27 de abril de 2013

“Doenças Silenciosas” e Narcisismo

Nosso objetivo ao discutirmos o que denominamos como “Doenças Silenciosas” como AIDS, Câncer, tantas outras que não citaremos e Narcisismo é contribuir no sentido de uma clínica de saúde pública onde possa existir o individual, em toda sua subjetividade. Porque o narcisismo? Por que estamos marcados por ele desde que nascemos e temos que nos haver com ele e se possível aliviar a dor da ferida narcísica e sublimar. O estigma dessas doenças, principalmente a AIDS é relevante, o que tem refletido em um impeditivo para análise epidemiológica no que diz respeito a vivencias infantis e estruturas psíquicas mais vulneráveis dos sujeitos envolvidos. É certo que não se contem uma doença pandêmica somente com ações sociais. Elas são fundamentais, mas a subjetividade dos sujeitos envolvidos nem de longe é tocada. Algo que é importante está relegada ao “esquecimento”. Quais traumas infantis e “estruturas” se colocam em risco, ou são acometidas em seus organismos, e onde a pulsão de morte se torna um imperativo é uma questão. Por que o crescimento epidemiológico não cede?  Tão importante quanto os dados epidemiológicos, as campanhas e programas de prevenção realizados nos vemos diante de impasses  de doenças em crescimento, onde o Brasil no caso da AIDS ocupa o 2º lugar na America Latina em notificação.

Não vamos aqui discutir dados epidemiológicos, eles estão disponíveis em www.aids.gov.br/pagina/dados-e-pesquisas. Em relação aos diversos tipos de câncer é possível acessarhttp://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=488No caso do câncer, vemos que os dados são pulverizados em diversas categorias tornando mais difícil uma análise no que diz respeito às subjetividades, o que é nosso objetivo neste artigo. Em relação a AIDS alguns dados nos chamam atenção: A diferença entre a contaminação do Sudeste e Sul responsável por mais de 50% sejam das contaminações, comparada com o Norte,  Nordeste e Centro-Oeste. Em relação a  AIDS a faixa etária de 25 a 49 anos, a forma de transmissão prevalece a sexual e  concentrada em homossexuais, prostitutas e usuários de drogas, com grande crescimento entre os heterossexuais. Quanto mais parceiros mais vulnerabilidade e maior possibilidade de reinfecção e aumento da carga viral e se a isso, adiciona o uso de drogas temos componentes explosivos. Há que interrogar como a arquitetura psíquica ( http://caminhosdapsiq.blogspot.com.br/2013/04/arquitetura-psiquica.html) do sujeito “suporta” o diagnóstico de “positivo”. O que vemos é que só o “coquetel” não “segura”, então a droga ocupa esse lugar, O suporte psicológico a um sujeito que vem em sua história em situação de exposição; e aqui não fica de fora as mulheres casadas em uniões estáveis que se descobrem contaminados por HIV é fundamental. É muito comum os indivíduos irem ao Centro de Referência somente para pegar a medicação e continuarem suas vidas (baladas, troca de parceiros, drogas, pequenos furtos), como se “nada tivesse acontecendo”. Se a lógica é relacionar-se somente com parceiros soropositivos, ou “em um sentimento de revoltas” com toda e qualquer pessoa, ou se o sentimento de viver intensamente sem lei se eleva, pois o tempo para o hedonismo supostamente “está diminuído” é algo a ser refletido. AIDS é muito complexa para ser tratada só com políticas sociais ou individuais. Sem as duas abordagens e a elevação do número de profissionais, que possam compreender as duas abordagens, não formaremos uma prática que respondam às demandas dos sujeitos.

