26 de fevereiro de 2015

Prestes A Ressurgir: Filósofo István Mészáros analisa ascensão de novos...

Prestes A Ressurgir: Filósofo István Mészáros analisa ascensão de novos...: Em novo livro sobre a crise do capitalismo, pensador húngaro fala sobre impasses das democracias POR LEONARDO CAZES Vitória. Apoia...

Interessante análise do filósofo István Mézáros sobre as mudanças políticas necessárias no planeta. Para além de oposições subjetivas, a reflexão exige um profundo conhecimento de para onde caminhamos e qual nossa possibilidade de sobrevivência no mundo em que vivemos. Sobrevivência subjetiva, pois os impasses colocados pelos Estados mundiais excluem milhões de seres humanos de toda e qualquer humanidade. Ao falar que as políticas sociais não “resolve” a desigualdade social e propor ao que ele chama de “igualdade substantiva”, uma consequência da “democracia substantiva”, nos faz refletir, quanto a questão da substancia, da essência e do esforço de mudança na sua essência que a humanidade necessita realizar. É um passo gigantesco, mas que começa nas pequenas coisas do dia a dia. A mudança na essência diz respeito ao humano e à casa que ele habita e destrói: o planeta terra. Com uma terceira guerra em andamento, ser de esquerda ou direita é ingênuo, pois o que está em jogo é algo muito maior. O que deve ser pensado é qual forma de sociedade vai elevar a humanidade a um outro patamar moral, ético, econômico, político e social. Qual forma de sociedade terá como referência o inconsciente e a interrogação, porque estamos aqui.

20 de fevereiro de 2015

A música - Ler e Escrever


“A leitura é uma droga que vicia Todo o texto é uma partitura musical. As palavras são as notas. Se aquele que lê é um artista, se ele domina a técnica, se ele desliza sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto – a beleza acontece. E o texto apossa-se do corpo de quem ouve. Mas se aquele que lê não domina a técnica, se luta com as palavras, se não desliza sobre elas – a leitura não produz prazer: queremos logo que ela acabe. Assim, quem ensina a ler, isto é, aquele que lê para que os seus alunos tenham prazer no texto, tem de ser um artista. Só deveria ler aquele que está possuído pelo texto que lê. Por isso eu acho que deveria ser estabelecida nas nossas escolas a prática dos “concertos de leitura“. Se há concertos de música erudita, jazz – por que não concertos de leitura? Ouvindo, os alunos experimentarão o prazer de ler. E acontecerá com a leitura o mesmo que acontece com a música: depois de termos sido tocados pela sua beleza, é impossível esquecer. A leitura é uma droga perigosa: vicia… Se os jovens não gostam de ler, a culpa não é só deles. Foram forçados a aprender tantas coisas sobre os textos – gramática, usos da partícula “se”, dígrafos, encontros consonantais, análise sintáctica – que não houve tempo para serem iniciados na única coisa que importa: a beleza musical do texto literário: foi-lhes ensinada a anatomia morta do texto e não a sua erótica viva. Ler é fazer amor com as palavras. E essa transa literária inicia-se antes que as crianças saibam os nomes das letras. Sem saber ler elas já são sensíveis à sua beleza. E a missão do professor?” Rubem Alves In “O Prazer da Leitura”

Esse texto de Rubem Alves nos remonta não só ao prazer, os significantes e significados da leitura, como o autoconhecimento, o conhecimento do mundo, a busca da própria essência, a viagem num mundo cósmico, que não deixa de ser algo ameaçador ao próprio ego, mas, mais que isso, aos frutos que o caminho do conhecimento conduz: o escrever. Repetindo Rubem Alves, escrever é: uma droga que vicia, pois toda escrita “é uma partitura musical. As palavras são as notas.” Se aquele que escreve “é um artista, se ele domina a técnica, se ele desliza sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto – a beleza acontece. E o texto apossa-se do corpo de quem” escreve. Mas se aquele que escreve “não domina a técnica, se luta com as palavras, se não desliza sobre elas – a leitura não produz prazer: queremos logo que ela acabe.”... Só deveria escrever aquele que está possuído pelo texto que escreve. Então “deveria ser estabelecida nas nossas escolas a prática dos” “concertos de escrita.” Escrevendo,  experimentarão o prazer de escrever. “E acontecerá com a” escrita “o mesmo que acontece com a música: depois de termos sido tocados pela sua beleza, é impossível esquecer”. O texto escrito com alma possui sons, musicalidade, em suas letras, palavras, frases e pontuações.

