-1996.
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