…Em primeiro lugar: uma pequena parte de minha autoanálise
progrediu e confirmou que as fantasias são produtos de períodos posteriores
e são projetadas para o passado, desde o que era então o presente até épocas
mais remotas da infância; o modo como isso ocorre também emergiu — mais uma
vez, um vínculo verbal.
À pergunta: “O que aconteceu nos primórdios da infância?”, a
resposta é “nada”. Mas o embrião de um impulso sexual estava lá. Seria fácil e
maravilhoso contar-lhe como é a coisa; mas seria necessária uma meia dúzia de
páginas para eu escrever tudo isso por extenso, e por isso vou guardá-lo para
nosso encontro na Páscoa, com algumas outras informações a respeito de meus
primeiros anos (de vida).
Além disso, encontrei um outro elemento psíquico que considero
ter significado geral e ser uma fase preliminar dos sintomas, anterior, mesmo,
à fantasia.
(4 de janeiro.) Ontem, fiquei cansado, e hoje, não consigo
continuar escrevendo de acordo com o que pretendia, porque a coisa está
crescendo. Há qualquer coisa aí. Está começando a despontar. Nos próximos dias,
por certo haverá algum acréscimo. Então, quando a coisa ficar aclarada, eu lhe
escreverei. Apenas lhe revelarei que o padrão onírico é passível da mais
genérica aplicação, e que também compreendo por que, a despeito de todos os
meus esforços, ainda não concluí o livro dos sonhos. Se eu esperar um pouco
mais, conseguirei descrever o processo mental que ocorre nos sonhos, de tal
maneira que ele também inclua o processo que ocorre na formação dos sintomas
histéricos. Portanto, esperemos.
O interessante nessa carta é a
interrogação de Freud sobre os processos oníricos e as lembranças. Até onde
lembramos? Como está guardado esse material? Nessas interrogações, há que pensar
na possibilidade do trajeto de uma lembrança até sua origem como algo difícil e
complexo. O que diz a fantasia sobre as lembranças e como articulá-las é algo
possível, mas ainda requer pesquisas.
Referência
FREUD, S. – CARTA 101 (1899), Obras Completas de Psicanálise - volume I. Rio de Janeiro,
Imago-1996.
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