“A leitura é uma droga que vicia Todo o texto é uma
partitura musical. As palavras são as notas. Se aquele que lê é um artista, se
ele domina a técnica, se ele desliza sobre as palavras, se ele está possuído
pelo texto – a beleza acontece. E o texto apossa-se do corpo de quem ouve. Mas
se aquele que lê não domina a técnica, se luta com as palavras, se não desliza
sobre elas – a leitura não produz prazer: queremos logo que ela acabe. Assim,
quem ensina a ler, isto é, aquele que lê para que os seus alunos tenham prazer
no texto, tem de ser um artista. Só deveria ler aquele que está possuído pelo
texto que lê. Por isso eu acho que deveria ser estabelecida nas nossas escolas
a prática dos “concertos de leitura“. Se há concertos de música erudita, jazz –
por que não concertos de leitura? Ouvindo, os alunos experimentarão o prazer de
ler. E acontecerá com a leitura o mesmo que acontece com a música: depois de
termos sido tocados pela sua beleza, é impossível esquecer. A leitura é uma
droga perigosa: vicia… Se os jovens não gostam de ler, a culpa não é só deles.
Foram forçados a aprender tantas coisas sobre os textos – gramática, usos da
partícula “se”, dígrafos, encontros consonantais, análise sintáctica – que não
houve tempo para serem iniciados na única coisa que importa: a beleza musical
do texto literário: foi-lhes ensinada a anatomia morta do texto e não a sua
erótica viva. Ler é fazer amor com as palavras. E essa transa literária
inicia-se antes que as crianças saibam os nomes das letras. Sem saber ler elas
já são sensíveis à sua beleza. E a missão do professor?” Rubem Alves In “O
Prazer da Leitura”
Esse texto de Rubem Alves nos remonta não só ao prazer, os significantes
e significados da leitura, como o autoconhecimento, o conhecimento do mundo, a
busca da própria essência, a viagem num mundo cósmico, que não deixa de ser
algo ameaçador ao próprio ego, mas, mais que isso, aos frutos que o caminho do
conhecimento conduz: o escrever. Repetindo Rubem Alves, escrever é: uma droga
que vicia, pois toda escrita “é uma partitura musical. As palavras são as
notas.” Se aquele que escreve “é um artista, se ele domina a técnica, se ele
desliza sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto – a beleza acontece.
E o texto apossa-se do corpo de quem” escreve. Mas se aquele que escreve “não
domina a técnica, se luta com as palavras, se não desliza sobre elas – a
leitura não produz prazer: queremos logo que ela acabe.”... Só deveria escrever
aquele que está possuído pelo texto que escreve. Então “deveria ser
estabelecida nas nossas escolas a prática dos” “concertos de escrita.”
Escrevendo, experimentarão o prazer de escrever. “E acontecerá com a”
escrita “o mesmo que acontece com a música: depois de termos sido tocados pela
sua beleza, é impossível esquecer”. O texto escrito com alma possui sons,
musicalidade, em suas letras, palavras, frases e pontuações.
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