A relação entre
as experiências vivenciadas e os conteúdos na paranoia
Resumo
Este
artigo que será publicado aqui em várias etapas, em função do espaço por
páginas, objetiva refletir sobre a articulação das lembranças na paranoia e
como o recalque e o nome-do-pai, a lei retorna pela alucinação e delírio. Desta forma esperamos
contribuir na intervenção clínica com a ênfase no resgate dos traços mnêmicos,
das lembranças remotas, de um sujeito histórico. Quando nos propomos a escrever
sobre a questão de como as lembranças retornam na paranoia estava delineado que
a direção possível para a compreensão da historia do sujeito são suas
lembranças. Sabemos que em nossa vivência mais remota as memórias, os traços
mnêmicos que compõem nosso psiquismo, vão sendo transcritos, condensados, retranscritos, significados, em um curso dialético. Assim ao realizarmos este
estudo bibliográfico, com o cruzamento das categorias memória, lembranças,
recalque, paranoia em Freud e nome-do-pai e paranoia em Lacan percorremos um
caminho de reflexões que ecoa na compreensão da história do sujeito e não em
seus sintomas. Ao termino deste percurso vamos nos haver com um sujeito que
conduz e é conduzido em sua história, suas relações por lembranças em
repetições, compulsões, por experiências que foram recalcadas ou ficaram de fora,
mas que relembra, remonta em sua alucinação em seu delírio.
Introdução
Vamos
delinear nestas páginas, em cada etapa, a forma como as lembranças habitam
nossa memória, que muitas vezes difícil de datar no tempo cronológico, pois o
tempo do qual falamos é um tempo de representações, significados e
significantes e de como essas lembranças retornam pelo recalque e reaparece na
paranoia. Então lembramos para não esquecer que um comportamento “normal”,
“deve” combinar características de repudio da realidade e de alteração dessa
mesma realidade, ou seja, vivemos em um equilíbrio que oscila como é próprio da
natureza e da natureza humana dada suas circunstancias. E somente assim podemos
trilhar a dialética do equilíbrio entre o consciente pré-consciente e inconsciente
onde as lembranças trafegam. Sem elas seríamos seres sem história, sem
subjetividade, sem existência no tempo, sem passado. As lembranças estão na
construção da memória e a construção da memória é feita de lembranças.
Aqui
refletiremos as lembranças em Freud, àquilo que necessita ser esquecido, por
defesa, por falta de estrutura do ego em suportar ou rememorado pela linguagem,
pela repetição, pela alucinação, delírio. Se um pensamento não permanece
consciente por muito tempo, se é transitório em sua permanência na consciência,
retorna ao inconsciente podendo ficar latente por muito tempo, ou por toda a vida,
embora em certas circunstâncias retorna a consciência. Esse retorno dialético
passa pelo recalque, pela lei. Aqui estará o superego e as pulsões
conflituosas. É nesse conflito que revela um retorno que a paranoia será
pensada.
Escreveremos
sobre este psiquismo que na mais tenra idade está o fundamento das lembranças
que pode desencadear uma paranoia. Desde as lembranças recalcadas, vencidas as
resistências, a lei, a forma como irão se manifestar na paranoia diz respeito à
construção de relações conflituosas de afetos, seja entre irmãos, filhos e/ou
figuras parentais. Mais que isso, diz respeito à como são vividas, marcadas e
rememoradas essas experiências.
Então,
este trabalho tem como objetivo refletir sobre o papel das lembranças na
paranoia e que estatuto fornece o recalque e o que Lacan denomina como
nome-do-pai no retorno que é realizado na alucinação e no delírio. Objetiva
também contribuir na intervenção clínica com a ênfase no resgate dos traços
mnêmicos, das lembranças remotas, de um sujeito que é antes de tudo histórico.
E como Lacan (2008, p.33) irá lembrar “por sempre ter
desconhecido, na fenomenologia da experiência patológica, a dimensão dialética,
é que a clínica se perdeu”.
Consultas
realizadas na base de dados de universidades públicas e privadas do eixo Rio de
Janeiro-São Paulo-Paraná, pouco se discutem sobre a Memória-Lembranças em
psicanálise e sua articulação com os sintomas e estruturas clínicas. A academia centra-se nos estudos
nosológicos, a clínica na adequação do referencial teórico aos sintomas. Pensar
as lembranças em uma estrutura como a paranoia é refletir também sobre a
história dialética do sujeito, suas difíceis escolhas e provações. Espera-se
contribuir com a reflexão sobre o conteúdo das lembranças na construção da
paranoia e de sua expressão através do delírio, das alucinações, bem como
contribuir ao debate na saúde mental acerca da memória em psicanálise.
A pesquisa
é de caráter bibliográfico, onde foi realizado na obra freudiana o cruzamento
das categorias memória, lembranças, recalque, paranoia. E na obra Lacaniana o
estatuto da psicose paranoica e o que foi repensado de Freud com o nome-do-pai.
O caráter bibliográfico possui também a importância de caminhar nos caminhos
percorridos por esses dois descobridores da psicanálise e assim não só nos
familiarizarmos com suas incursões facilitando nossa escuta enquanto sujeito e
colocando-nos numa condução ética quanto ao nosso desejo.
Observação:
As referências bibliográficas serão publicadas com as considerações finais.
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