16 de julho de 2013

O conhecimento - Kant e Freud

 “O destino não foi até hoje tão favorável que permitisse trilhar o caminho seguro da ciência a metafísica, conhecimento especulativo da razão completamente à parte e que se eleva inteiramente acima das lições da experiência, mediante simples conceitos, devendo, portanto, a razão ser discípula de si própria; é porém, a mais antiga de todas as ciências e subsistiria mesmo que as restantes fossem totalmente subvertidas pela voragem de uma barbárie, que tudo aniquilasse. Na verdade a razão sente-se constantemente embaraçada, mesmo quando quer conhecer a priori as leis que a mais comum experiência confirma. É preciso arrepiar caminho inúmeras vezes, ao descobrir-se que a via não conduz aonde se deseja; e no que respeita ao acordo de seus adeptos, relativamente às suas afirmações, encontra-se a metafísica ainda tão longe de o alcançar, que mais parece um terreiro de luta, propriamente destinado a exercitar forças e onde nenhum lutador pode jamais assenhorear-se de qualquer posição, por mais insignificante, nem fundar sobre as suas vitórias conquistas duradoura. Não há dúvida, que até hoje o seu método tem sido mero tacteio e, o que é pior, um tacteio apenas entre simples conceitos”. (Kant, Crp. 19)

Esse pequeno recorte nos faz refletir sobre a profundidade de nosso conhecimento sobre nós mesmos e nos alerta não só que a “razão é discípula de si própria”, ou seja, o sujeito “pode deter”, em determinadas circunstancias, o conhecimento sobre si. Mas Kant levanta a possibilidade dos caminhos percorridos ainda estarem distantes, embaraçados, daquilo ao qual se propõe a razão e na medida em que se contrapõe à metafísica se coloca em “um terreiro de luta”, onde no máximo há um exercício de forças e qualquer vitória de uma sobre a outra é temporária, correndo o risco desse conhecimento ser apenas conceitual. Que o conhecimento a priori realiza-se de duas maneiras: determinado pelo objeto e de seu conceito, ou pela realização do mesmo, não há dúvida, pois a Razão Pura é a priori, mas não é desprovida de idealidade. Para conhecer uma coisa a priori deve atribuir-lhe as consequências de seu conceito. Interrogações que se assemelham, pela angústia, daí decorrente fez Freud em “Projeto para uma Psicologia Científica (1950 [1895]): Sinto-me literalmente devorado por ela, a ponto de ficar exausto e me ver obrigado a interromper. Nunca passei por uma preocupação tão grande assim. E dará algum resultado? Espero que sim, mas é um trabalho difícil e lento.” No caminho do conhecimento há se que enfrentar batalhas internas e externas, quando se fala do humano e quando a ciência contrapõe a Razão, a Metafísica e o Materialismo.

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