A questão é que o sujeito que opta por uma troca constante de parceiros ou que escolhe viver relações ou uma relação de risco, não “optou” por essas práticas depois de adulto. Há que pensarmos que circunstancias em sua infância pode ter funcionado como um facilitador. O culto ao consumo a e vida de alto padrão aquisitivo na sociedade em que vivemos como a busca da vida ideal é um fator subjetivo de vulnerabilidade. É certo que no mundo descartável, produzido para “ficar” um curto tempo exerce uma pressão nesse sentido, como também conseguir “a felicidade” e cada sujeito vai definir de acordo com sua história, seu desejo. As variáveis a serem pesquisadas para exposição a comportamentos de risco vão desde a abusos diversos, inclusive sexuais, a abandono, desagregação do ego, violência doméstica, estados de mania e depressão e outros. Temos algumas problemáticas como a não adesão ao tratamento, a dinâmica conjugal, o envelhecimento, a heterossexualização, a feminilização, as condições socioeconômica-cultural o uso de drogas e algo “novo” e preocupante a familiarização da pandemia, um mecanismo utilizado para supostamente diminuir o estigma, mecanismo esse que pode levar a um caminho de não compreensão dos sujeitos envolvidos, de como acolhê-los e de quais terapias psíquicas podemos oferecer-lhes no sentido de que possam resinificar suas vidas, potencializá-las produtivamente. Comparecer ao Centro de Referência para pegar o coquetel e participar de reuniões de grupo, quase como clandestinos não contribui em suas profundas questões subjetivas. Muitas são as falas: “não vou falar de minhas questões em grupo”, “tem que ir na hora que tem menos gente”, “tem que tirar o rótulo da embalagem”. E a escuta individual onde fica? Se nos reportarmos a imagem no espelho da qual Lacan fala como estão esses sujeitos? Se o ser narcísico já é complexo, quando se insere uma patologia orgânica há que interrogarmos como fica essa ferida narcísica, se ela não é  destituída de aspectos patológicos em nenhum sujeito. O narcisismo penetra nos profundos problemas das relações entre o ego e os objetos externos, assim é necessário haver um “ideal do ego” e ligado a ele o superego, ou seja, o funcionamento do ego.

Como esses sujeitos irão tratar seus corpos, marcados desde sempre, mas agora com um diagnóstico. Que no narcisismo o sujeito trata seu corpo como trata o corpo de um objeto sexual, ou seja, o acaricia para obter satisfação, seja satisfação pelo status social que ocupa,  pela forma como se veste, pela profissão que exerce, pelos bens materiais que possui, pelas formas corporais admiradas, pelas relações sedutoras que desenvolve, etc. Freud afirmará que “o narcisismo passa a significar uma perversão que absorveu a totalidade da vida sexual do indivíduo, exibindo, consequentemente, as características que esperamos encontrar no estudo de todas as perversões” (p.81). O sujeito só ama a si próprio. Os objetos são instrumentos de suas manipulações em função dele mesmo. A dificuldade do trabalho analítico está justamente aqui, pois o sujeito usará os recursos possíveis da transferência para não se deixar mostrar. Então como mostrar à família, amigos, sociedade que é soropositivo? Como sair da clandestinidade e lutar pela vida psíquica? Existe hoje uma frase, diferente dos anos 80, quando surgiu a AIDS, que é “não parece de forma alguma que tem HIV”. A questão não é: parecer ou não parecer. É o que isso implica, inclusive na prevenção. Compreendemos que um sujeito que é acometido de doenças como AIDS, câncer, hipertensão, diabete, precisa de uma mudança em seu modo de viver, para uma melhor qualidade de vida e controle de seus sintomas, mas estamos falando do orgânico. Como essa resinifição ocorre no caso do HIV positivo?  Se a questão  narcísica  leva o sujeito ao hedonismo do “agora vou viver tudo sem prevenção” podemos sugerir algo que transpõe seu egoísmo no sentido de sua auto preservação, que é considerar a dinâmica psíquica de cada pessoa.

Ao escrever sobre o narcisismo Freud situou dois sintomas de defesa, quais sejam a megalomania e os desvios de seu interesse do mundo externo de pessoas e coisas. Importante ressaltar que a desistência da realidade está em todos os sofrimentos humanos, sejam eles doenças ou não e sejam quais forem as designações que lhes damos, mas em que intensidade e comprometimento do ego depende das circunstancias ou vicissitudes da existência de cada sujeito. Se é um processo de neurose histérica, neurose obsessiva, “enquanto sua doença  persiste, também desiste de sua relação com a realidade”(p.82). Todos sabemos que os estados febris tão comuns sejam em crianças ou em adultos os afastam da realidade. Mas a relação erótica com pessoas e coisas permanecem e assim o sujeito faz um “malabarismo” com seu ego no sentido da defesa: substituem as pessoas e objetos imaginários que estão na memória, por pessoas e objetos reais e se isso não é possível mistura os objetos imaginários com os reais. A megalomania é suportada pela libido objetal, que afastada do mundo externo é dirigida para o ego dando margem ao narcisismo, a que Freud chama narcisismo secundário, onde ocorre uma superestima do poder das pessoas e de objetos, bem como de atos mentais e uma forma de lidar com o mundo externo mágica, como se tudo fosse possível como “num passe de mágica”. Tudo fica grandioso.

