23 de março de 2013

Ansiedade seus Mecanismos e a Dor

Considerações Finais

Quando nos propomos a escrever sobre ansiedade, esse afeto “tão comum”, em nosso conturbado mundo atual, compreendemos que é difícil não sofrer ansiedade, em determinadas circunstancias da vida. É claro, que, cada um na sua dimensão, intensidade, elaboração. Compreender que nos mecanismos da ansiedade, visualizar o ego como a sede da ansiedade e da dor, de onde provem desprazer, e por sua vez um aumento da energia, que a ansiedade não é “criada”, é reproduzida de uma imagem mnêmica que retorna, (lembremo-nos do artigo de março onde falamos do recalcado e do retorno do recalcado), seja por um estímulo interno ou externo. Sendo a ansiedade (Angst) um estado afetivo, precipita-se na mente como resquícios de experiências traumáticas primitivas, antes do nascimento, no nascimento e no percurso da vida, acrescidas de conflitos, traumas e experiências vivenciadas. Assim a dor lhe é inerente. Nesse contexto há dispêndio de energia para manter ego e Id desvinculados, uma vez que esse vínculo é inerente a constituição psíquica, e que  se revelará através da explicitação do conflito. A luta é contra o impulso instintual (estímulo) até o momento de apresentação do sintoma.

Então onde começa tudo isso? Não há demarcação, mas podemos falar de experiências antes do nascimento, nascimento e de tempo. A continuação da experiência humana em forma embrionária e seus sofrimentos, dos quais a ansiedade, a dor é dos primeiros a se revelar pelas próprias necessidades fisiológicas. “Vencidas” esse primeiro momento virá a primeira infância que terá outras exigências de ordem tanto físico-psíquicas, em que a mãe ou cuidador, esse objeto-outro, que se estenderá por toda a vida passando por diversas fases, como medo da separação, a constituição da identidade na relação especular, a descoberta da sexualidade, o complexo de Édipo, que constitui a imersão na cultura, no mundo da lei. O perigo para o ego revela-se por um sinal de ansiedade, para o equilíbrio da instância do prazer-desprazer. 

No mecanismo da ansiedade nas situações de prazer-desprazer está inevitavelmente a dor. A ansiedade desloca-se de sua origem na situação de desamparo, para uma expectativa dessa situação e para determinante do perigo, como a perda dos afetos. Assim não é prudente ampliar a importância do perigo para uma criança ou adolescente, que potencializa o desamparo motor e psíquico. A relação sobre a origem do perigo, se interna ou externa deve ser dialética, na medida em que estão de certa forma interligadas, ou seja, o perigo interno representa um perigo externo, em sua manifestação e o perigo externo, representa um perigo interno em sua manifestação interna e assim é significativo para o ego. Essa ansiedade, angústia, gera uma dor ou a dor pode gerar uma ansiedade ou angústia, pelo acumulo de necessidades que não podem obter satisfação, sejam circunstanciais, ou por determinantes da cultura. Todos nós possuímos uma herança arcaica, cuja referência é uma perda, que necessita ser reelaborada. Dessa forma compreendemos que as fobias da infância ao se tornarem fixadas e fortes, persistindo ao longo da vida, seu conteúdo se associa a exigências psíquicas. Apesar de todo o avanço das pesquisas científicas sobre a vida intrauterina o nascimento e o psiquismo que está presente, e em construção há muito que se avançar. Existem lacunas que “parecem” intransponíveis no momento: quantos óvulos são fecundados? Quando é mais de um, eles se fundem como as pesquisas sobre "Gêmeos amalgamados" revelam? Há muito por fazer nesta incompletude do conhecimento. Mas eles são necessários, pois é o que sempre impulsionou a humanidade e nos impulsiona a seguir em frente, mesmo, que seja para saltos, que nem sempre estamos preparados. “E como se pode dizer de nossa vida: não tem muito valor, mas é tudo o que temos. Sem a revelação proporcionada pela qualidade da consciência, estaríamos perdidos na obscuridade da psicologia profunda; devemos, contudo, encontrar nosso rumo” Freud, (1933[1932] p.75). E encontrar esse rumo passa pelo autoconhecimento da própria desagregação do ego, advinda do sentimento de abandono, perdas. Quando pensamos que somos e não somos, nossos objetos de desejo são uma ilusão, era apenas o que desejávamos que fossem, não era real no sentido de possuir eco na vida cotidiana, era um véu para encobrir nosso abandono. Cabe continuar caminhando, percorrer o caminho do autoconhecimento, resinificar, encontrar novos objetos de desejos, verdadeiros, novos projetos no sentido do saudável, do prazer “sem a ansiedade e a dor”, ou seja, “dando conta” da própria ansiedade e dor, reelaboradas.   
Referências 
FREUD, S. A Dor (1950-[1895]). Obras Completas de Psicanálise - volume I. Rio de Janeiro, Imago-1996.
Idem  -   A Experiência da Dor (1950-[1895]). Obras Completas de Psicanálise - volume I. Rio de Janeiro, Imago-1996.
Idem  -  CONFERÊNCIA XXXI – (1933[1932]). Obras Completas de Psicanálise - volume XXII. Rio de Janeiro, Imago-1996.
Idem  -  Inibições, Sintomas e Ansiedade (1926 - 1925). Obras Completas de Psicanálise - volume XX. Rio de Janeiro, Imago-1996.
Idem  -  O Ego e o Id (1923-1925). Obras Completas de Psicanálise - volume XIX. Rio de Janeiro, Imago-1996.
Idem  -   Rascunho E (1894). Obras Completas de Psicanálise - volume I. Rio de Janeiro, Imago-1996.  

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