9 de fevereiro de 2015

A carta 56 - Histeria ou alteração da consciência?

…Aliás, que diria você se eu lhe contasse que toda aquela minha história da histeria, história original e novinha em folha, já era conhecida e tinha sido publicada repetidamente uma centena de vezes — há alguns séculos? Você se lembra de que eu sempre disse que a teoria medieval da possessão pelo demônio, sustentada pelos tribunais eclesiásticos, era idêntica à nossa teoria de um corpo estranho e de uma divisão (splitting) da consciência? Mas por que é que o diabo, que se apossava das pobres bruxas, invariavelmente as desonrava, e de forma revoltante? Por que as confissões delas sob tortura tanto se assemelham às comunicações feitas por meus pacientes em tratamento psíquico? Dentro em breve, precisarei pesquisar a bibliografia do assunto. Aliás, as crueldades possibilitam o entendimento de alguns sintomas da histeria, que até agora têm permanecido obscuros. Os alfinetes que aparecem das formas mais surpreendentes, as agulhas que fazem com que as pobres criaturas tenham seus seios operados, e que são invisíveis aos raios X, embora possam ser encontradas na história de sua sedução…
Mais uma vez, os inquisidores espetam agulhas para descobrir os estigmas do demônio, e, numa situação parecida, as vítimas inventam a mesma cruel e velha história (ajudadas, talvez, pelos disfarces do sedutor). Assim, não só as vítimas, mas também os seus algozes, relembram nisso os primórdios de sua adolescência.

Os sintomas daquilo que se designou por histeria, percorreu a história da humanidade com diversas configurações. Nessa enigmática carta a Fliess, Freud relata os sintomas da histeria ao tempo da inquisição, onde muitas vezes, em função desses sintomas, as mulheres eram levadas à fogueira ou calabouços. Se o estado alterado de consciência levava a sofrimentos que deixavam marcas nessas mulheres, elas confirmavam com suas dores o que seus algozes argumentavam numa cadeia de sintomas, que embora muitas vezes não pudessem ser confirmados no real, o eram no sofrimento que infligiam.

Referência
FREUD, S.  – EXTRATOS DOS DOCUMENTOS DIRIGIDOS A FLIESS – CARTA 50 (1950[1892-1899]), Obras Completas de Psicanálise - volume I. Rio de Janeiro, Imago - 1996. 

3 de fevereiro de 2015

Filosofia Oriental - Corte sem Incisão


Conhecendo o masculino, resguardando o feminino
Sendo a ravina sob o céu
Sem se afastar da Virtude Eterna
Retornará a ser criança.
Conhecendo o branco, resguardando o negro
Sendo o modelo sob o céu
Sem se enganar com a Virtude Eterna
Retornará à Extremidade-Inexistente (ao estado anterior da criação do universo)
Conhecendo a glória, resguardando a humildade
Sendo o vale sob o céu
Sendo o vale sob o céu, completará a Virtude Eterna
E retornará a ser madeira bruta
A madeira bruta partida transforma-se em instrumentos
E o Homem Sagrado utiliza-os através de um regente
Isto tudo é um grande corte sem incisão (é o estado anterior ao da criação do universo)

TAO TE CHING - O Livro do Caminho e da Virtude - Lao Tse - Tradução do Mestre Wu Jyn Cherng

1 de fevereiro de 2015

1 - Histeria - Da loucura a “normalidade”

Um mundo conturbado é o que vivemos. Onde cada vez mais é imperativo desenvolver uma estrutura de equilíbrio interior. Não é tarefa fácil encontrar esse caminho, principalmente no mundo massificado, consumista. Nos tempos atuais a doença mental não está segregada como nos tempos antigos. Ela está inserida na vida de cada sujeito de forma ostensiva, pois o nível de exigência social, a aparência, a vitrine, o sucesso não mais profissional, mas psíquico, tornou-se um imperativo que esgota o sujeito. Quando vemos a intimidade dos sujeitos sendo devassadas por eles mesmos nas “redes sociais” há que interrogarmos o quanto de energia narcísica está ai colocada, o quanto de sofrimento internalizado que precisa ser resinificado. Talvez possamos afirmar que vivemos uma “histeria coletiva do sucesso material” em que o afastamento da realidade “se faz necessário” e no contraponto os sintomas se alargam e passam a ter o status de “normalidade”. Embora muito tenha avançado a ciência do cérebro, a confluência entre doença mental, habilidades paranormais e religião sempre estiveram próximas na história da humanidade. Na idade média essa confluência assume status de vida e morte, pois as ideias ou vivências que se apresentassem com supostas diferenças das concepções dominantes eram tratadas na fogueira ou nos calabouços. É assim que a concepção das pessoas que sofriam de histeria estava vinculada ao sofrimento da loucura.

É imenso o conjunto de sintomas que podem ser sustentados como histeria. E ao falar de histeria no mundo contemporâneo, há que nos aproximarmos da complexidade de sintomas tais como: ataques convulsivos que compreende uma “constrição na garganta”, um zumbido nos ouvidos, latejamento de nervos, espasmos na faringe. Os ataques “epileptoides”, que podem seguir um percurso unilateral, a contorções, ataques convulsivos seguidos de pressão abdominal, na garganta, zumbido nos ouvidos, dificuldade de orientação no tempo e lugar. Às contorções podem seguir-se alucinações, atitudes passionais com ênfase em vocabulário depreciativo. Diante de um ataque epilético, onde ocorre uma explosão dos circuitos elétricos do cérebro, a consciência pode manter-se ou perder-se. No contraverso do ataque epilético pode ocorrer o ataque de sono. É um sono natural, mas pode assemelhar-se a um coma. As áreas mais sensíveis do corpo podem ser afetadas pelos significantes que possuem. Por exemplo, se para determinada pessoa perceber uma realidade que lhe traga sofrimento, é possível que a parte da visão seja de alguma forma afetada. “Enxergar a realidade causa dor”. E em um “mundo de sucesso” a dor, que é estruturante como um instrumento de lapidação da alma não possui espaço, até porque o “que vale é ser feliz a qualquer custo”, mesmo que seja somente na aparência, na fantasia delirante da histeria. A “anestesia ou hiperestesia histérica”, em qualquer órgão do corpo pode apresentar uma sensação de dor, comprometer aspectos da segurança, pois envolve o contato com o mundo. Esses eventos desencadeados pelo psiquismo, em muito se assemelha aos eventos desencadeados por disfunção de órgão do corpo. Na idade média, o fato dessas áreas anestesiadas não sangrarem era considerado feitiçaria. Hoje hospitais, clínicas e consultórios estão cheios de sujeitos com esses sintomas, que em sua grande maioria são gerados por cargas de sofrimento psíquico. Como é difícil para a área de saúde tratar esses sintomas, eles são designados de forma pejorativa, como se fosse uma encenação. “É o piti”.