Aqui situamos a familiarização da pandemia. Com o coquetel podemos dizer “acabaram os sintomas”, a AIDS tornou-se invisível, não é possível mais dizer quem possui e quem não possui. Excelente se não houvesse um inconsciente demandando. Temos que nos ater a esse inconsciente em nossas práticas de saúde. Da mesma forma que interrogamos qual o destino que o sujeito vai dar ao seu Édipo, interrogamos qual o destino que o sujeito vai dar aos seus sofrimentos, a sua soropositividade. A energia libidinal (catexia) do ego é em parte transmitida a pessoas e objetos e está relacionada com a energia (catexia) objetal, ou seja, aquela que não tem origem no ego, mas que podem ser transmitidas e retiradas novamente. É assim que Freud utiliza a metáfora do reino protista, na ameba, que projeta temporariamente a parede celular para captação de alimentos e locomoção. Os leucócitos do sangue para fazerem a fagocitose realizam essa extensão para englobar os agentes agressores e destruí-los. O que subjetivamente o sujeito faz nesse sentido com o diagnóstico de positividade?

Quanto mais a energia da libido do ego é empregada, mais a libido objetal é esvaziada. Quando um sujeito está apaixonado (entendemos aqui por qualquer objetos ou substituição de objeto), ele parece desistir de sua própria personalidade em favor de uma energia (catexia) objetal. Embora complexa e difícil a compreensão e distinção entre energia psíquica dos instintos do ego e energia da libido do ego  e a libido objetal Freud nos sugere “que uma unidade comparável ao ego não pode existir no indivíduo desde o começo”; o ego tem de ser desenvolvido” (p.84). Então há que pensarmos nas situações traumáticas que esses sujeitos vivenciaram em suas infâncias. Se os instintos auto eróticos, estão ali desde o começo, sua intensidade e talvez podemos falar de quantidade e qualidade e a qual destino ou função serve. É necessário interrogar, mas não podemos fugir a distinção de instintos do ego e instintos sexuais, que está no escopo da distinção entre fome e amor. É como se viver uma existência dupla: uma para servir as próprias finalidades e uma outra que serve e se conduz como numa corrente contra a vontade, é como se a sexualidade de um lado fosse considerada “como um de seus próprios fins” e por outro lado fosse uma energia para uso imediato ou futuro onde não se descarta os acessos já ocorrido, mas com fins de uma “troca de uma retribuição de prazer”. Para os sujeitos que vivenciam a AIDS a existência dupla torna-se mais enfática por que se por um lado não há indícios por outro um sofrimento os habita e não há em sua maioria um escoadouro, uma fala e uma escuta, para uma problemática em que a base da contaminação é sexual. Por isso Freud compara com um germoplasma o que é muito apropriado. Essa energia se torna o veiculo mortal de uma “substancia imortal – como herdeiro de uma propriedade inalienável, que é o único dono temporário de um patrimônio que lhe sobrevive” (p.85). Na sequencia Freud levanta a hipótese de a energia sexual ser apenas o produto da energia mental: “Por essa mesma razão, gostaria, nessa altura, de admitir expressamente que a hipótese de instintos do ego e instintos sexuais (libido) separados está longe de repousar, inteiramente, numa base psicológica, extraindo seu principal apoio da biologia. Mas serei suficientemente coerente para abandonar essa hipótese, se o próprio trabalho psicanalítico vier a produzir alguma outra hipótese mais útil sobre os instintos... Pode ocorrer que, com mais fundamento e numa visão de maior alcance, a energia sexual seja apenas o produto de uma diferenciação na energia que atua generalizadamente na mente” (p.85). Portanto há muito o que a ciência estudar sobre o psiquismo. Todos sabemos que uma pessoa sofrendo de uma dor, mal-estar orgânico, doença grave, deixa de se interessar pelas coisas do mundo externo, na medida em que não dizem respeito ao seu sofrimento. “Ela também retira o interesse libidinal de seus objetos amorosos: enquanto sofre, deixa de amar. Aqui a libido e o interesse do ego partilham do mesmo destino e são mais uma vez indistinguíveis entre si. O egoísmo familiar do enfermo abrange os dois”(p.89). A questão é por que na AIDS vemos muitas vezes o contrário? Parece haver (é o que reflete as falas) uma intenção de punir o outro. Sabemos que determinadas zonas “erógenas” podem funcionar como substitutos dos órgãos sexuais e por que isso não ocorre e a despeito do saber soropositivo não há proteção nas relações sexuais? Podemos supor aqui que a relação está voltada para a libido objetal e não a libido do ego?

O mecanismo do adoecer e sua formação de sintomas estão vinculados, pelo menos nas neuroses de transferências, a uma inibição da libido objetal e na demência precoce e na esquizofrenia a um represamento da libido do ego. Nosso aparelho mental é destinado a dominar as excitações de forma que as descargas não se tornem patogênicas. Porque alguns indivíduos conseguem mesmo com profundos sofrimentos e outros não eis a questão. Diante da frustração a libido liberada não permanece ligada aos objetos na fantasia, mas se retira para o ego. A megalomania é a expressão daquilo que não foi possível ser introvertido, que pudesse ficar na fantasia. Assim colocam-se algumas possibilidades: representar o que resta de um estado normal de neurose ou representar o afastamento da libido dos seus objetos ou expressar a megalomania e perturbações afetivas, regressão ou representar a libido religando-a aos objetos como na neurose histérica, na demência precoce e na esquizofrenia ou como na neurose obsessiva e na paranoia. Seja qual for a defesa ou a dinâmica da estrutura é certo que tanto a libido objetal como a libido do ego, mesmo em relação a escolha dos objetos revela-se e se desenvolve desde o nascimento (narcisismo primário) onde as primeiras experiências de satisfação ao sofrer alguma perturbação seja da ordem de abusos sexuais, abandono, violências diversas, “as reações com que ele procura proteger-se e os caminhos aos quais fica sujeito” podem adotar como objetos amorosos não um outro (que não foi possível como modelo), mas seus próprios eus. “Procuram inequivocamente a si mesmos como um objeto amoroso, e exibem um tipo de escolha objetal que deve ser denominado narcisista” (p.93). Mas é possível também que não tenha havido nenhuma perturbação no desenvolvimento e a escolha ainda se dar no próprio eu.

A supervalorização sexual, que se transfere ao objeto sexual, e que empobrece o ego em relação à libido em favor do objeto amoroso é desfavorável para o desenvolvimento de uma verdadeira escolha objetal, que implica em uma parte da renuncia de seu narcisismo. Qual é o ideal de  ego na nossa sociedade? Podemos “defender” a margem da cultura da civilização que cada um é o que quer na famosa frase do senso comum: “do quem paga as contas”, a qual podemos interrogar de quais contas de fala? É o discurso chamado democrático para encobrir a perversão? “Os impulsos instintuais libidinais sofrem a vicissitude da repressão” em função da cultura, da moral e da ética. Para um ego ideal ou um ideal de ego há que se condicionar, portanto a repressão, a cultura. Difícil localizar na infância a renuncia a perfeição narcisista e quando adulto diante das frustrações em seus intentos seja pelo julgamento crítico próprio ou de outrem, procure um substituto do narcisismo perdido de sua infância “na qual ele era seu próprio ideal” o sujeito projeta diante de si seus objetos como sendo o ideal e então se afasta da realidade. Então a despeito de sejam quais forem suas doenças orgânicas, funciona como se ainda vivesse na infância.  

Importante remetermos às estruturas, que compreendemos de forma flexível. Em uma neurose há no ego uma predominância da influencia da realidade, ele depende da realidade, está a serviço desta, pois se dispõe à repressão de impulsos instintuais e desta forma suprime fragmentos do id. Mas em relação a esse mesmo fragmento o ego necessita também relaxar sua relação com a realidade em função da repressão ocorrida. Ou seja, é semelhante ao equilíbrio do potencial de membrana em repouso devido a uma pequena estocagem de íons de carga negativa, fosfatos orgânicos  e proteínas no citosol, e uma estocagem igual de íons de carga positiva (íons de sódio), externamente. Não acreditamos que essa repressão seja fracassada na medida em que o psiquismo consiga manter o seu equilíbrio. Existindo situações traumáticas na infância a defesa é o sujeito “esquecer” a experiência, transferindo-o à amnésia. A consciência, enquanto instancia individualizada com todas as suas vicissitudes, seja influenciada pelos pais, cuidadores ou pela sociedade, mesmo com todas as resistências erigidas como defesa é possível a observação do ego real medindo-o com o ego ideal.“Mas a revolta contra esse ‘agente de censura’ brota não só do desejo, por parte do indivíduo (de acordo com o caráter fundamental de sua doença), de libertar-se de todas essas influências, a começar pela dos pais, mas também do fato de retirar sua libido homossexual delas. A consciência do paciente então se confronta com ele de maneira regressiva, como sendo uma influência hostil vinda de fora” (p.103).  Em uma psicose e ego está a serviço do id, pois a influencia deste é predominante, e se afasta da realidade, arrastando o ego para longe da realidade, mas ao mesmo tempo tenta reparar o dano que isso causa restabelecendo a relação do sujeito com a realidade através do id. Assim na reação psicótica a situação traumática seria uma negação do fato. Dessa forma tenta reparar a perda da realidade restringindo-a, negando-a de forma autoritária e na medida em que nega cria uma nova realidade, da negativa. Tanto na neurose como na psicose o id tem dificuldades de adaptar-se às exigências e necessidades do mundo externo. Nas situações de doenças graves essas dificuldades são ainda maiores.

