Há que lembrarmos para não esquecermos,
que alguns fragmentos, devem ser revelados como foram originados, concebidos,
pela importância que possuem, e pela grandeza de suas implicações. A caminho
das reflexões de análise terminável e interminável, assim seguimos.
...
“a psicanálise originou-se como método de tratamento; ela o desenvolveu muito,
mas não abandonou seu chão de origem e ainda está vinculada ao seu contato com
os pacientes para aumentar sua profundidade e se desenvolver mais. As
informações acumuladas, de que derivamos nossas teorias, não poderiam ser
obtidas de outra maneira. As falhas que nós, na qualidade de terapeutas, encontramos
constantemente nos propõem novas tarefas, e as exigências da vida real estão
efetivamente em guarda contra um exagero da especulação, da qual não podemos,
afinal, prescindir em nosso trabalho. Já faz muito tempo, debati os meios
usados pela psicanálise para auxiliar os pacientes, quando os auxilia, e o
método pelo qual o faz; hoje perguntarei sobre quanto ela realiza”.
“A
psicanálise é realmente um método terapêutico como os demais. Têm seus triunfos
e suas derrotas, suas dificuldades, suas limitações, suas indicações... É mais
correto examinar as próprias experiências do indivíduo. E aqui gostaria de
acrescentar que não penso poderem as nossas curas competir com as que se
verificam em Lourdes. São muito mais numerosas as pessoas que creem nos
milagres da Santa Virgem, do que aquelas que acreditam na existência do
inconsciente. Se nos voltarmos para os competidores deste mundo, devemos
comparar o tratamento psicanalítico com outros tipos de psicoterapia. Mal se
pode mencionar, aqui, os atuais métodos orgânicos de tratamento dos estados
neuróticos. A análise, enquanto método psicoterapêutico, não se situa em
oposição a outros métodos usados nesse ramo especializado da medicina; não lhes
diminui o valor e nem os exclui. Não há nenhuma incoerência teórica se um
médico, que gosta de se dizer psicoterapeuta, usa a análise em seus pacientes
paralelamente a algum outro método de tratamento, segundo as peculiaridades do
caso e as circunstâncias externas favoráveis ou desfavoráveis. É realmente a
técnica que obriga à especialização na prática da medicina... A atividade
psicanalítica é árdua e exigente; não pode ser manejada como um par de óculos
que se põe para ler e se tira para sair a caminhar. Via de regra, a psicanálise
possui um médico inteiramente, ou não o possui em absoluto”.
Referência
FREUD, S.. - CONFERÊNCIA XXXIV - EXPLICAÇÕES, APLICAÇÕES E ORIENTAÇÕES (1933 [1932]) - Obras Completas de Psicanálise
- volume XXII. Rio de Janeiro, Imago-1996.
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