Em um mundo ligado ao sentimento de posse, do material, em que o ser, a
essência, o caráter, os valores parecem “esquecidos”, a “obsession”, ou
obsessão está ligado ao mecanismo de obtenção de um suposto prazer pela posse
de um objeto, seja por uma atitude masoquista ou sádica. Há que lembrarmos que
a obsessão vincula-se ao narcisismo, pois a satisfação egoica está em
primeiro plano. A ideia fixa em algo, que se supõe deveria possuir, diz
respeito às representações recalcadas, que são descartadas da consciência, na
neurose obsessiva, pelos atos obsessivos. Obsidia-se a si próprio, que não
deixa de ser extensivo aos outros enquanto objetos de representação do desejo.
Uma representação é imposta através de um estado emocional, que permanece
inalterado, associado a uma representação como a dúvida, o remorso, a raiva, o
ódio, são indicativos de uma angústia persistente, o verificar as portas, o
fazer roteiros confusos, ou repetitivos diariamente, a ênfase em ambientes limpos,
quase esterilizados. As vestimentas parecidas com uniformes, a necessidade de
controle absoluto, o foco em determinados objetos que parecem impossíveis de
obter, a necessidade de que tudo funcione, segundo seu desejo, um apego ao
dinheiro de forma excessiva.
Uma neurose obsessiva severa implicará numa arrogância, que possibilita
um maltrato a outros, a um ódio persistente, a problemas de caráter, a uma
determinação de obediência cega, do outro, ao desejo do obsessivo, uma relação
de dominação, uma disputa com o outro para ser esse outro, o que revela um
conflito de uma inveja, que diz respeito ao ser, seus conflitos e escolhas.
Essa necessidade de domínio sobre si mesmo, seus desejos, impulsos advém de
experiências traumáticas, que favorece o desenvolvimento da neurose obsessiva,
experiências penosas, na mais tenra idade, onde o sujeito faz um grande esforço
para esquecer. As representações penosas são substituídas por outras. O
processo obsessivo é complexo e não se resume em alguns sintomas superficiais:
Aritmomania, preocupação e especulação, hesitação, medo de pedacinhos de papel,
lavagem corporal ou de partes do corpo, limpeza compulsiva, em que tudo parece
contaminado. A intrincada complexidade é algo a se desnovelar no curso do
tratamento. Se a pré-disposição mental herdada encontra circunstancia propícias
ao livre curso, é questão a ser analisada. A neurose obsessiva é um
funcionamento de defesa e seu curso irá depender do nível de comprometimento do
ego e das circunstancias da vida que vão sedimentando comportamentos. A
substituição é uma forma de descarga da ansiedade e mantém de forma persistente
os atos obsessivos. As obsessões são diversas, especializadas. Nesse intrincado
labirinto existe muito sofrimento, sentimento de desagregação, superstições.
Vencer a própria resistência, para dar espaço às lembranças, ao sofrimento, que
necessita ser acolhido, compreendido e resinificado, não é tarefa fácil, mas
possível.
FREUD, S. – OBSESSÕES
E FOBIAS: SEU MECANISMO PSÍQUICO E SUA ETIOLOGIA (1895 |1894|), Obras Completas de Psicanálise -
volume III. Rio de Janeiro, Imago - 1996.
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