Aquilo
para o qual Freud considera “complexo de Édipo” trata-se da escolha do objeto
sexual. Se essa escolha direciona-se para o pai ou para a mãe ou o que contem
de desejo em relação aos dois é uma questão que remete a subjetividade do
sujeito. Em um percurso “linear” a menina desejará o objeto de desejo da mãe e
o menino o objeto de desejo do pai, mas essa suposta linearidade é muito mais
complexa, pois há que se interrogar como essas figuras parentais elaboraram
suas escolhas objetais e como se delineiam, em função dessas, os romances
familiares, e como a lei simbólica é internalizada pelo sujeito. Freud nos diz
que o complexo de Édipo “se encaminhará para a destruição por sua falta de
sucesso”, mas o que vemos é que, o que ele designa por sucesso ou insucesso é
da ordem do recalque, da lei simbólica, ou seja, as contingências da vida ou o
destino que o sujeito dará ao seu desejo. A elaboração da provação edipiana é
questão para uma vida ou não. O que a clínica tem revelado é que os conflitos
com as figuras parentais tem uma pulsão, que remete ao desejo objetal. Tentar
realizar no outro, na escolha do parceiro ou parceira aquilo que não foi
possível realizar com sua escolha de desejo primária é sempre uma questão de
confronto com o próprio desejo e escolhas. É no contexto das experiências
sexuais da infância ou no contexto da “castração” que a escolha será nebulosa e
recalcada, revelando tão logo uma sintomatologia de sofrimento inconsciente ou
uma pacificação com o próprio desejo. Essa circunstância existencial do
desenvolvimento vem num crescendo desde o nascimento e suas perdas do seio
materno, a passagem ao controle esfincteriano, do desenvolvimento motor e da
fala. Portanto é uma gama de mudanças nem sempre fácil de resinificar; e
que o brincar nem sempre vai dar conta dessa complexidade de questões e
conflitos. Uma “escolha” objetal primária deve demandar um tempo psíquico para
ser elaborada.
Referência
FREUD, S. A
DISSOLUÇÃO DO COMPLEXO DE ÉDIPO (1924). Obras
Completas de Psicanálise - volume XIX. Rio de Janeiro, Imago-1996.
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