O contar histórias é uma necessidade humana, pois
assim transmitimos às vivências, os contextos, as circunstancias, nossa
história. Com a psicanálise não foi diferente, pois se faz de um contar de
histórias, lembranças e esquecimentos, que necessitam ser relembrados. Quando a
psicanálise foi citada na décima primeira edição da então Enciclopédia
Britânica foi motivo de regozijo. Essa necessidade de registrar está em
nossa memória e suas infinitas ligações, carregadas de afetos. O processo
mental é carregado de uma energia, que pode manifestar-se através do corpo ou
de uma ação externa, que diz respeito a um “outro”. Nesses tempos de novas
tecnologias, pouco se fala de malformação de caráter, pois a flexibilização de
valores permite a malformação sem necessariamente revelá-la. Então mentir,
manipular, agredir, ameaçar, fazer críticas pejorativas, falar de forma a
intimidar, com duplo sentido, garantir ganhos secundários da situação de saúde
de alguém, praticar pequenos furtos de forma manipulada, bloquear número de
celular, e-mail, e inúmeras psicopatologias da vida cotidiana, que refletem os
problemas de caráter, passa a ser, apenas uma forma diferente da ordem de um
suposto “direito” de viver. Como nos tempos modernos muitos são os
recursos para negar o outro, fica facilitado o traço perverso.
No sentido de vencer a si mesmo, durante o
processo terapêutico, os sacrifícios e renuncias mentais que estão em jogo, não
são pequenos. As resistências internas grandes. Mas os esforços são sempre
recompensados. No binômio felicidade-sofrimento há que considerarmos a dinâmica, ou seja, como a ação das forças
mentais agem ajudando, fazendo conciliações, ou inibindo “umas às
outras”. Considerar a economia ou gasto de energia é pensar na
reserva de energia necessária que delineará os sintomas. A arquitetura psíquica é estruturada por um id
(inconsciente), onde estão todas as memórias, e um ego, com sua camada mais
externa que é a consciência (a qualidade dessa consciência, está vinculada a
lei simbólica) e um superego, que domina o id. Se acrescentarmos os binômios
vida-morte, alegria-tristeza vamos nos deparar com um psiquismo com um instinto
de autopreservação e de necessidade de relacionamento. É o desejo do Objeto, do
outro. O mecanismo psíquico diz respeito, então, ao equilíbrio de energia,
referente ao volume total de excitações que recebe no jogo vida-morte.
Assim a análise passa pelo reconhecimento da
repressão, que é a censura excluindo da consciência influências que a degrada.
No desenvolvimento da raça humana os instintos sexuais, de potência e poder
assumiram em diversas épocas prioridade para o ego, como uma forma de
“realização” de instintos primitivos, ou seja, um retorno ainda não drenado. Assim
diante de sua primeira provação, a trilogia familiar, a criança se defende na
tentativa de sair ilesa. Há que considerar os inúmeros fatores, o
amadurecimento emocional e o quanto é possível para essa alma sublimar. Nesse
sentido exerce papel importante o superego, como instancia moral “que domina o
ego”, ou seja, o quanto esse alcançou de evolução. Podemos pensar como Freud
que “o tratamento analítico atua como uma segunda educação do adulto, como um
corretivo da sua educação enquanto criança” e que a ligação que o sujeito faz
com o universo e suas leis o reconectam com sua espiritualidade.
Referência
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