18 de agosto de 2015

Fragmentos Lacanianos

“A partir do momento em que nos ocupamos do homem, tenhamos desconhecido essa dimensão que parece, em qualquer outro lugar, viva, admitida, manejada corretamente no sentido das ciências humanas, a saber: a autonomia da dimensão dialética como tal.”
“A coisa que se esquece é que o próprio do comportamento humano é a movência dialética das ações, dos desejos, e dos valores que os faz não somente mudar a todo momento, mas de maneira contínua, e até mesmo passar a valores estritamente opostos em função de um rodeio do diálogo... A possibilidade de recolocar em questão a cada instante o desejo, a afeição, e mesmo a significação mais perseverante de uma atividade humana, a perpétua possibilidade de uma inversão se sinal em função da totalidade dialética da posição do indivíduo, é experiência tão comum que se fica estupefato de ver essa dimensão esquecida, desde que se tem de lidar com um semelhante, que se quer objetivar.”
“Esquecida ela nunca foi. Nós encontramos o seu traço cada vez que o observador se deixa guiar pelo sentimento daquilo de que se trata. É na combinação dos fenômenos que reside o segredo.” (p.34)

A sociedade atual é a sociedade do controle, do medo, do legalizar as demandas, sem compreender e interpretar suas lógicas subjetivas e patológicas, sem compreender de qual movimento subjetivo faz parte, sua dialética interna. É sobre essa dialética que se refere Lacan. Ela é especifica em cada sujeito e assume uma velocidade e evolução própria, que não deve ser generalizada, embora esteja no contexto de sua época, está submetida às leis do universo. Assim não é possível colocar-se a frente do desejo do outro, alimentar a fantasia, o delírio que é possível ter o “controle”, sobre algo que se move continuamente e que a neurose obsessiva, os traços psicóticos, a psicose maníaca depressiva, vive a angústia da tentativa, pela compulsão. É uma forma de barrar o movimento, a fala, a expressão, o desejo do outro. Aniquilar o outro através de um suposto controle, uma suposta normalidade, não deixa de ser, uma forma de aniquilar a si próprio, de barrar o próprio desejo, de impedir sua própria dialética, suas contradições o que não é possível, pois o sujeito que fala é um sujeito denunciante de si mesmo.


Lacan, J. O Seminário 3 – As Psicoses – Rio de Janeiro, Zahar – 2008.

Nenhum comentário: