2 de julho de 2015

O Tratamento Analítico como um Começo

O contar histórias é uma necessidade humana, pois assim transmitimos às vivências, os contextos, as circunstancias, nossa história. Com a psicanálise não foi diferente, pois se faz de um contar de histórias, lembranças e esquecimentos, que necessitam ser relembrados. Quando a psicanálise foi citada na décima primeira edição da então Enciclopédia Britânica foi motivo de regozijo. Essa necessidade de registrar está em nossa memória e suas infinitas ligações, carregadas de afetos. O processo mental é carregado de uma energia, que pode manifestar-se através do corpo ou de uma ação externa, que diz respeito a um “outro”. Nesses tempos de novas tecnologias, pouco se fala de malformação de caráter, pois a flexibilização de valores permite a malformação sem necessariamente revelá-la. Então mentir, manipular, agredir, ameaçar, fazer críticas pejorativas, falar de forma a intimidar, com duplo sentido, garantir ganhos secundários da situação de saúde de alguém, praticar pequenos furtos de forma manipulada, bloquear número de celular, e-mail, e inúmeras psicopatologias da vida cotidiana, que refletem os problemas de caráter, passa a ser, apenas uma forma diferente da ordem de um suposto “direito” de viver.  Como nos tempos modernos muitos são os recursos para negar o outro, fica facilitado o traço perverso.

No sentido de vencer a si mesmo, durante o processo terapêutico, os sacrifícios e renuncias mentais que estão em jogo, não são pequenos. As resistências internas grandes. Mas os esforços são sempre recompensados. No binômio felicidade-sofrimento há que considerarmos a dinâmica, ou seja, como a ação das forças mentais agem ajudando, fazendo conciliações, ou inibindo “umas às outras”.  Considerar a economia ou gasto de energia é pensar na reserva de energia necessária que delineará os sintomas. A arquitetura psíquica é estruturada por um id (inconsciente), onde estão todas as memórias, e um ego, com sua camada mais externa que é a consciência (a qualidade dessa consciência, está vinculada a lei simbólica) e um superego, que domina o id. Se acrescentarmos os binômios vida-morte, alegria-tristeza vamos nos deparar com um psiquismo com um instinto de autopreservação e de necessidade de relacionamento. É o desejo do Objeto, do outro. O mecanismo psíquico diz respeito, então, ao equilíbrio de energia, referente ao volume total de excitações que recebe no jogo vida-morte.

Assim a análise passa pelo reconhecimento da repressão, que é a censura excluindo da consciência influências que a degrada. No desenvolvimento da raça humana os instintos sexuais, de potência e poder assumiram em diversas épocas prioridade para o ego, como uma forma de “realização” de instintos primitivos, ou seja, um retorno ainda não drenado. Assim diante de sua primeira provação, a trilogia familiar, a criança se defende na tentativa de sair ilesa. Há que considerar os inúmeros fatores, o amadurecimento emocional e o quanto é possível para essa alma sublimar. Nesse sentido exerce papel importante o superego, como instancia moral “que domina o ego”, ou seja, o quanto esse alcançou de evolução. Podemos pensar como Freud que “o tratamento analítico atua como uma segunda educação do adulto, como um corretivo da sua educação enquanto criança” e que a ligação que o sujeito faz com o universo e suas leis o reconectam com sua espiritualidade.

Referência
FREUD, S. PSICANÁLISE (1926). Obras Completas de Psicanálise - volume XX. Rio de Janeiro, Imago-1996.

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