16 de fevereiro de 2014

Psicanálise: uma relação intersubjetiva

“... vemos emanar da psicanálise métodos que, eles sim, tendem a objetivar modos de agir sobre o homem, objeto humano. Não passam, contudo, de técnicas derivadas dessa arte fundamental que é a psicanálise, na medida em que é constituída por essa relação intersubjetiva que não pode, como lhes disse, esgotar-se, pois ela é o que nos faz homens. É, no entanto, o que somos levados a procurar exprimir, apesar de tudo, numa formulação que dê a conhecer o seu essencial, e é justamente por isso que existe no seio da experiência analítica algo que é propriamente falando, um mito”.
“O mito é o que dá uma formulação discursiva a algo que não pode ser transmitido na definição da verdade, porque a definição da verdade só pode se apoiar sobre si mesma, e é na medida em que a fala progride que ela a constitui. A fala não pode apreender a si própria, nem apreender o movimento de acesso  à verdade como uma verdade objetiva. Pode apenas exprimi-la – e isso de forma mítica. Nesse sentido é que se pode dizer que aquilo em que a teoria analítica concretiza a relação intersubjetiva, e que é o complexo de Édipo, tem valor de mito” (Lacan, p.13).

Nesse trecho em que Lacan fala de poesia e verdade, vemos que, o que se designa por psicanálise, possui uma leve brisa de arte, pela relação intersubjetiva entre analista e analisando, e que por nos fazer humanos, transcende. E por transcender ela possui algo de mito, mítico, naquilo em que não pode ser traduzido em palavras, embora progrida, contraditoriamente pela palavra. Mas como a palavra exprime uma verdade, mas não apreende a essência, essência essa que remete às provações triangulares da existência humana.

Referência
LACAN, Jacques - O Mito Individual do Neurótico – Jorge Zahar Editores, 2008 

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