“A
constelação – por que não, no sentido que dela falam os astrólogos? -, a
constelação original que presidiu ao nascimento do sujeito, ao seu destino e
quase diria à sua pré-história, a saber, as relações familiares fundamentais
que estruturam a união dos pais, mostra ter uma relação muito precisa, e talvez
definível por uma formula de transformação, com o que aparece como o mais
contingente, o mais fantasístico, o mais paradoxalmente mórbido de seu caso, a
saber, o último estado de desenvolvimento de sua grande apreensão obsedante,
roteiro imaginário a que chega como se fosse à solução da angústia ligada ao
desencadeamento da crise. A constelação do sujeito é formada na tradição
familiar pelo relato de um certo número de traços que especificam a união dos pais”...
(Lacan, p.19)
Apropriada
fala de Lacan, pois desde os estudos freudianos naquilo que ele denominou
“a construção da história do sujeito”, que os estudos referentes ao psiquismo
“navegam em águas turbulentas” sem encontrar “um porto em que possa atracar” e
pesquisar. A escuta analítica é tão complexa, que transcende o inconsciente, a
livre associação, uma vez que a teia de relações da história do sujeito, com
sua arquitetura inconsciente é como um emaranhado, onde desejo, lembranças,
recalque, resistência, afinidades, tradições, enlaçam o sujeito no sentido de
que este não se desprenda e encontre seu desejo, sua essência, sua autonomia,
sua identidade, seu caminho. Encontrar “por assim dizer” o “fio da meada” é uma
tarefa para a fenomenologia ou para a metafísica. O materialismo enquanto
teoria do conhecimento, “não dá conta dessa questão”, do desenlace da
constelação familiar do sujeito, na compreensão e resinificação de
sua história, sem precipitar-se na biologia e no dilema mente-corpo.
Referência
LACAN,
Jacques - O Mito Individual do Neurótico – Jorge Zahar Editores, 2008
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