5 de novembro de 2015

Pensar o Movimento Psíquico

O artigo “Sobre Psicanálise” escrito por Freud para o Congresso Médico Australasiano, contém uma articulação dos conceitos que norteia a psicanálise, que vai desde a compreensão dos ‘sintomas’ como resíduos de ‘reminiscências’ de experiências traumáticas, que foram ‘esquecidas’ no profundo ‘inconsciente’, ‘reprimidas’, não foram reelaboradas, liberando sua carga patológica quando flui pelo ‘consciente’ ou em seu trajeto nos sintomas do corpo. Mas a ‘associação livre’ permite a articulação do pensamento e da fala pelas suas representações. Na compreensão de que os processos psíquicos são dinâmicos, pois sua condução psiquismo-corpo e suas enervações são ininterruptas. A técnica da interpretação permite que o sujeito se interrogue ao invés de interrogar o outro e encontre como as “dissociações psíquicas”, se articulam com a repressão. O que “aparece” são os sintomas, como “produtos finais dos conflitos que levam a repressão, sejam como substitutos, como conciliações com o reprimido ou como formações reativas a repressão. Os sintomas apresentam destinos diversos, de acordo com o desejo do sujeito e o destino que este dá a ele. Se os infantilismos apresentam uma disposição a neurose, as obsessões à psicose e as perversões apresentam inibições de desenvolvimento assimétricos, é pensar como as diversas representações podem ser compreendidas como algo normal e apresenta-se como perverso para um dos envolvidos, pois aqueles não farão conversão, os sintomas no corpo. Por certo que as exigências culturais feitas à humanidade, vão exigir dos sujeitos sacrifícios maiores ou menores de renuncia, de acordo com a vida instintual, a subjetividade e quanto cada um consegue simbolizar. “O instinto sexual possui em alto grau a capacidade de ser desviado dos objetivos sexuais diretos e ser dirigido no sentido de metas mais elevadas, que não são mais sexuais (‘sublimação’). O instinto fica assim capacitado a efetuar contribuições muito importantes às realizações sociais e artísticas da humanidade”. Como o perfeito equilíbrio mental é tarefa da metafísica e exige sacrifícios extenuantes, a vida mental vai apresentar em sua estrutura diversos traços neuróticos, psicóticos e perversos. Saber quais são predominantes, se alternam ou se isolam depende do grau de normalidade em evolução. Como os pensamentos são disfarçados pelo imaginário, pelas fantasias, pelos significantes e pela repressão, desvelar as verdades internas de cada sujeito, exige grande esforço pessoal, muito tempo e porque não dizer esforço moral e intelectual.

Referências
FREUD, S. SOBRE A PSICANÁLISE (1913 [1911]). Obras Completas de Psicanálise - volume XII. Rio de Janeiro, Imago-1996.

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