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de: https://caminhosdapsiq.blogspot.com.br/2016/11/a-contextura-psiquica-do-odio-o-sadismo.html
6. O
desejo e o ódio
Odeia-se o
objeto de desejo que está fora da lei, e assim odeia-se o próprio desejo fora
da lei, odeia-se a se próprio. É a foraclusão na perversão. É difícil colocar
uma causa para o desejo, porque essa pertence a camadas muito profundas do
inconsciente. Ao se pensar na formula do “sujeito dividido” é possível supor na
perversão, um sujeito e um objeto para o sádico. O objeto aqui, ao contrário do
que supõe Lacan, não está no campo do idealismo, como único ponto de encontro
com o real, pois o objeto do desejo, nem sempre está à frente. Fora da
estrutura perversa é intuitivo, sensorial. O objeto está atrás do desejo,
porque o objeto é sujeito. “O desejo do sádico é exaustivo em todas as
relações com o objeto. O desejo sádico, com tudo que comporta de enigmático, só
é articulável a partir da esquize, da dissociação que ele almeja introduzir no
sujeito, no outro, impondo-lhe, até certo limite, o que não poderia ser
tolerado – até o limite exato em que aparece no sujeito uma divisão, uma
hiância entre de sujeito e o que ele sofre, aquilo de que pode
padecer em seu corpo. Não é tanto o sofrimento do outro que é buscado na
intenção sádica, mas sua angústia” (Lacan,
p.117). O sádico deseja mais do que o corpo do objeto, deseja sua alma. O
sádico deseja “fazer vibrar” a angústia do outro. Quanto maior a angústia do
outro, maior o prazer do sádico, mas e a angústia subjetiva não manifesta? É ai
que o sádico se perde. No contraponto da “causa do desejo”, Lacan considera que “Kant articulou como a condição de
exercício de uma razão pura prática de uma vontade moral propriamente dita, na
qual ele situa o único ponto em que pode manifestar-se uma relação com um puro
bem moral” (Lacan, p.117). A
questão é que Lacan “esquece” que para Kant a filosofia é a crítica da própria
razão, e que, portanto irá se interrogar e interrogar o próprio desejo, o que
não procede ao desejo sádico. Assim no conhecimento pela razão pura crítica, há
que interrogar o que a razão pode conhecer e entender pela transcendência. Ou
seja, essa interrogação não habita o universo do sujeito que odeia. Quando o
ódio faz um estrago muito grande no sujeito que odeia, ele quer se livrar do
ódio, pela mesma via sádica consigo próprio, mas isso que poderia ser uma
resinificação e reelaboração percorre inúmeras vezes a via da repetição.
O que
caracteriza o desejo sádico é o rito, embora ele não “saiba” o que procura. Ele
procura ser o próprio objeto de prazer da sua vítima pelo sofrimento que
imprime a esta, pelo ódio que abriga em sua ferida psíquica. Mas sua dor
tornou-se sua forma de prazer. Para ele o princípio do prazer se realiza como
dor. Como esse prazer encontra um esgotamento nele, ele precisa de um objeto
que não seja ele mesmo. Ele que já fez um trajeto no masoquismo, mas se
esgotou. Para o masoquista sair de sua posição de “resto”, objeto de si mesmo,
necessita de um outro, que ele não vê como “resto” ou se esse outro sujeito se
coloca como “resto” por certo cairá em sua teia sádica. A maldade seja para
consigo próprio ou para com o outro é a elaboração do desejo sem a lei, onde se
supõe “possível”, ignorá-la. “O
mito do Édipo não quer dizer nada senão isto: na origem, o desejo como desejo
do pai, e a lei são uma e a mesma coisa. A relação da lei com o desejo é tão
estreita que somente a função da lei traça o caminho do desejo. O desejo, como
desejo pela mãe, é idêntico à função da lei. É na medida em que proíbe esse
desejo que a lei impõe o desejá-la, pois, afinal, a mãe não é, em si mesma, o
objeto mais desejável. Se tudo se organiza em torno do desejo pela mãe, se
devemos preferir que a mulher, seja outra que não a mãe, que quer dizer isso,
senão que um mandamento se introduz na própria estrutura do desejo? Numa
palavra, desejamos no mandamento. O mito do Édipo significa que o desejo do pai
é o que cria a lei” (Lacan,
p.120). Então no sadismo está uma estrutura perversa, onde a lei simbólica é
subvertida, ignorada, e a angústia gerada precisa ser descarregada, pois o ser
faltante “não existe”, precisa ser reconstruído. Se reconhecer como objeto do
próprio desejo é masoquismo e sair de cena, ficar aquém dela, olhar o outro em
sua falta é encontrar a própria falta.
O sujeito
que odeia afasta-se da lei, da moralidade, pois não elabora o complexo de
Édipo, o início do desejo ao nascer e no percurso de sua primeira infância.
Então o prazer pelo próprio sofrimento é o “primeiro” instante desse ódio, que
é revivido durante a vida. Odiar a si próprio é o começo do “resto” de si, que
evolui nas mágoas, ressentimentos, como forma de fazer sofrer-se, como um
castigo, que evolui para as “ações
pecaminosas, que devem então ser expiadas pelas censuras da consciência
sádica”. Se o sujeito retorna
o sadismo para ele é uma intensificação do masoquismo. Mas não exclui que ao
mesmo tempo “escolha” o outro como objeto do seu sadismo, seja como forma de
masoquismo, seja por um ato perverso de ódio, como forma de drenar o próprio
ódio. Não é possível falar de sadismo sem seu “contraponto” o masoquismo. Em
determinadas circunstancias estão relacionados, independente se a vítima e o
algoz estão no mesmo sujeito. Então a questão que se coloca é como sair desse
circuito negativo e patológico. Essa é uma questão, cuja “resposta”, está na
subjetividade do próprio sujeito. Surge um cansaço do sofrimento, um
esgotamento do sofrer que alimentará seus recursos psíquicos e seu processo de
autoconhecimento. É necessário que o sujeito se implique consigo mesmo, se
interrogue. Assim surgirá uma revolta, uma projeção da própria culpa, uma
passagem de algoz a vítima, um remorso e um sentimento de culpa, que é o início
da entrada na lei, a necessidade do próprio resgate e da reparação. Então
começará a surgir o senso ético, moral e começa as renuncias instituais
primitivas.
(Referências na Síntese do artigo, quando for publicado)
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