“A partir
do momento em que nos ocupamos do homem, tenhamos desconhecido essa dimensão
que parece, em qualquer outro lugar, viva, admitida, manejada corretamente no
sentido das ciências humanas, a saber: a autonomia da dimensão dialética como
tal.”
“A coisa
que se esquece é que o próprio do comportamento humano é a movência dialética
das ações, dos desejos, e dos valores que os faz não somente mudar a todo
momento, mas de maneira contínua, e até mesmo passar a valores estritamente
opostos em função de um rodeio do diálogo... A possibilidade de recolocar em
questão a cada instante o desejo, a afeição, e mesmo a significação mais
perseverante de uma atividade humana, a perpétua possibilidade de uma inversão
se sinal em função da totalidade dialética da posição do indivíduo, é
experiência tão comum que se fica estupefato de ver essa dimensão esquecida,
desde que se tem de lidar com um semelhante, que se quer objetivar.”
“Esquecida
ela nunca foi. Nós encontramos o seu traço cada vez que o observador se deixa
guiar pelo sentimento daquilo de que se trata. É na combinação dos fenômenos
que reside o segredo.” (p.34)
A
sociedade atual é a sociedade do controle, do medo, do legalizar as demandas,
sem compreender e interpretar suas lógicas subjetivas e patológicas, sem
compreender de qual movimento subjetivo faz parte, sua dialética interna. É
sobre essa dialética que se refere Lacan. Ela é especifica em cada sujeito e
assume uma velocidade e evolução própria, que não deve ser generalizada, embora
esteja no contexto de sua época, está submetida às leis do universo. Assim não
é possível colocar-se a frente do desejo do outro, alimentar a fantasia, o
delírio que é possível ter o “controle”, sobre algo que se move continuamente e
que a neurose obsessiva, os traços psicóticos, a psicose maníaca depressiva,
vive a angústia da tentativa, pela compulsão. É uma forma de barrar o
movimento, a fala, a expressão, o desejo do outro. Aniquilar o outro através de
um suposto controle, uma suposta normalidade, não deixa de ser, uma forma de
aniquilar a si próprio, de barrar o próprio desejo, de impedir sua própria
dialética, suas contradições o que não é possível, pois o sujeito que fala é um
sujeito denunciante de si mesmo.
Lacan, J.
O Seminário 3 – As
Psicoses – Rio de Janeiro,
Zahar – 2008.
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