9 de outubro de 2013

“Fragmento por Fragmento"...

“A constelação – por que não, no sentido que dela falam os astrólogos? -, a constelação original que presidiu ao nascimento do sujeito, ao seu destino e quase diria à sua pré-história, a saber, as relações familiares fundamentais que estruturam a união de seus pais, mostra ter uma relação muito precisa, e talvez definível por uma fórmula de transformação, com o que aparece como o mais contingente, o mais fantasístico, o mais paradoxalmente mórbido de seu caso, a saber, o último estado de desenvolvimento de sua grande apreensão obsedante, roteiro imaginário a que chega como se fosse à solução da angústia ligada ao desencadeamento da crise”.
“A constelação do sujeito é formada na tradição familiar pelo relato de um certo número de traços que especificam a união dos pais”.
“Eis portanto como se apresenta a constelação familiar do sujeito. O relato dela vai saindo, fragmento por fragmento, durante a análise, sem que o sujeito estabeleça qualquer ligação com o que quer que seja que aconteça de atual” (p. 19-21). Jacques Lacan – O Mito Individual do Neurótico

Nesse trecho Lacan nos lembra que o universo do sujeito é muito mais complexo do que podemos imaginar e que as articulações, “constelações” que compõe sua existência não é possível de serem apreendidas pelo processo analítico de forma literal, linear, absolutas como se fosse possível uma narrativa onde passado, presente e futuro, estivesse em uma ordem lógica, acadêmica e seguindo o curso do relógio. São sim fragmento do passado, presente e futuro, cabendo ao analista a escuta “fina”, atenta a que tempo, circunstancia e vicissitude diz respeito aquele fragmento e que direção dar ao processo analítico no sentido do sujeito compor suas imagens e assim reescrever sua história.

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