7 de setembro de 2015

“o princípio do prazer” e o tempo

Para o inconsciente e seus processos mentais, o tempo, como o compreendemos não existe. Os eventos mentais não são ordenados temporalmente, não há sequencia de eventos no tempo. O tempo só pode alterá-los através da reflexão interna, que permita se implicar, “responsabilizar-se” no sentido do autoconhecimento, mesmo bombardeado pelos mais diversos estímulos interno e externos. Em relação ao processo da consciência, desde o início de sua formação o córtex recebe informações do interior e do exterior. “No sentido do interior, não pode haver esse escudo; as excitações das camadas mais profundas estendem-se para o sistema diretamente e em quantidade não reduzida, até onde algumas de suas características dão origem a sentimentos da série prazer-desprazer” (p.39). É o processo de formação de memória. A arquitetura psíquica é tão perfeita que os sentimentos de prazer e desprazer internos predominam, sobre os sentimentos externos e se esses sentimentos intensos forem de desprazer há uma inversão como se esses sentimentos fossem externos, viessem do Outro. Assim o Outro como escudo é o mecanismo de defesa que se chama “projeção”, esse mecanismo é o responsável por processos psíquicos patológicos, pois o sujeito não se implica consigo mesmo.

Os traumas são inerentes à vida e habitam o inconsciente. Mas uma vez originados no mundo externo, necessitam ultrapassar uma barreira de defesa para que o sofrimento, os sintomas possam emergir e revelar-se no comportamento e no corpo construindo um vínculo, que permita ao sujeito dar outros significados, que retorna da periferia ao núcleo dos estímulos internos. Para que esse mecanismo de “retorno”, modificado, aconteça é necessário uma carga maior de energia, que é captada de todos os sistemas psíquicos na possibilidade de selar uma possível ruptura, bloqueando o sofrimento. Assim a energia que flui necessita de descarga e assim entrar em repouso. Então o trauma psíquico é consequência de uma ruptura no escudo psíquico protetor dos estímulos. O susto é a baixa energia na recepção dos estímulos. “O fato de a camada cortical que recebe os estímulos achar-se sem qualquer escudo protetor contra as excitações provindas do interior deve ter como resultado que essas últimas transmissões de estímulos possuam uma preponderância em importância econômica e amiúde ocasionem distúrbios econômicos comparáveis às neuroses traumáticas. As mais abundantes fontes dessa excitação interna são aquilo que é descrito como os ‘instintos’ do organismo, os representantes de todas as forças que se originam no interior do corpo e são transmitidas ao aparelho mental, desde logo o elemento mais importante e obscuro da pesquisa psicológica” (p.45). O fato dos estímulos internos possuírem uma força instintual capaz de formar sintomas, independente do princípio do prazer, e do princípio de realidade, desencadeando a compulsão à repetição é uma forma de retomar o princípio de prazer, é a re-experiência de algo que foi importante, de outra forma, que possa ser resinificada.   

Referência
FREUD, S. ALÉM DO PRINCÍPIO DE PRAZER (1920). Obras Completas de Psicanálise - volume XVIII. Rio de Janeiro, Imago-1996.

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