A relação
entre as experiências vivenciadas e os conteúdos na paranoia
Lembranças
Podemos
começar estas falas da seguinte forma: se quiser viver tem que esquecer se
quiser sobreviver tem que esquecer se quiser superar tem que lembrar. Se as
lembranças encobridoras são como o véu de Maya, que é necessário para encobrir
outra face de lembranças é possível pensar o delírio e a alucinação como uma
lembrança encobridora ou como uma lembrança. Resta saber o que é delírio e o
que é lembrança e o que encobre.
Recordar,
repetir e reelaborar através da associação livre é descobrir, o que deixamos de
recordar, pois o que entra em cena é a resistência e aquilo que a censura “não
permite” que seja recordado é realizado através do que Freud chama de atuação,
ou seja, repetimos aquilo que ainda não conseguimos recordar. Interpretar, o
que não deixa de ser uma forma de identificar nossas resistências, superá-las e
assim preencher as lacunas em nossa memória dos eventos, impressões, cenas
esquecidos, ou seja, interceptados; e que uma vez vencidas as resistências e
recordados sempre acrescentaremos
algo. Assim o valor de nossas lembranças encobridoras está no fato de
restringir o esquecimento de nossas vivências e contrabalançar o que esquecemos
em nossa idade mais remota, embora a totalidade do que é fundamental em nossa
infância é retido como lembranças. Se nunca foi consciente, nunca foi notado,
portanto não pode ser esquecido. Mas se foi esquecido houve uma dissolução das
vinculações de pensamento, as conclusões corretas não foram tiradas e as
lembranças isoladas são difíceis de serem recuperadas, pois trata-se de
experiências remotas, que não foram compreendidas quando ocorreram, mas que na
sequencia são compreendidas e interpretadas. Mas o recordar não se dá somente
pela palavra. Muitas vezes não recordamos coisa alguma de nossas experiências
passadas, mas expressamos pela atuação ou atuando, seja na vida em vigília ou
através dos sonhos em sono.
É o que
Freud (1911-1913, p. 165) fala “reproduz não como
lembrança, mas como ação; repete-o,
sem, naturalmente, saber que o está repetindo”. Assim compulsão, repetição é uma
transferência do passado esquecido o que irá se repetir na relação
transferencial. Então a repetição substituirá o recordar quanto maior for a
resistência, (Freud 1911-1913 p.167) “repete tudo o que já
avançou a partir das fontes do reprimido, suas inibições, suas atitudes inúteis
e seus traços patológicos de caráter, seus sintomas”, medos, atitudes, que evoca fragmentos
na vida real, por onde repete. São fragmentos de história, que constitui a
personalidade, que tem razões para existir e com as quais se precisa
reconciliar. Através do recordar, repetir põe-se a nu os inimigos internos, ao
alcance para serem reelaborados. Para
Freud o despertar das lembranças podem dar-se através das reações repetitivas
enquanto resistência, que só é possível de ser elaborada na medida em que o
sujeito se familiarize com a resistência, ou seja, a repetição. Há que lembrarmos que o manejo da
transferência é transformar a compulsão em um motivo para recordar.
O
esquecimento das lembranças, ou a retenção na memória de forma incompleta, ou
omitida, dos tempos remotos são modificações realizadas através de árduo
trabalho, onde há gradativamente um debilitamento afetivo, para que os
processos inconscientes possam ser abordados. É assim que o inconsciente se coloca
sob o domínio do pré-consciente e o grau de nossa normalidade psíquica é
estabelecido. Lacan (2008, p. 180) nos fala dessa ressurgência de impressão,
que é a restauração de lembranças e que se organiza na continuidade histórica
como uma reminiscência.
Observação:
As referências bibliográficas serão publicadas com as considerações finais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário