29 de abril de 2014
20 de abril de 2014
Pensando a estrutura tonal do inconsciente...
Muito se
fala sobre musica e terapia, ou a música enquanto instrumento terapêutico.
Quando pensamos em o inconsciente e a música, há que lembrarmos de que a
tonalidade exerce uma influência pouco estudada. Confúcio acreditava que a boa
música poderia ajudar a aprimorar o caráter do homem. Disse ele:
“A música
do homem de espírito nobre, suave e delicada, conserva um estado d’alma
uniforme, anima e comove. Um homem assim não abriga o sofrimento nem o luto no
coração; os movimentos violentos e temerários lhe são estranhos. Mais do que
isso: uma vez que os indivíduos são os materiais básicos de construção da
sociedade, a música também poderia afetar nações inteiras, melhorando-as ou
piorando-as”.
No filme
Atravessando a Ponte (O som de Istambul) – Fatih Akin faz um percurso pelo
mundo dos sons e começa por citar Confúcio: “Se alguém desejar saber se um
reino é bem ou mal governado, se a sua moral é boa ou má, examine a qualidade
da sua música, que lhe fornecerá a resposta. Para se entender a cultura de um
lugar você precisa ouvir a música que é feita ali”.
Como diz “a musica sempre conta tudo sobre o lugar.
Istambul é uma ponte cruzada por 72 nações”. A interessante fala de Orham
Gencebay de que “na música ocidental são usados os compassos 2/4, 3/4, 4/4 em
grupos de 3, por exemplo: 12/8 fica: 3, 3, 3... 3, 3, 3... 3, 3, 3... na
Turquia usa-se o compasso 5/8: 1, 2... 1, 2, 3... é o que chamam de “acento
turco”. 1, 2... 1, 2... 1, 2... 1, 2, 3... divide-se em 9 tempos. O
ocidente é limitado em termos de sons, porque não olha os sons do mundo”. Questão
interessante, pois o oriente não se desvincula da concepção filosófica que
permeia a Ásia que são os escritos de Confúcio e Lao Tsé, como se compreende os
números e dessa forma como se divide as tonalidades de forma que mantém a
harmonia da melodia no sentido da harmonia psíquica e espiritual. Importante
ressaltar que a música no oriente é emotiva, fala de sentimentos, que o
ocidente compreende em uma concepção materialista. É certo que a música
confere uma emoção diferente às vivências, imagens. Como se estas adquirissem
mais força. Fica a interrogação: Quais as tonalidades musicais do psiquismo?
Transcende a cultura?
17 de abril de 2014
16 de abril de 2014
O Desenlace da Constelação Familiar na Escuta Analítica
“A
constelação – por que não, no sentido que dela falam os astrólogos? -, a
constelação original que presidiu ao nascimento do sujeito, ao seu destino e
quase diria à sua pré-história, a saber, as relações familiares fundamentais
que estruturam a união dos pais, mostra ter uma relação muito precisa, e talvez
definível por uma formula de transformação, com o que aparece como o mais
contingente, o mais fantasístico, o mais paradoxalmente mórbido de seu caso, a
saber, o último estado de desenvolvimento de sua grande apreensão obsedante,
roteiro imaginário a que chega como se fosse à solução da angústia ligada ao
desencadeamento da crise. A constelação do sujeito é formada na tradição
familiar pelo relato de um certo número de traços que especificam a união dos pais”...
(Lacan, p.19)
Apropriada
fala de Lacan, pois desde os estudos freudianos naquilo que ele denominou
“a construção da história do sujeito”, que os estudos referentes ao psiquismo
“navegam em águas turbulentas” sem encontrar “um porto em que possa atracar” e
pesquisar. A escuta analítica é tão complexa, que transcende o inconsciente, a
livre associação, uma vez que a teia de relações da história do sujeito, com
sua arquitetura inconsciente é como um emaranhado, onde desejo, lembranças,
recalque, resistência, afinidades, tradições, enlaçam o sujeito no sentido de
que este não se desprenda e encontre seu desejo, sua essência, sua autonomia,
sua identidade, seu caminho. Encontrar “por assim dizer” o “fio da meada” é uma
tarefa para a fenomenologia ou para a metafísica. O materialismo enquanto
teoria do conhecimento, “não dá conta dessa questão”, do desenlace da
constelação familiar do sujeito, na compreensão e resinificação de
sua história, sem precipitar-se na biologia e no dilema mente-corpo.
Referência
LACAN,
Jacques - O Mito Individual do Neurótico – Jorge Zahar Editores, 2008
8 de abril de 2014
"Unsung Hero" (Official HD) : TVC Thai Life Insurance 2014 : โฆษณาไทยประ...
Simplesmente maravilhoso! O planeta necessita dessas ações amorosas!
5 de abril de 2014
Poesia - Então...
Ausência...
imensa...
tão
grande, que dói...
uma
dor “sem fim”...
não
posso ver você...
uma
dor que não cessa...
como
se respirar não fosse possível...
então,
peregrina... a procura dos similares...
espero
sua imagem... que está em mim...
do
lugar, do tempo...
difícil
ser estrangeira....
viver
em lugares... com almas.... que não amam...
sem
lugar para descansar...
difícil
ser estrangeira...
andar
por caminhos... sem ver você...
difícil
ser estrangeira...
viver
“sozinha”... solidão d’alma...
profunda
dor... .
difícil
ser estrangeira...
encarcerada....
sem poder voar...
encontrar
sua imagem...
Myriam’aya
4 de abril de 2014
Reflexões sobre Comoção Psíquica - Trauma
Para falar sobre trauma, há que nos
lembramos do excelente filme “Separados pelo Destino”, baseado no romance “Aftershock”
de Zhang Ling e dirigido por Feng Xiaogang. Não vamos aqui fazer uma análise da
subjetividade que envolve seus personagens na tragédia, mesmo por que “sobreviver
é apenas o começo”. Vários estudiosos pensaram na concepção de trauma. Freud em
seus diversos escritos utilizou essa concepção, mas ao estudar a sexualidade
infantil implicou o sujeito em sua história e de certa forma retira da
expressão “trauma” a concepção de um sujeito que não se implica, seja pelo
masoquismo ou pelo sadismo. Ferenczi, amigo estimado de Freud, centra muito dos
seus estudos na questão do trauma. O trauma é então tido como um “choque”, “é equivalente à aniquilação do sentimento
de si, da capacidade de resistir, agir e pensar com vistas à defesa do si
mesmo” (p. 125). Ocasiona um impacto psíquico, que faz também seu sintoma
no corpo e um impacto no corpo, pois para a preservação de si mesmo os órgãos
reduzem suas atividades. É então que surge a expressão “comoção psíquica”, ou
seja, o trauma é então semelhante a algo que desmorona, desagrega. Ocorre de
forma “imprevista”. Quando algo “parecia” seguro, desmorona e a confiança nas
pessoas, situações, é abalada. Os noticiários enfatizam as diversas tragédias
humanas, sejam no âmbito familiar, da sociedade, nos países ou na natureza.
Vivemos na sociedade da insegurança, do medo e da ameaça. Assim é como se “de
repente”, algo pudesse inesperadamente causar uma comoção física, psíquica. Há
sempre uma reação de defesa, pois o corpo e o psiquismo possuem sempre
estruturas de defesa, sejam quais forem. Como diz Ferenczi, “até a minhoca se
empina”. Mesmo diante da morte os órgãos lutam até a última de suas forças para
viver, para evitar o choque, a comoção, que inexoravelmente virá.
Diante dessa maior comoção
psíquica e física, que é a morte, muitos sentimentos que a antecipam ainda
permanecem no plano da vida material. Muitos relatam que teriam dedicado mais
tempo aos amigos, à família, que teriam trabalhado menos, viajado mais, teriam
feito o trabalho que sonharam, mas difícil alguém expressar, que teria amado
mais do que odiado, teria servido mais do que exigido, teria tido menos
ressentimentos, teria buscado o autoconhecimento, teria disputado menos, teria
ajudado mais, teria procurado ser mais justo, teria sido menos vaidoso,
arrogante. Teria sublimado mais os impulsos e instintos primitivos, teria sido
mais fiel aos princípios e virtudes, mesmo os que não estivessem na moda. Teria
buscado uma vida com mais sublimidade espiritual. Não teria machucado ninguém,
magoado. Teria tido tempo para sempre ouvir e uma palavra amiga confortadora.
Teria tido compreensão e compaixão para com todos.
Assim diante de uma comoção psíquica a
angústia é inevitável. Como não é possível uma imediata transformação do mundo
circundante, é possível uma representação, uma “reação substitutiva” em relação
a uma mudança futura num sentido favorável. É o que de certa forma faz com que
se suporte o desprazer. Fugir das lembranças, do sofrimento mudo, através de
lugares ou representações é um alento para evitar a autodestruição. E “o mais fácil de destruir em nós é a
consciência, a coesão das formações psíquicas numa entidade: é assim que nasce
a desorientação psíquica” (Ferenczi, p.127). A desorientação psíquica possibilita
um escape do sofrimento, suspende a percepção possibilitando a junção de alguns
fragmentos de princípio de prazer.
Todo esse mecanismo de defesa
funciona no sentido de barrar a inevitável angústia traumática, que possibilita
o medo da loucura. Essa configuração é visível nas pessoas que são vítimas de
manias de perseguição. Elas tentam proteger-se de perigos que imagina acontecer
consigo ou com seus afetos, através de um sentimento de onipotência, de tudo “poder
destruir” ou evitar. Em relação aos traumas que acontece na mais tenra idade,
há por parte dos adultos uma exigência a
criança, no sentido dela ser capaz de conviver com a situação traumática seja
por uma atitude heroica ou pelo silêncio, que a aliena dos significados do
ocorrido e de suas possibilidades de reelaboração e ressignificação. É função
da análise abrir caminho e percorrer esses labirintos do inconsciente, de forma
articulada com os sintomas. Fica a sugestão: “Separados pelo Destino”.
Referência
FERENCZI, Sándor – PSICANÁLISE IV
(1928). Obras Completas – São Paulo, Martins Fontes, 2011
https://www.youtube.com/watch?v=3yFbdrNlw2U
3 de abril de 2014
O Autoconhecimento e a Clínica em Psicologia
“Para tais
pessoas, a utilização de uma terminologia mitológica ou folclórica com
referência a fatos psicológicos é inteiramente "anticientífica".
Com este
preconceito as pessoas barram o próprio acesso à Psicologia e o caminho para um
ulterior desenvolvimento do homem interior cujo fracasso intelectual e moral é
uma das mais dolorosas constatações de nossa época. Quem tem alguma coisa a
dizer, fala em "dever-se-ia" ou em "seria preciso", sem
reparar que lastimosa situação de desamparo está ele, assim, confessando. Todos
os meios que recomenda são justamente aqueles que fracassaram. Em sua compreensão mais profunda, a
Psicologia é autoconhecimento. Mas como este último não pode ser fotografado,
calculado, contado, pesado e medido, é anticientífico. Mas, o homem psíquico,
ainda bastante desconhecido, que se ocupa com a ciência é também
"anticientífico" e, por isso, não é digno de posterior investigação? Se o mito não caracteriza o
homem psíquico, então seria preciso negar o ninho ao pardal e o canto ao
rouxinol. Temos motivos suficientes para admitir que o homem em geral tem uma
profunda aversão ao conhecer alguma coisa a mais sobre si mesmo, e que é aí que
se encontra a verdadeira causa de não haver avanço e melhoramento interior, ao
contrário do progresso exterior”.
JUNG, C.
G. - A NATUREZA DA PSIQUE (Prefácio) - Obras
Completas, Volume VIII/2 5ª Edição - Editora Vozes, Petrópolis, 2000
Essa
reflexão de Jung nos traz uma breve reflexão da clínica em psicologia na
atualidade. Procurar ajuda psicológica é difícil, pois a noção de incapacidade,
“autonomia”, o narcisismo, vaidade, a arrogância são impeditivos de
resistência. Quando muitas vezes essa demanda acontece, ou seja, a busca
terapêutica para um sofrimento psíquico, os valores vigentes na sociedade de
consumo são expressos como se essa busca terapêutica fosse um produto de
prateleira, onde assim que ocorre o acolhimento a escuta, os sintomas se atenuam,
a ansiedade e angústia reduz, abandona-se o percurso terapêutico, pois o
sofrimento foi minorado. A clínica em psicologia revela esse sintoma de consumo
da sociedade atual. Exige-se competência, experiência, espaço terapêutico
confortável, a um custo de R$15,00 a R$ 20,00 por sessão, e contraditoriamente
a visão de que esse valor diz respeito a inexperiência dos profissionais,
validado pelas universidades em nome do que se chama de “clínica social”. Mas
alcançar a nota do curso exigida pelo MEC (ENADE) é uma articulação de valor de
mercado, onde não existe uma articulação com a política de saúde mental, tão
pouco com o compromisso e competência dos profissionais. Há que lembrarmos não
fosse as incursões de Lacan, permanece, desde Breuer, Jung, Freud, um
abismo na articulação teórico-prática. A ideia que se tem é de uma clínica
conceitual. Repetem-se os conceitos como se isso revelasse o domínio
teórico-prático. Diagnóstico diferencial, não se fala. Recorre-se ao DSM. Se as
clínicas de psicologia universitárias, não dão conta da demanda e terceiriza
profissionais recém-formados por valores incompatíveis para se manter as
despesas de um consultório, o profissional vai sobreviver de que? Será que
estamos diante da chamada terceirização dos profissionais de psicologia em
clínica? Assim os cursos não valorizam os profissionais que formam. Essa lógica
que cerca esses serviços, em psicologia, não considera o número de pacientes
que frequentam e não pagam as consultas, o número de pacientes que marcam e não
comparece, o número de pacientes que não comparecem. Tão pouco articula suas
razões clínicas. Há os psicólogos que mantém uma sala alugada e tem poucos
pacientes, podendo cobrar acima da tabela do CRP, pois possuem outras fontes de
rendimentos (Empregos). Os profissionais que fazem opção pelo
mestrado/doutorado dedicam-se a academia ou ao Serviço Público. As estatísticas
de psicólogos que sobrevivem da clínica é trabalharem 14 horas por dia de
segunda a sábado. Em relação aos que trabalham com operadoras de saúde
necessitam atender pelo menos 10 pacientes por dia para sobreviverem.
Esse é apenas um levantamento superficial com alguns profissionais sobre as
dificuldades da clínica em psicologia, que está bem longe do glamour propalado
por profissionais, instituições e universidades. A realidade é de muito estudo,
dedicação, trabalho extenuante. Onde fica a trilogia análise
pessoal-supervisão-estudo? De glamour não tem nada, a não ser a fantasia e o
marketing dos cursos e de profissionais que não precisam da clínica para
sobreviver.
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