10 de março de 2013

Anotações Ansiedade e Nascimento


“Talvez lhes interesse saber como pôde alguém formar essa ideia de que o ato do nascimento é a origem e o protótipo do afeto de ansiedade. Nisto a especulação teve muito escassa participação; antes, o que fiz foi tomá-la emprestada da naïve mente popular. Há muitos anos atrás, numa ocasião em que me encontrava em um restaurante com diversos outros jovens médicos do hospital, para uma refeição do meio-dia, um médico assistente do departamento de obstetrícia contou-nos um episódio cômico, acontecido no último exame para parteiras. Perguntou-se a uma candidata o que significava o aparecimento de mecônio (excrementos), no nascimento, quando da expulsão das águas, e ela prontamente respondeu: ‘significa que a criança está com medo.’ Ela foi objeto de risos e foi reprovada no exame. Porém, silenciosamente, tomei o partido dela e comecei a suspeitar de que essa mulher simples, proveniente das classes mais humildes, tinha apontado com precisão para uma correlação importante” (Freud, 1917 [1916-17] – p.398).

Esse Insight de Freud sobre a ansiedade no nascimento é genial. Um afeto muito presente nesse nosso mundo "moderno", a ansiedade. Ninguém se atenta sobre sua origem, seus mecanismos, sua relação com as estruturas clínicas, que podem remontar a gestação, ao nascimento, ou seja muito antes do sujeito existir no mundo e para o mundo, antes da construção de suas relações, da construção da identidade, do superego, da castração, da falta; ou quem sabe, já faça parte da estrutura do sujeito ao nascer, como Freud descreve em o “Homem dos Ratos”.  

 Em outro escrito temos que considerar o nascimento como um momento traumático, em que o princípio do prazer é fracassa:

 “o nascimento, nosso modelo de estado de ansiedade, afinal, dificilmente pode ser considerado em si mesmo causa de dano, embora possa explicar um perigo de danos. O essencial no nascimento, assim como em toda situação de perigo, é que ele imprime à experiência mental um estado de excitação marcadamente intensa, que é sentida como desprazer e que não é possível dominar descarregando-a. Um estado desse tipo, ante o qual os esforços do princípio de prazer malogram, chamemo-lo de momento ‘traumático’. Então, se colocarmos numa série a ansiedade neurótica, a ansiedade realística e a situação de perigo, chegamos a essa proposição simples: o que é temido, o que é o objeto da ansiedade, é invariavelmente a emergência de um momento traumático, que não pode ser arrostado com as regras normais do princípio de prazer” (Freud, p. 96-97 -1933 [1932])

 "quanto menos um homem conhece a respeito do passado e do presente, mais inseguro terá de mostrar-se seu juízo sobre o futuro". (Freud 1927-1931)

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