5 de junho de 2015

Anotações sobre a Negação

 “A antítese entre subjetivo e objetivo não existe desde o início”.

O mecanismo da associação permite a articulação dos conteúdos revelados, seja pela fala ou ações em seus representantes inconscientes. É assim que negar pode ser afirmar, pois a substituição de representantes, faz parte da flexibilização da repressão que permite o alívio dos sintomas. Então o mecanismo da negação permite que o inconsciente revele sentimentos, conflitos, sofrimentos, que de outra forma não seria possível. Negar é uma forma de tomar conhecimento dos sentimentos, sofrimentos reprimidos. O reprimido flexibiliza ante ao teste de realidade, para se revelar. Pode ser uma primeira aceitação do que está reprimido. Aceitar intelectualmente pela negação é um passo para afastar a barreira da repressão. “Afirmar ou negar o conteúdo dos pensamentos” faz parte do juízo de valor positivo ou negativo a ser enriquecida pela reflexão, interpretação, interrogação. Isso diz respeito à confirmação da representação na realidade, o que quer dizer excluir aquilo que pode ser ruim ou bom para a auto imagem do ego ou para seu contato com a realidade. Esse teste de realidade diz respeito se determinado conteúdo será integrado ao ego, se está como representação no ego. Há que interrogar se o que é real é o interno ou o externo ou as duas funções podem ser real, fantasiosas, delirantes. Como a antítese entre subjetivo e objetivo não é possível, então um objeto de satisfação deve possuir o atributo de “bom” no ego e no mundo social, ou reencontrá-lo no social, o que nem sempre é possível. A linha “divisória” entre as representações e o teste de realidade é ilusória e passa por deformações nos movimentos de ação e reação, de afirmação e negação, da integração ou expulsão de objetos pelo ego. Se afirmar os conflitos internos é caminhar para integração e união do ego, negar é caminhar para destruição e negativismo. Assim o inconsciente se revela de forma negativa quando a defesa não tem como sustentar uma afirmativa.


Referência
FREUD, S. A NEGATIVA (1925). Obras Completas de Psicanálise - volume XIX. Rio de Janeiro, Imago-1996.

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