14 de março de 2014

Reflexão: Sintomas de Sofrimento na Neurose Obsessiva

Em um mundo ligado ao sentimento de posse, do material, em que o ser, a essência, o caráter, os valores parecem “esquecidos”, a “obsession”, ou obsessão está ligado ao mecanismo de obtenção de um suposto prazer pela posse de um objeto, seja por uma atitude masoquista ou sádica. Há que lembrarmos que a obsessão vincula-se ao narcisismo, pois a satisfação egoica  está em primeiro plano. A ideia fixa em algo, que se supõe deveria possuir, diz respeito às representações recalcadas, que são descartadas da consciência, na neurose obsessiva, pelos atos obsessivos. Obsidia-se a si próprio, que não deixa de ser extensivo aos outros enquanto objetos de representação do desejo. Uma representação é imposta através de um estado emocional, que permanece inalterado, associado a uma representação como a dúvida, o remorso, a raiva, o ódio, são indicativos de uma angústia persistente, o verificar as portas, o fazer roteiros confusos, ou repetitivos diariamente, a ênfase em ambientes limpos, quase esterilizados. As vestimentas parecidas com uniformes, a necessidade de controle absoluto, o foco em determinados objetos que parecem impossíveis de obter, a necessidade de que tudo funcione, segundo seu desejo, um apego ao dinheiro de forma excessiva.

Uma neurose obsessiva severa implicará numa arrogância, que possibilita um maltrato a outros, a um ódio persistente, a problemas de caráter, a uma determinação de obediência cega, do outro, ao desejo do obsessivo, uma relação de dominação, uma disputa com o outro para ser esse outro, o que revela um conflito de uma inveja, que diz respeito ao ser, seus conflitos e escolhas. Essa necessidade de domínio sobre si mesmo, seus desejos, impulsos advém de experiências traumáticas, que favorece o desenvolvimento da neurose obsessiva, experiências penosas, na mais tenra idade, onde o sujeito faz um grande esforço para esquecer. As representações penosas são substituídas por outras. O processo obsessivo é complexo e não se resume em alguns sintomas superficiais: Aritmomania, preocupação e especulação, hesitação, medo de pedacinhos de papel, lavagem corporal ou de partes do corpo, limpeza compulsiva, em que tudo parece contaminado. A intrincada complexidade é algo a se desnovelar no curso do tratamento. Se a pré-disposição mental herdada encontra circunstancia propícias ao livre curso, é questão a ser analisada. A neurose obsessiva é um funcionamento de defesa e seu curso irá depender do nível de comprometimento do ego e das circunstancias da vida que vão sedimentando comportamentos. A substituição é uma forma de descarga da ansiedade e mantém de forma persistente os atos obsessivos. As obsessões são diversas, especializadas. Nesse intrincado labirinto existe muito sofrimento, sentimento de desagregação, superstições. Vencer a própria resistência, para dar espaço às lembranças, ao sofrimento, que necessita ser acolhido, compreendido e resinificado, não é tarefa fácil, mas possível.  

FREUD, S.  – OBSESSÕES E FOBIAS: SEU MECANISMO PSÍQUICO E SUA ETIOLOGIA (1895 |1894|), Obras Completas de Psicanálise - volume III. Rio de Janeiro, Imago - 1996. 

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