Na prática
cientifica existe um discurso que diz:
"nem
tudo é verdadeiro; mas em todo lugar e a todo momento existe uma verdade a ser
dita e a ser vista, uma verdade talvez adormecida, mas que no entanto está
somente à espera de nosso olhar para aparecer, à espera de nossa mão para ser
desvelada. A nós cabe achar a boa perspectiva, o ângulo correto, os
instrumentos necessários, pois de qualquer maneira ela está presente aqui e em
todo lugar".
Mas achamos também,
e de forma tão profundamente arraigada na nossa civilização, esta ideia que
repugna à ciência e a filosofia: que a verdade, como o relâmpago, não nos
espera onde temos a paciência de emboscá-la e a habilidade de surpreendê-la,
mas que tem instantes propícios, lugares privilegiados, não só para sair da
sombra como para realmente se produzir. Se existe uma geografia da verdade,
esta é a dos espaços onde reside, e não simplesmente a dos lugares onde nos
colocamos para melhor observá-la. Sua cronologia a é a das conjunções que lhe
permitem se produzir como um acontecimento, e não a dos momentos que devem ser
aproveitados para percebê-la, como por entre duas nuvens. Poderíamos encontrar
na nossa história toda uma "tecnologia" desta verdade: levantamento
de suas localizações, calendário de suas ocasiões, saber dos rituais no meio
dos quais se produz.
Michel
Foucault - Microfísica do Poder
Esse
interessante trecho do escrito de Foucault, nos incita a reflexão que por
certo, a verdade a que o humano busca, seja em quais lugares e espaços: na
ciência, nas religiões, nas diversas formas de terapias, no conhecimento
intelectual, nas intuições, nos sintomas, é na busca das respostas ancestrais
sobre sua existência e que destinos ou rumos ela pode ou deve tomar, no
sentido, seja de uma qualidade de vida, espiritual, de seu autoconhecimento ou
nas curas e mudanças que cada sujeito considera necessárias. Há sempre um
“espaço”, onde ela reside e é necessário que nos coloquemos nos lugares
existenciais para observá-la e compreendê-la. Foi assim com Édipo, e com todas
as tragédias ou provações
da existência humana. “A casa dos loucos”, que habita cada um de nós diz
respeito às “verdades” inexoráveis da existência. Muitas delas há que o sujeito ter
recursos psíquicos para vê, pensar interpretar, aceitar e resinificar naquilo
que for possível. Confúcio lembrará: “Aquele que caminha na verdade, seu caráter é firme e forte, ordenado e
claro, encontra correspondência no céu e se move com o tempo”. O caminho do
meio é um percurso que se faz sobre brasas até alcançar o equilíbrio e harmonia
duradoura, inabalável.
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