16 de abril de 2014

O Desenlace da Constelação Familiar na Escuta Analítica

“A constelação – por que não, no sentido que dela falam os astrólogos? -, a constelação original que presidiu ao nascimento do sujeito, ao seu destino e quase diria à sua pré-história, a saber, as relações familiares fundamentais que estruturam a união dos pais, mostra ter uma relação muito precisa, e talvez definível por uma formula de transformação, com o que aparece como o mais contingente, o mais fantasístico, o mais paradoxalmente mórbido de seu caso, a saber, o último estado de desenvolvimento de sua grande apreensão obsedante, roteiro imaginário a que chega como se fosse à solução da angústia ligada ao desencadeamento da crise. A constelação do sujeito é formada na tradição familiar pelo relato de um certo número de traços que especificam a união dos pais”... (Lacan, p.19)

Apropriada fala de Lacan, pois desde os estudos freudianos naquilo  que ele denominou “a construção da história do sujeito”, que os estudos referentes ao psiquismo “navegam em águas turbulentas” sem encontrar “um porto em que possa atracar” e pesquisar. A escuta analítica é tão complexa, que transcende o inconsciente, a livre associação, uma vez que a teia de relações da história do sujeito, com sua arquitetura inconsciente é como um emaranhado, onde desejo, lembranças, recalque, resistência, afinidades, tradições, enlaçam o sujeito no sentido de que este não se desprenda e encontre seu desejo, sua essência, sua autonomia, sua identidade, seu caminho. Encontrar “por assim dizer” o “fio da meada” é uma tarefa para a fenomenologia ou para a metafísica. O materialismo enquanto teoria do conhecimento, “não dá conta dessa questão”, do desenlace da constelação familiar do sujeito, na compreensão e resinificação de sua história, sem precipitar-se na biologia e no dilema mente-corpo.

Referência
LACAN, Jacques - O Mito Individual do Neurótico – Jorge Zahar Editores, 2008

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