Os distúrbios que envolvem os órgãos do sentido como perda, diminuição da visão, do campo visual, redução da percepção luminosa e sensibilidade a determinadas cores como o roxo, vermelho e ao azul, a afasia que pode ir de uma rouquidão a ausência de voz, a surdez histérica que muitas vezes é acompanhada por anestesia, da mesma forma que no distúrbio histérico do paladar e do olfato é possível encontrar áreas anestesiadas. As paralisias histéricas podem afetar diversos membros como braços, pernas, e órgãos. A incapacidade de se manter em pé e de andar, as contraturas, podem, também ser um sintoma histérico, independente de lesões orgânicas. Os sintomas histéricos são descritos como dolorosos e estão constantemente mudando. “O sistema nervoso histérico”, ou o funcionamento psíquico histérico, pode ser resistente à medicação, sendo acessível à abordagem terapêutica acolhedora, a uma escuta diferenciada. Ressalta-se que as desordens de origem psíquica devem ser investigadas no corpo, mesmo porque estas influenciam nos processos físicos. Muitas vezes a linha divisória de onde começa uma e termina outra não é possível.

Se alguns sintomas histéricos (gritar, “bater o telefone”, falar alto nos locais de encontros públicos) são um comportamento da moda é algo que reflete uma fragilidade individual (do ego) e social. Como os distúrbios psíquicos alteram seu curso seja pela inibição, desejos, repressão de sentimentos, situações traumáticas, ou seja, tudo aquilo que modifica a distribuição de energia; Então um funcionamento histérico pode agravar-se a um quadro de delírios, podendo complicar a uma psicose. Essa “moda” do “direito de ser feliz”, do “direito ao sucesso”, pode aproximar-se de uma psicose.  Importante ressaltar, que ao realizar uma anamnese mais profunda verifica-se que o traço psicótico estava presente, seja na condição de hereditariedade ou como condição estruturante. Esse agravamento dar-se-á por uma instabilidade emocional, alterações de humor, aumento da excitabilidade, baixa autoestima. Esse funcionamento histérico por certo é encontrado na história da hereditariedade referente à saúde mental da genealogia a que o sujeito pertence. Mas as circunstancias da vida como a inserção do sujeito na lei, o “despertar prematuro da atividade mental nas crianças, com excitamentos frequentes e violentos”, potencializam a neurose. No mundo atual o destino do volume de informações, os desafios competitivos, os jogos “para estimular” a criatividade, mas que introduz conteúdos de violência sádica, psicótica, o uso de substancias psicoativas, perdas, luto, traumas, acidentes, violências, são instrumentos que podem irromper uma doença histérica.

A histeria é um conjunto de sintomas, que pode ser permanente ou transitório, pode dizer respeito a um indivíduo ou grupo, mas há processos histéricos cujas causas são obscuras, com etiologia diversa. É possível também que a doença orgânica, uma vez curada, possa desenvolver uma dor, que não possui mais a correspondência orgânica. Catástrofes naturais ou econômicas-políticas podem desencadear uma histeria coletiva com traços delirantes, que se afastam da realidade e deixam suas sequelas. A terapêutica medicamentosa não cura a neurose histérica, mas a homeopática de reequilíbrio com as forças naturais da vida é fundamental. Não é “possível” tratar apenas um sintoma. O importante é olhar a tessitura psíquica, a tessitura coletiva no seu todo, compreendendo que sintomas podem ser substituídos. No processo de autoconhecimento nem sempre é possível a remoção das “fontes psíquicas que estimulam os sintomas histéricos”, pois ao adentrarmos o inconsciente esse irá se apresentar como um imenso “quebra-cabeças”.  Somente um esforço persistente e uma estrutura que suporte olhar para cada marca mnêmica num tempo que não é possível mensurar para visualizar a essência, é que é possível compreender razões nem sempre lógicas. Por isso é complexo compreender porque um “motivo psíquico suficiente” pode abrandar excluir outros sintomas. Ou seja, haverá sempre uma causa maior que sobrecarrega o psiquismo com uma excessiva energia. Portanto almas serenas requer autodescobertas das pulsões mais profundas, um aprendizado e um apaziguamento consigo próprio.
Referência
FREUD, S.  – HISTERIA (1888), Obras Completas de Psicanálise - volume I. Rio de Janeiro, Imago - 1996.