Considerações
Finais
Quando nos
propomos a escrever sobre ansiedade, esse afeto “tão comum”, em nosso
conturbado mundo atual, compreendemos que é difícil não sofrer ansiedade, em
determinadas circunstancias da vida. É claro, que, cada um na sua dimensão,
intensidade, elaboração. Compreender que nos mecanismos da ansiedade,
visualizar o ego como a sede da ansiedade e da dor, de onde provem desprazer,
e por sua vez um aumento da energia, que a ansiedade não é “criada”, é
reproduzida de uma imagem mnêmica que retorna, (lembremo-nos do artigo de março
onde falamos do recalcado e do retorno do recalcado), seja por um estímulo
interno ou externo. Sendo a ansiedade (Angst) um estado afetivo, precipita-se
na mente como resquícios de experiências traumáticas primitivas, antes do
nascimento, no nascimento e no percurso da vida, acrescidas de conflitos,
traumas e experiências vivenciadas. Assim a dor lhe é inerente. Nesse contexto
há dispêndio de energia para manter ego e Id desvinculados, uma vez que esse
vínculo é inerente a constituição psíquica, e que se revelará através da explicitação do
conflito. A luta é contra o impulso instintual (estímulo) até o momento de
apresentação do sintoma.
Então onde
começa tudo isso? Não há demarcação, mas podemos falar de experiências antes
do nascimento, nascimento e de tempo. A continuação da experiência humana em
forma embrionária e seus sofrimentos, dos quais a ansiedade, a dor é dos
primeiros a se revelar pelas próprias necessidades fisiológicas. “Vencidas”
esse primeiro momento virá a primeira infância que terá outras exigências de
ordem tanto físico-psíquicas, em que a mãe ou cuidador, esse objeto-outro, que
se estenderá por toda a vida passando por diversas fases, como medo da
separação, a constituição da identidade na relação especular, a descoberta da
sexualidade, o complexo de Édipo, que constitui a imersão na cultura, no mundo
da lei. O perigo para o ego revela-se por um sinal de ansiedade, para o
equilíbrio da instância do prazer-desprazer.
No mecanismo
da ansiedade nas situações de prazer-desprazer está inevitavelmente a dor. A
ansiedade desloca-se de sua origem na situação de desamparo, para uma expectativa
dessa situação e para determinante do perigo, como a perda dos afetos. Assim
não é prudente ampliar a importância do perigo para uma criança ou adolescente,
que potencializa o desamparo motor e psíquico. A relação sobre a origem do
perigo, se interna ou externa deve ser dialética, na medida em que estão de
certa forma interligadas, ou seja, o perigo interno representa um perigo
externo, em sua manifestação e o perigo externo, representa um perigo interno
em sua manifestação interna e assim é significativo para o ego. Essa ansiedade,
angústia, gera uma dor ou a dor pode gerar uma ansiedade ou angústia, pelo
acumulo de necessidades que não podem obter satisfação, sejam circunstanciais,
ou por determinantes da cultura. Todos nós possuímos uma herança arcaica, cuja
referência é uma perda, que necessita ser reelaborada. Dessa forma
compreendemos que as fobias da infância ao se tornarem fixadas e fortes,
persistindo ao longo da vida, seu conteúdo se associa a exigências psíquicas.
Apesar de todo o avanço das pesquisas científicas sobre a vida intrauterina o
nascimento e o psiquismo que está presente, e em construção há muito que se
avançar. Existem lacunas que “parecem” intransponíveis no momento: quantos
óvulos são fecundados? Quando é mais de um, eles se fundem como as pesquisas
sobre "Gêmeos amalgamados" revelam? Há muito por fazer
nesta incompletude do conhecimento. Mas eles são necessários, pois é o que
sempre impulsionou a humanidade e nos impulsiona a seguir em frente, mesmo, que
seja para saltos, que nem sempre estamos preparados. “E como se pode dizer de nossa vida: não tem muito valor, mas é tudo o
que temos. Sem a revelação proporcionada pela qualidade da consciência,
estaríamos perdidos na obscuridade da psicologia profunda; devemos, contudo,
encontrar nosso rumo” Freud, (1933[1932] p.75). E encontrar esse rumo passa
pelo autoconhecimento da própria desagregação do ego, advinda do sentimento de
abandono, perdas. Quando pensamos que somos e não somos, nossos objetos de
desejo são uma ilusão, era apenas o que desejávamos que fossem, não era real no
sentido de possuir eco na vida cotidiana, era um véu para encobrir nosso
abandono. Cabe continuar caminhando, percorrer o caminho do autoconhecimento,
resinificar, encontrar novos objetos de desejos, verdadeiros, novos projetos no
sentido do saudável, do prazer “sem a ansiedade e a dor”, ou seja, “dando
conta” da própria ansiedade e dor, reelaboradas.
Referências
FREUD,
S. A Dor (1950-[1895]).
Obras Completas de Psicanálise - volume I. Rio de Janeiro, Imago-1996.
Idem
- A Experiência
da Dor (1950-[1895]). Obras Completas de Psicanálise - volume I. Rio
de Janeiro, Imago-1996.
Idem - CONFERÊNCIA XXXI – (1933[1932]). Obras
Completas de Psicanálise - volume XXII. Rio de Janeiro, Imago-1996.
Idem - Inibições, Sintomas e Ansiedade (1926
- 1925). Obras Completas de Psicanálise - volume XX. Rio de Janeiro,
Imago-1996.
Idem - O Ego e o Id (1923-1925).
Obras Completas de Psicanálise - volume XIX. Rio de Janeiro, Imago-1996.
Idem - Rascunho E (1894).
Obras Completas de Psicanálise - volume I. Rio de Janeiro,
Imago-1996.
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