18 de abril de 2015

“Profundidade do Recalcamento”


Na arquitetura das estruturas de defesa estão as imagens dos sofrimentos, nem sempre acessíveis. Outras são acessíveis através das fantasias, que se erguem de acordo com a ordem crescente da resistência. Se o recalque ocorreu com pouca energia é mais fácil retornarem, mas se associarem às lembranças que possui maior energia no recalque são difíceis de serem acessadas. O caminho percorrido através dos sintomas segue para o aprofundamento na medida em que as resistências vão sendo vencidas. Então, em um circuito modular os sintomas vão se revelando, deslocando de acordo com a quantidade de energia investida no recalque. Assim é que as fantasias assumem um papel importante, pois originam-se de uma combinação inconsciente, seja de situações vivenciadas, ouvidas, pensadas. A função da fantasia na infância é possibilitar a elaboração da realidade e aqui é também tornar inacessível às lembranças, na medida em que as lembranças se fundem no imaginário. O trabalho em análise requer “separá-las” no sentido do sujeito encontrar seu lugar, e destino no mundo. A fantasia acessa fragmentos recalcados da memória e os traz de volta, na busca de um tempo que não é possível acessar no estado de consciência alerta, tornando “impossível determinar a conexão original”. A fantasia é uma forma de burlar a defesa, ou um véu que encobre lembranças, que não são possíveis detectar no espaço-tempo, mas continuam se revelando através de sintomas. O movimento entre fantasia e real é mediado pela quantidade de energia envolvida no recalque, ou seja, quanto maior a energia investida, maior gasto de energia e de associações terão que realizar para emergir. Na histeria o deslocamento das lembranças se dá por associação, de forma sistematizada em harmonia, na neurose obsessiva por uma semelhança entre as lembranças e na paranoia ocorre um deslocamento causal, a causa é o outro e a fantasia assume a forma de um delírio e alucinação. Embora o recalcado afete os eventos presentes, ele faz um percurso de retorno, de acordo com o desenvolvimento, a resistência, autoconhecimento e evolução do sujeito. O recalque no inconsciente tem muito de obscuro, portanto percorrer o universo da fantasia e a função desta na defesa requer pensar quais recalcados estão na fantasia e como são representados.

Referência
FREUD, S. RASCUNHO M - (NOTAS II) – 25 de maio de 1897. Obras Completas de Psicanálise - volume I. Rio de Janeiro, Imago-1996.

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