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Continuamos de: https://caminhosdapsiq.blogspot.com.br/2016/11/a-contextura-psiquica-do-odio_11.html
5. O Sadismo como expressão do ódio
Como o sentimento de culpa e o remorso não
habita o sadismo porque esse é a negação do ser encarnado, porque para que ele
se realize é necessário “apoderar-se” do outro e negá-lo enquanto sujeito
desejante. Em uma estrutura psíquica em que o sadismo ocupa grandes marcas, há
que realizar um esforço para possui o outro pela violência; e aqui podemos
entender violência em todos os significantes possíveis: violência psicológica,
(ameaças, humilhações, intimidações, mentiras, manipulações e dissimulações
subjetivas, traições, trapaças, indiferenças, as fantasias de que o outro
corresponde a seu desejo sádico, etc.), violência ligada a estruturas de poder
(arrogância, vaidade, egoísmo) e violência física. É assim que o sádico despe o
sujeito para esconder-se de si mesmo, pois na contrapartida desses
significantes, há um ser que se apresenta como fazendo parte da lei, dócil e
gentil, e muitas vezes se colocando como espiritualizado. “Quanto ao
tipo de encarnação que o sadismo gostaria de realizar, trata-se daquilo que
chamamos de Obsceno” (Sartre, p.496). Como o sádico alimenta a ilusão que domina e conhece a
subjetividade de seu objeto, a grande armadilha que ele se coloca é a
imprevisibilidade do psíquico do outro, sua angústia é descobrir um outro
inacessível. Então desconstruir, torturar o outro, torná-lo desequilibrado, de
caráter duvidoso, obseno, passional é parte da estratégia sádica para dominá-lo
de forma privada e pública. “o que o sádico busca com tal tenacidade, o que almeja amassar com as
mãos e submeter com os punhos é a liberdade do Outro: ela está ai nesta carne;
ela é carne, posto que haja uma facticidade do Outro; portanto, é da liberdade
que o sádico tenta apropriar-se” (Sartre, p.500). Para isso é
necessário a dor, psíquico-física, como prova da servidão da liberdade do
Outro, para que este se humilhe, renegue a si mesmo, satisfazendo a vontade de
poder do sádico. A vontade de poder é o sangue que o alimenta.
A vontade de poder, de dominar é uma forma de
gozo, que na passagem ao ato mascara o ser faltante, "desprovido" de
falo. É dessa insegurança da energia fálica, que Sartre irá dizer que “o sádico
compraz-se em obter uma regeneração pela tortura... Por isso o momento do
prazer, para o verdugo, é aquele em que a vitima renega ou humilha a si mesma” (Sartre,
p.500). Então para o sádico a vítima humilhar-se e pedir perdão, esvazia-o, mas
se a vítima resiste é mais prazeroso. Como o sentido de poder faz com que ele
se sinta com todo o tempo do mundo “é calmo, não tem pressa, dispõe de seus
instrumentos como um técnico, testa uns atrás dos outros, tal como chaveiro
testa diversas chaves em uma fechadura; saboreia esta situação ambígua e
contraditória: de um lado, com efeito, faz o papel de quem, no cerne do
determinismo universal, dispõe pacientemente dos meios com vistas a um fim que
será alcançado automaticamente – tal como a fechadura se abrirá automaticamente
quando o chaveiro encontrar a chave “certa”; por outro lado esse fim
predeterminado só pode ser realizado com a livre e total adesão do Outro” (Sartre,
p.501). E assim, ele sem o saber do resultado final, pois sua vaidade,
arrogância e vontade de poder o entorpece, ele não se dá conta, que a
subjetividade do outro é livre e pode ser detentora de uma autonomia e
resiliência, que o percebe, sem se deixar perceber. Não é possível um sadismo
fora do campo da perversão, porque o sadismo como a perversão se compraz no
sofrimento do outro. Pode-se até dizer que o sadismo é uma das expressões, um
sintoma da perversão. A questão é que as estruturas psíquicas alimentam-se de
afetos. E o ódio enquanto afeto é alimentado pelo sadismo. Quem odeia, precisa
subjugar. E pelo ódio só há um caminho para subjugar: o sadismo. Como esses
significantes compõe a estrutura perversa, há que possuir recursos psíquicos
para colocá-los sobre um véu, que possibilite ignorar a lei.
O sadismo faz parte do desejo perverso, pelo
reverso do seu fracasso. Sempre que se aborda a questão do ódio pela
representação do sadismo, aparece o seu contraponto que se afasta da passagem
ao ato do perverso, mas que de alguma forma o constitui, que é o masoquismo;
algoz e vítima, senhor e escravo, são uma dualidade dialética, que pode
confluir ou não. Se conflui vamos ter o sadomasoquismo, se não temos estruturas
diferentes no seu reverso que é a neurose. “Quanto mais o sádico se obstina em tratar o
Outro como instrumento, mais esta liberdade lhe escapa” (Sartre,
P.502). O nada ao qual o sádico se depara é quando ele olha ou fala com sua
“vitima” e percebe que está alienado pela sua “vitima”, não tem como agir sobre
a liberdade do outro, e que por mais que a humilhe, ele não tem como apreender
sua liberdade. A base da relação com o outro é a relação consigo próprio e a
história do sujeito. Se essa relação é de amor-desejo, está inserida na lei, se
é de ódio-sadismo, ignora a lei.
(Referências na Síntese
do artigo, quando for publicado)
Continuamos de: https://caminhosdapsiq.blogspot.com.br/2016/11/a-contextura-psiquica-do-odio_11.html
5. O Sadismo como expressão do ódio
Como o sentimento de culpa e o remorso não
habita o sadismo porque esse é a negação do ser encarnado, porque para que ele
se realize é necessário “apoderar-se” do outro e negá-lo enquanto sujeito
desejante. Em uma estrutura psíquica em que o sadismo ocupa grandes marcas, há
que realizar um esforço para possui o outro pela violência; e aqui podemos
entender violência em todos os significantes possíveis: violência psicológica,
(ameaças, humilhações, intimidações, mentiras, manipulações e dissimulações
subjetivas, traições, trapaças, indiferenças, as fantasias de que o outro
corresponde a seu desejo sádico, etc.), violência ligada a estruturas de poder
(arrogância, vaidade, egoísmo) e violência física. É assim que o sádico despe o
sujeito para esconder-se de si mesmo, pois na contrapartida desses
significantes, há um ser que se apresenta como fazendo parte da lei, dócil e
gentil, e muitas vezes se colocando como espiritualizado. “Quanto ao
tipo de encarnação que o sadismo gostaria de realizar, trata-se daquilo que
chamamos de Obsceno” (Sartre, p.496). Como o sádico alimenta a ilusão que domina e conhece a
subjetividade de seu objeto, a grande armadilha que ele se coloca é a
imprevisibilidade do psíquico do outro, sua angústia é descobrir um outro
inacessível. Então desconstruir, torturar o outro, torná-lo desequilibrado, de
caráter duvidoso, obseno, passional é parte da estratégia sádica para dominá-lo
de forma privada e pública. “o que o sádico busca com tal tenacidade, o que almeja amassar com as
mãos e submeter com os punhos é a liberdade do Outro: ela está ai nesta carne;
ela é carne, posto que haja uma facticidade do Outro; portanto, é da liberdade
que o sádico tenta apropriar-se” (Sartre, p.500). Para isso é
necessário a dor, psíquico-física, como prova da servidão da liberdade do
Outro, para que este se humilhe, renegue a si mesmo, satisfazendo a vontade de
poder do sádico. A vontade de poder é o sangue que o alimenta.
A vontade de poder, de dominar é uma forma de
gozo, que na passagem ao ato mascara o ser faltante, "desprovido" de
falo. É dessa insegurança da energia fálica, que Sartre irá dizer que “o sádico
compraz-se em obter uma regeneração pela tortura... Por isso o momento do
prazer, para o verdugo, é aquele em que a vitima renega ou humilha a si mesma” (Sartre,
p.500). Então para o sádico a vítima humilhar-se e pedir perdão, esvazia-o, mas
se a vítima resiste é mais prazeroso. Como o sentido de poder faz com que ele
se sinta com todo o tempo do mundo “é calmo, não tem pressa, dispõe de seus
instrumentos como um técnico, testa uns atrás dos outros, tal como chaveiro
testa diversas chaves em uma fechadura; saboreia esta situação ambígua e
contraditória: de um lado, com efeito, faz o papel de quem, no cerne do
determinismo universal, dispõe pacientemente dos meios com vistas a um fim que
será alcançado automaticamente – tal como a fechadura se abrirá automaticamente
quando o chaveiro encontrar a chave “certa”; por outro lado esse fim
predeterminado só pode ser realizado com a livre e total adesão do Outro” (Sartre,
p.501). E assim, ele sem o saber do resultado final, pois sua vaidade,
arrogância e vontade de poder o entorpece, ele não se dá conta, que a
subjetividade do outro é livre e pode ser detentora de uma autonomia e
resiliência, que o percebe, sem se deixar perceber. Não é possível um sadismo
fora do campo da perversão, porque o sadismo como a perversão se compraz no
sofrimento do outro. Pode-se até dizer que o sadismo é uma das expressões, um
sintoma da perversão. A questão é que as estruturas psíquicas alimentam-se de
afetos. E o ódio enquanto afeto é alimentado pelo sadismo. Quem odeia, precisa
subjugar. E pelo ódio só há um caminho para subjugar: o sadismo. Como esses
significantes compõe a estrutura perversa, há que possuir recursos psíquicos
para colocá-los sobre um véu, que possibilite ignorar a lei.
O sadismo faz parte do desejo perverso, pelo
reverso do seu fracasso. Sempre que se aborda a questão do ódio pela
representação do sadismo, aparece o seu contraponto que se afasta da passagem
ao ato do perverso, mas que de alguma forma o constitui, que é o masoquismo;
algoz e vítima, senhor e escravo, são uma dualidade dialética, que pode
confluir ou não. Se conflui vamos ter o sadomasoquismo, se não temos estruturas
diferentes no seu reverso que é a neurose. “Quanto mais o sádico se obstina em tratar o
Outro como instrumento, mais esta liberdade lhe escapa” (Sartre,
P.502). O nada ao qual o sádico se depara é quando ele olha ou fala com sua
“vitima” e percebe que está alienado pela sua “vitima”, não tem como agir sobre
a liberdade do outro, e que por mais que a humilhe, ele não tem como apreender
sua liberdade. A base da relação com o outro é a relação consigo próprio e a
história do sujeito. Se essa relação é de amor-desejo, está inserida na lei, se
é de ódio-sadismo, ignora a lei.
(Referências na Síntese
do artigo, quando for publicado)
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