"Também a
psicologia é uma ciência natural. O que mais pode ser? Mas seu caso é
diferente. Nem todos são bastante audazes para emitir julgamento sobre assuntos
físicos, mas todos — tanto o filósofo quanto o homem da rua — têm sua opinião
sobre questões psicológicas e se comportam como se fossem, pelo menos,
psicólogos amateurs. E
agora vem a coisa notável. Todos — ou quase todos — concordaram que o que é
psíquico tem realmente uma qualidade comum na
qual sua essência se expressa, a saber, a qualidade de ser consciente — única, indescritível, mas sem
necessitar de descrição. Tudo o que é consciente, dizem eles, é psíquico, e,
inversamente, tudo o que é psíquico é consciente; isso é autoevidente e
contradizê-lo é absurdo. Não se pode dizer que essa decisão lance muita luz
sobre a natureza do psíquico, pois a consciência é um dos fatos fundamentais de
nossa vida e nossas pesquisas dão contra ele como contra uma parede lisa, e não
podem encontrar qualquer caminho além. Ademais, a igualação do que é mental ao
que é consciente tem o resultado incômodo de divorciar os processos psíquicos
do contexto geral dos acontecimentos no universo e de colocá-los em completo
contraste com todos os outros. Mas isso não serviria, uma vez que não se pode
desprezar por muito tempo o fato de que os fenômenos psíquicos são em alto grau
dependentes das influências somáticas e o de que, por seu lado, possuem os mais
poderosos efeitos sobre os processos somáticos. Se alguma vez o pensamento
humano se encontrou num impasse,
foi aqui. Para descobrir uma saída, os filósofos, pelo menos, foram obrigados a
presumir que havia processos orgânicos paralelos aos processos psíquicos
conscientes, a eles relacionados de uma maneira difícil de explicar, que
atuavam como intermediários nas relações recíprocas entre ‘corpo e mente’, e
que serviam para reinserir o psíquico na contextura da vida”.
Referência
FREUD, S. ALGUMAS
LIÇÕES ELEMENTARES DE PSICANÁLISE (1940 [1938]). Obras Completas de Psicanálise
- volume XXIII. Rio de Janeiro, Imago-1996.
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