10 de fevereiro de 2013

Lembranças e Paranoia - Introdução

A relação entre as experiências vivenciadas e os conteúdos na paranoia
Resumo

Este artigo que será publicado aqui em várias etapas, em função do espaço por páginas, objetiva refletir sobre a articulação das lembranças na paranoia e como o recalque e o nome-do-pai, a lei retorna pela alucinação e  delírio. Desta forma esperamos contribuir na intervenção clínica com a ênfase no resgate dos traços mnêmicos, das lembranças remotas, de um sujeito histórico. Quando nos propomos a escrever sobre a questão de como as lembranças retornam na paranoia estava delineado que a direção possível para a compreensão da historia do sujeito são suas lembranças. Sabemos que em nossa vivência mais remota as memórias, os traços mnêmicos que compõem nosso psiquismo, vão sendo transcritos, condensados, retranscritos, significados, em um curso dialético. Assim ao realizarmos este estudo bibliográfico, com o cruzamento das categorias memória, lembranças, recalque, paranoia em Freud e nome-do-pai e paranoia em Lacan percorremos um caminho de reflexões que ecoa na compreensão da história do sujeito e não em seus sintomas. Ao termino deste percurso vamos nos haver com um sujeito que conduz e é conduzido em sua história, suas relações por lembranças em repetições, compulsões, por experiências que foram recalcadas ou ficaram de fora, mas que relembra, remonta em sua alucinação em seu delírio.

Introdução

Vamos delinear nestas páginas, em cada etapa, a forma como as lembranças habitam nossa memória, que muitas vezes difícil de datar no tempo cronológico, pois o tempo do qual falamos é um tempo de representações, significados e significantes e de como essas lembranças retornam pelo recalque e reaparece na paranoia. Então lembramos para não esquecer que um comportamento “normal”, “deve” combinar características de repudio da realidade e de alteração dessa mesma realidade, ou seja, vivemos em um equilíbrio que oscila como é próprio da natureza e da natureza humana dada suas circunstancias. E somente assim podemos trilhar a dialética do equilíbrio entre o consciente pré-consciente e inconsciente onde as lembranças trafegam. Sem elas seríamos seres sem história, sem subjetividade, sem existência no tempo, sem passado. As lembranças estão na construção da memória e a construção da memória é feita de lembranças.

Aqui refletiremos as lembranças em Freud, àquilo que necessita ser esquecido, por defesa, por falta de estrutura do ego em suportar ou rememorado pela linguagem, pela repetição, pela alucinação, delírio. Se um pensamento não permanece consciente por muito tempo, se é transitório em  sua permanência na consciência, retorna ao inconsciente podendo ficar latente  por muito tempo, ou por toda a vida, embora em certas circunstâncias retorna a consciência. Esse retorno dialético passa pelo recalque, pela lei. Aqui estará o superego e as pulsões conflituosas. É nesse conflito que revela um retorno que a paranoia será pensada.

Escreveremos sobre este psiquismo que na mais tenra idade está o fundamento das lembranças que pode desencadear uma paranoia. Desde as lembranças recalcadas, vencidas as resistências, a lei, a forma como irão se manifestar na paranoia diz respeito à construção de relações conflituosas de afetos, seja entre irmãos, filhos e/ou figuras parentais. Mais que isso, diz respeito à como são vividas, marcadas e rememoradas essas experiências.

Então, este trabalho tem como objetivo refletir sobre o papel das lembranças na paranoia e que estatuto fornece o recalque e o que Lacan denomina como nome-do-pai no retorno que é realizado na alucinação e no delírio. Objetiva também contribuir na intervenção clínica com a ênfase no resgate dos traços mnêmicos, das lembranças remotas, de um sujeito que é antes de tudo histórico. E como Lacan (2008, p.33) irá lembrar “por sempre ter desconhecido, na fenomenologia da experiência patológica, a dimensão dialética, é que a clínica se perdeu”.

Consultas realizadas na base de dados de universidades públicas e privadas do eixo Rio de Janeiro-São Paulo-Paraná, pouco se discutem sobre a Memória-Lembranças em psicanálise e sua articulação com os sintomas e estruturas clínicas.  A academia centra-se nos estudos nosológicos, a clínica na adequação do referencial teórico aos sintomas. Pensar as lembranças em uma estrutura como a paranoia é refletir também sobre a história dialética do sujeito, suas difíceis escolhas e provações. Espera-se contribuir com a reflexão sobre o conteúdo das lembranças na construção da paranoia e de sua expressão através do delírio, das alucinações, bem como contribuir ao debate na saúde mental acerca da memória em psicanálise.

A pesquisa é de caráter bibliográfico, onde foi realizado na obra freudiana o cruzamento das categorias memória, lembranças, recalque, paranoia. E na obra Lacaniana o estatuto da psicose paranoica e o que foi repensado de Freud com o nome-do-pai. O caráter bibliográfico possui também a importância de caminhar nos caminhos percorridos por esses dois descobridores da psicanálise e assim não só nos familiarizarmos com suas incursões facilitando nossa escuta enquanto sujeito e colocando-nos numa condução ética quanto ao nosso desejo.
Observação: As referências bibliográficas serão publicadas com as considerações finais.

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