“... vemos emanar da psicanálise métodos que, eles sim, tendem a
objetivar modos de agir sobre o homem, objeto humano. Não passam, contudo, de
técnicas derivadas dessa arte fundamental que é a psicanálise, na medida em que
é constituída por essa relação intersubjetiva que não pode, como lhes disse,
esgotar-se, pois ela é o que nos faz homens. É, no entanto, o que somos levados
a procurar exprimir, apesar de tudo, numa formulação que dê a conhecer o seu essencial,
e é justamente por isso que existe no seio da experiência analítica algo que é
propriamente falando, um mito”.
“O mito é o que dá uma formulação discursiva a algo que não pode
ser transmitido na definição da verdade, porque a definição da verdade só pode
se apoiar sobre si mesma, e é na medida em que a fala progride que ela a
constitui. A fala não pode apreender a si própria, nem apreender o movimento de
acesso à verdade como uma verdade
objetiva. Pode apenas exprimi-la – e isso de forma mítica. Nesse sentido é que
se pode dizer que aquilo em que a teoria analítica concretiza a relação
intersubjetiva, e que é o complexo de Édipo, tem valor de mito” (Lacan, p.13).
Nesse trecho em que Lacan fala
de poesia e verdade, vemos que, o que se designa por psicanálise, possui uma leve
brisa de arte, pela relação intersubjetiva entre analista e analisando, e que
por nos fazer humanos, transcende. E por transcender ela possui algo de mito,
mítico, naquilo em que não pode ser traduzido em palavras, embora progrida,
contraditoriamente pela palavra. Mas como a palavra exprime uma verdade, mas não
apreende a essência, essência essa que remete às provações triangulares da existência
humana.
Referência
LACAN, Jacques - O Mito Individual do Neurótico – Jorge Zahar
Editores, 2008
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