23 de setembro de 2013

“A Casa dos Loucos”

Na prática cientifica existe um discurso que diz:
 "nem tudo é verdadeiro; mas em todo lugar e a todo momento existe uma verdade a ser dita e a ser vista, uma verdade talvez adormecida, mas que no entanto está somente à espera de nosso olhar para aparecer, à espera de nossa mão para ser desvelada. A nós cabe achar a boa perspectiva, o ângulo correto, os instrumentos necessários, pois de qualquer maneira ela está presente aqui e em todo lugar".
Mas achamos também, e de forma tão profundamente arraigada na nossa civilização, esta ideia que repugna à ciência e a filosofia: que a verdade, como o relâmpago, não nos espera onde temos a paciência de emboscá-la e a habilidade de surpreendê-la, mas que tem instantes propícios, lugares privilegiados, não só para sair da sombra como para realmente se produzir. Se existe uma geografia da verdade, esta é a dos espaços onde reside, e não simplesmente a dos lugares onde nos colocamos para melhor observá-la. Sua cronologia a é a das conjunções que lhe permitem se produzir como um acontecimento, e não a dos momentos que devem ser aproveitados para percebê-la, como por entre duas nuvens. Poderíamos encontrar na nossa história toda uma "tecnologia" desta verdade: levantamento de suas localizações, calendário de suas ocasiões, saber dos rituais no meio dos quais se produz.
Michel Foucault - Microfísica do Poder

Esse interessante trecho do escrito de Foucault, nos incita a reflexão que por certo, a verdade a que o humano busca, seja em quais lugares e espaços: na ciência, nas religiões, nas diversas formas de terapias, no conhecimento intelectual, nas intuições, nos sintomas, é na busca das respostas ancestrais sobre sua existência e que destinos ou rumos ela pode ou deve tomar, no sentido, seja de uma qualidade de vida, espiritual, de seu autoconhecimento ou nas curas e mudanças que cada sujeito considera necessárias. Há sempre um “espaço”, onde ela reside e é necessário que nos coloquemos nos lugares existenciais para observá-la e compreendê-la. Foi assim com Édipo, e com todas as  tragédias ou provações da existência humana. “A casa dos loucos”, que habita cada um de nós diz respeito às “verdades” inexoráveis da existência. Muitas delas há que o sujeito ter recursos psíquicos para vê, pensar interpretar, aceitar e resinificar naquilo que for possível.  Confúcio lembrará: “Aquele que caminha na verdade, seu caráter é firme e forte, ordenado e claro, encontra correspondência no céu e se move com o tempo”. O caminho do meio é um percurso que se faz sobre brasas até alcançar o equilíbrio e harmonia duradoura, inabalável.

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