9 de fevereiro de 2014

Freud e a Carta 101

…Em primeiro lugar: uma pequena parte de minha autoanálise progrediu e confirmou que as fantasias são produtos de períodos posteriores e são projetadas para o passado, desde o que era então o presente até épocas mais remotas da infância; o modo como isso ocorre também emergiu — mais uma vez, um vínculo verbal.
À pergunta: “O que aconteceu nos primórdios da infância?”, a resposta é “nada”. Mas o embrião de um impulso sexual estava lá. Seria fácil e maravilhoso contar-lhe como é a coisa; mas seria necessária uma meia dúzia de páginas para eu escrever tudo isso por extenso, e por isso vou guardá-lo para nosso encontro na Páscoa, com algumas outras informações a respeito de meus primeiros anos (de vida).
Além disso, encontrei um outro elemento psíquico que considero ter significado geral e ser uma fase preliminar dos sintomas, anterior, mesmo, à fantasia.
(4 de janeiro.) Ontem, fiquei cansado, e hoje, não consigo continuar escrevendo de acordo com o que pretendia, porque a coisa está crescendo. Há qualquer coisa aí. Está começando a despontar. Nos próximos dias, por certo haverá algum acréscimo. Então, quando a coisa ficar aclarada, eu lhe escreverei. Apenas lhe revelarei que o padrão onírico é passível da mais genérica aplicação, e que também compreendo por que, a despeito de todos os meus esforços, ainda não concluí o livro dos sonhos. Se eu esperar um pouco mais, conseguirei descrever o processo mental que ocorre nos sonhos, de tal maneira que ele também inclua o processo que ocorre na formação dos sintomas histéricos. Portanto, esperemos.

O interessante nessa carta é a interrogação de Freud sobre os processos oníricos e as lembranças. Até onde lembramos? Como está guardado esse material? Nessas interrogações, há que pensar na possibilidade do trajeto de uma lembrança até sua origem como algo difícil e complexo. O que diz a fantasia sobre as lembranças e como articulá-las é algo possível, mas ainda requer pesquisas.

Referência
FREUD, S.  – CARTA 101 (1899),  Obras Completas de Psicanálise - volume I. Rio de Janeiro, Imago-1996.

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