“A criança
joga (brinca), para expressar agressão, adquirir experiência, controlar
ansiedades, estabelecer contatos sociais como integração da personalidade e por
prazer”.
No trabalho de Winnicott possui relevância a
teoria do “amadurecimento pessoal” e o uso dos fenômenos de regressão à
dependência, na interação paciente/analista, que fornece o holding necessário e
deve decidir quando falar e quando silenciar, particularmente nas situações de “descongelamento” do trauma, sobretudo em casos de
pacientes graves. O respeito à individualidade e singularidade da criança em
desenvolvimento, os ritmos e as peculiaridades de cada uma devem ser
sagradamente respeitados. Embora seja uma teoria aplicável às crianças em
geral, será na prática clínica a realização de seus conceitos.
Esses
momentos de “descongelamentos” o analista não deve se justificar nem
interpretar devendo
aguardar o momento oportuno para comentar o assunto. As situações
traumatizantes estão aquém das recordações e verbalizações, só podendo ser
resgatadas através da exteriorização do paciente, com os consequentes
turbilhões emocionais na relação analítica, com a imprescindível continência do
analista. Dessa forma, a técnica clássica de recordação e explicação foi
cedendo lugar ao vivenciar e compartilhar com o analista.
O núcleo
do desenvolvimento psíquico só poderá ser retomado na interação
paciente-analista em nova versão da relação mãe-bebê. Diferentemente da posição
neutra e “espelhadora” da análise
clássica, a interação, que assume conscientemente o impacto sobre o paciente e
a responsabilidade do analista, são fatores de êxito do trabalho psicanalítico.
O modo pré-verbal de comunicar do paciente é a maneira de a criança “falar” com sua mãe. Dentro da concepção
winnicottiana, a regressão deixa de ser um mecanismo de defesa a ser evitado a
todo custo, por provocar acting-out, para se tornar indispensável, pois provê a
oportunidade de experimentar, na relação analítica, as falhas ambientais e de
vivenciar partes dissociadas na relação primitiva mãe-bebê.
Cabe ao
analista, após a tormenta emocional, encontrar as palavras para a realidade do
sofrimento do paciente. A regressão ocorre por se reconhecer a experiência
intrusiva ou de privação e pela capacidade do analista de conter a raiva, a dor
e o temor sem ser destruído, sem interromper a análise. Sempre haverá objetos
subjetivos e objetivos e o incessante caminhar para a realidade e o uso de
objetos, sempre persistirá uma comunicação silenciosa com o objeto subjetivo,
como um refúgio e uma forma preventiva de não se ligar tão facilmente com algum
grau de relações objetais falsas ou submissas; a comunicação silenciosa e
secreta com objetos subjetivos restaura o senso de real para o si-mesmo. Todos
esses elementos fazem parte do que ele denominou de “manejo do setting. A experiência
analítica é um processo muito maior do que um conjunto de interpretações. O
silêncio do analista faz parte do manejo técnico do setting, juntamente com
outros elementos, como prolongar a duração da sessões, permitir que o paciente
ande pela sala, que se sente ou fique de pé etc. O analista suprirá a
necessidade do jogo ilusório materno privilegiando a criatividade em todos os
níveis, cuidando para que o “fazer
analítico” não paralise o
processo criativo. A técnica winnicottiana, assim, recoloca o problema do “lugar do analista” juntamente com a constituição do
sujeito psíquico e sua relação com o ambiente facilitador, sendo essa interação
o elemento estruturante por excelência, não se podendo aceitar a vida psíquica
como subproduto da organização libidinal.
O
importante é que a criança sinta-se à vontade, desarmada, confiante de que
possa se expressar e de que suas questões serão acolhidas. O desenho ou
qualquer outro recurso é apenas um instrumento para que o diálogo se estabeleça
de forma natural e o terapeuta possa quando for possível inserir elementos,
possibilidades alternativas de ser e fazer.
Referências
Winnicott,
D. W. (1978). Aspectos clínicos metapsicológicos da regressão dentro do setting
psicanalítico. In Da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Francisco Alves.
(Trabalho original publicado em 1954.)
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