Na neurose ignora-se a realidade, é uma espécie de tentativa de fuga, ou seja, a repressão pode em um momento ou outro vai fracassar. Como existe um grande dispêndio de energia psíquica para que não fracasse, uma vez fracassando nos deparamos com os sintomas. As tentativas de substituir a realidade desagradável por outra é possibilitado pela fantasia. Na psicose nega-se a realidade e tenta substituí-la, dando uma nova roupagem às vivências, ao real, através dos precipitados psíquicos (http://caminhosdapsiq.blogspot.com.br/2013/04/arquitetura-psiquica.html), sobre os traços de memória, ideias, juízos, representações que vão estar “guardadas”.  (http://caminhosdapsiq.blogspot.com.br/2013/02/lembrancas-e-paranoia-memoria.html) Como é necessário novas percepções que correspondam a nova realidade (negada) isso é realizado através de pequenas, às vezes imperceptíveis e muitas vezes intensas alucinações e delírios, o que demanda ainda muito estudo pela sutileza dos mecanismos. O fragmento de realidade rejeitado irá sempre pressionar pelo retorno, o que vai gerar ansiedade e angústia. “Ao passo que o novo e imaginário mundo externo de uma psicose tenta colocar-se no lugar da realidade — um fragmento diferente daquele contra o qual tem de defender-se —, e emprestar a esse fragmento uma importância especial e um significado secreto que nós (nem sempre de modo inteiramente apropriado) chamamos de simbólico. Vemos, assim, que tanto na neurose quanto na psicose interessa a questão não apenas relativa a uma perda da realidade, mas também a um substituto para a realidade” (1924 - p.209). Não podemos deixar de considerar a relação entre a formação, que aumenta as exigências do ego, de um ideal e a sublimação, que diz respeito tanto a libido do ego como a libido objetal no sentido de dirigir sua finalidade. Compreender o movimento da carga libidinal, energia psíquica, em doenças graves é tarefa difícil e requer compromisso ético incondicional. Mesmo que o sujeito seja acolhido e trabalhe por resinificar, seu narcisismo por um ideal elevado, o que não é fácil, pois envolvem instintos e demandas do id, a sublimação continua a ser um processo especial que pode ser estimulado e potencializado. Que a criança existente nesse sujeito cresça, amadureça para afastar-se do seu narcisismo primário é importante para um novo adulto saudável psicologicamente. Ser amado por seus objetos (trabalho, família, estudo, amigos) eleva a autoestima. Um amor fraterno é condição para que a libido objetal e libido do ego não possam ser distinguidas e sejam sublimadas. Importante ressaltar que a continuidade de escolha de um ideal sexual segundo o tipo narcisista implica na possibilidade de manutenção do sofrimento e do reinstalar e instalar de perversões. É certo que  um ideal de ego tem um aspecto social, que é extensivo a todo o contexto de vida do sujeito seja através de um ideal comum em família, uma classe, um grupo. Compreender a dinâmica narcísica nestas situações graves de vida é importante no sentido de uma clínica não só do medicamento, mas do acolhimento, da escuta, da interpretação no sentido de aliviar os sofrimentos humanos.

Referencias
 FREUD, S.  -  SOBRE O NARCISISMO: UMA INTRODUÇÃO – (1914). Obras Completas de Psicanálise - volume XIV. Rio de Janeiro, Imago-1996.
 FREUD, S.  -  A PERDA DA REALIDADE NA NEUROSE E NA PSICOSE - (1924). Obras Completas de Psicanálise - volume XIX. Rio de Janeiro, Imago-1996. 

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