Para o
inconsciente e seus processos mentais, o tempo, como o compreendemos não
existe. Os eventos mentais não são ordenados temporalmente, não há sequencia de
eventos no tempo. O tempo só pode alterá-los através da reflexão interna, que
permita se implicar, “responsabilizar-se” no sentido do autoconhecimento, mesmo
bombardeado pelos mais diversos estímulos interno e externos. Em relação ao processo
da consciência, desde o início de sua formação o córtex recebe informações do
interior e do exterior. “No
sentido do interior, não pode haver esse escudo; as excitações das camadas mais
profundas estendem-se para o sistema diretamente e em quantidade não reduzida,
até onde algumas de suas características dão origem a sentimentos da série
prazer-desprazer” (p.39). É o
processo de formação de memória. A arquitetura psíquica é tão perfeita que os
sentimentos de prazer e desprazer internos predominam, sobre os sentimentos
externos e se esses sentimentos intensos forem de desprazer há uma inversão
como se esses sentimentos fossem externos, viessem do Outro. Assim o Outro como
escudo é o mecanismo de defesa que se chama “projeção”, esse mecanismo é o responsável
por processos psíquicos patológicos, pois o sujeito não se implica consigo
mesmo.
Os traumas
são inerentes à vida e habitam o inconsciente. Mas uma vez originados no mundo
externo, necessitam ultrapassar uma barreira de defesa para que o sofrimento,
os sintomas possam emergir e revelar-se no comportamento e no corpo construindo
um vínculo, que permita ao sujeito dar outros significados, que retorna da
periferia ao núcleo dos estímulos internos. Para que esse mecanismo de
“retorno”, modificado, aconteça é necessário uma carga maior de energia, que é
captada de todos os sistemas psíquicos na possibilidade de selar uma possível
ruptura, bloqueando o sofrimento. Assim a energia que flui necessita de
descarga e assim entrar em repouso. Então o trauma psíquico é consequência de
uma ruptura no escudo psíquico protetor dos estímulos. O susto é a baixa
energia na recepção dos estímulos. “O
fato de a camada cortical que recebe os estímulos achar-se sem qualquer escudo
protetor contra as excitações provindas do interior deve ter como resultado que
essas últimas transmissões de estímulos possuam uma preponderância em
importância econômica e amiúde ocasionem distúrbios econômicos comparáveis às
neuroses traumáticas. As mais abundantes fontes dessa excitação interna são
aquilo que é descrito como os ‘instintos’ do organismo, os representantes de
todas as forças que se originam no interior do corpo e são transmitidas ao
aparelho mental, desde logo o elemento mais importante e obscuro da pesquisa
psicológica” (p.45). O fato
dos estímulos internos possuírem uma força instintual capaz de formar sintomas,
independente do princípio do prazer, e do princípio de realidade, desencadeando
a compulsão à repetição é uma forma de retomar o princípio de prazer, é a
re-experiência de algo que foi importante, de outra forma, que possa ser resinificada.
Referência
FREUD, S.
ALÉM DO PRINCÍPIO DE PRAZER (1920). Obras Completas de Psicanálise - volume
XVIII. Rio de Janeiro, Imago-1996.
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